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Dyogo Oliveira deve permanecer no BNDES pelo menos um ano. O que pesa contra ele é já ter trabalhado em governos petistas |
Quem espera mudanças nos rumos da política econômica ou nos personagens que a conduzem a partir de janeiro pode acabar frustrado. Vários integrantes da equipe do presidente Michel Temer tendem a continuar exatamente onde estão caso vença a eleição Jair Bolsonaro (PSL), que, no momento, lidera as pesquisas de intenção de voto com folga. Alguns desses técnicos são muito bem-vindos e não vão precisar fazer muito esforço para isso. Outros estão empreendendo uma verdadeira guerra para garantir um lugar ao sol no próximo governo.
Paulo Guedes, o guru econômico do capitão reformado do Exército, já falou do desejo de deixar no cargo o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn — nesse caso, a aprovação da permanência é unanimidade no mercado. Guedes já demonstrou simpatia pública também pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto de Almeida. Mas a lista de nomes é bem mais ampla. Segundo um analista de mercado, o responsável pela área econômica da campanha de Bolsonaro “já avisou que quer que praticamente a turma toda fique”.
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Cafarelli, presidente do BB, é um dos que querem se manter e colaborar |
O presidente do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, é um dos que querem permanecer. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira, já sabe que deve ficar pelo menos um ano no cargo. Guedes o visitou na sede da instituição, no Rio. Caffarelli e Oliveira já ocuparam cargos importantes nas administrações petistas, o que atrapalha um pouco a escolha.
Caffarelli foi secretário executivo do Ministério da Fazenda na gestão de Guido Mantega. Oliveira foi secretário executivo adjunto antes, quando o cargo era ocupado por Nelson Barbosa, que mais tarde deixou o governo e voltou como ministro. Mansueto leva vantagem nesse caso: ele assessorou o PSDB em 2014 quando Aécio Neves disputou a Presidência e só passou a integrar o governo com Temer. Não trabalhou com os petistas.
MemóriaO assessor econômico da Fazenda Marcos Mendes vem fazendo várias gestões para ser incluído na lista dos que ficam, mas nesse caso não há avaliação ainda da equipe do PSL quanto à conveniência da escolha. Já o nome da atual secretária executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, é altamente bem-visto por Guedes, no cargo atual ou em outro. Ela esteve no Ministério da Fazenda entre 1997 e 2007, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, em cargo de terceiro escalão. Depois, foi para o governo do Espírito Santo. Só voltou para a Fazenda com Temer.
Vescovi pode ser fundamental para ajudar a equipe a superar um dos maiores desafios: tomar pé da situação do país e da máquina pública novamente, de modo a ter controle da situação rapidamente e começar a formular novas políticas públicas. Algo que tende a tornar essa tarefa bem mais complexa é o fato de que o candidato do PSL pretende, se eleito, fundir as pastas da Fazenda e do Planejamento, algo que foi feito anteriormente no governo de Fernando Collor de Mello, no início dos anos 1990.
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Mansueto Almeida, do Tesouro, leva vantagem. Esteve com o PSDB |
Até mesmo o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles é lembrado. Se Guedes se desentender com Bolsonaro, pode valer o “Chama o Meirelles”, slogan da campanha do presidenciável do MDB, derrotado no primeiro turno.
As conversas e disputas não incluem apenas a administração das contas públicas. O secretário executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, gostaria de continuar no cargo. As chances dele aumentaram depois que surgiram dúvidas em relação a um nome que era considerado quase certo para a vaga: Luiz Antônio Nabhan, presidente da União Democrática Ruralista (UDR) e bolsonarista de primeira hora. O problema é que outros integrantes do agronegócio também reivindicam o cargo. Para não desagradar um ou outro, a solução pode ser escolher Novacki.
Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, a manutenção de nomes da equipe econômica é altamente positiva. “Só não seria se fossem pessoas que já estivessem há muito tempo nos cargos, o que não é o caso”, explica. Na avaliação do economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, a equipe econômica atual “é uma das melhores que já passou por Brasília”, o que justifica que fiquem no novo governo. “Além da competência, é muito importante o fato de que eles têm memória”, o que faz com que não seja necessário começar a discutir propostas do zero. “O mais importante é a reforma da Previdência, que precisa ser aprovada logo pelo Congresso”, destaca.