E quem diria que a folha-de-boldo, aquela que muitos transformam em chá depois de exageros na noite anterior, iria parar no drinque? A erva de gosto amargo fica ótima no Porto Chileno, servido no Arp, restaurante do hotel Arpoador. A criação da mixologista Néli Pereira tem surpreendido a turma que gosta de apostas inusitadas. “Para essa carta, parti da diversidade dos biomas brasileiros. Busco sempre apresentar ingredientes pouco utilizados na coquetelaria, como boldo, fava-de-aridan e castanha-de-baru. É um bar voltado para as infusões de cascas e raízes, como se fossem garrafadas medicinais”, comenta Néli.
O boldo é só uma entre várias folhinhas diferentes que compõem receitas das bebidas que estão dando cara nova e surpreendente aos balcões da cidade. No Garoa, que agora tem endereços no Leblon e em Ipanema, há uma coleção de ervas na carta de bebidas. Apenas no Nossa Vitória entram sálvia, brotos de coentro e de salsa, além de folhas de limão. Junte esse buquê com gim, saquê, mel de agave, licor da casa, cava, pó de cardamomo, uma rodela de limão-siciliano desidratado e, pronto, está finalizado. “Recebemos as ervas duas vezes por semana para que as folhas estejam sempre fresquinhas, com seu sabor máximo. A minha inspiração para tal opção foi a rainha Vitória, da Inglaterra, que vivia em um castelo com jardins repletos de condimentos e temperos”, conta o mixologista Daniel Estevan, que escolheu como fornecedor os Orgânicos da Fátima.
O uso desses verdinhos em bebidas rende possibilidades de apresentações que os mixologistas estão adorando. Copos cobertos por especiarias, grampinhos prendendo pequenos arranjos, folhas pousadas nas taças... Então, já sabe: além de uma hortinha, é preciso ter apetrechos para montar apresentações bacanas.
O barman Daniel Milão, do Julieta Bar, na Praia do Flamengo, conta que o visual do drinque Bouquet chama a atenção no salão. “A experiência de um coquetel começa com o visual, usei a parte de fora da taça para colocar as ervas da Provence. A ideia foi criar um drinque sensorial, onde é possível sentir o aroma das ervas em cada gole da bebida”, explica ele.
Em Copacabana, o asiático Toruk criou o Iwasaki, opção perfumada feita com canela defumada, lichia, chá de hibisco, limão e saquê. O legal é maçaricar a canela e já espalhar o aroma antes de servir para mexer com todos os sentidos.