RIO - Eles parecem ter se multiplicado nas últimas semanas. A pé, de bicicleta ou de moto, estão sempre prontos para cumprir a próxima missão. Em tempos de quarentena, os entregadores ocupam as ruas com a heroica tarefa de garantir a chegada de comida, remédios e outros itens essenciais às casas daqueles que podem cumprir a recomendação de isolamento social feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para frear o contágio pelo novo coronavírus.
Técnica em segurança do trabalho, Fernanda Honorata, de 33 anos, ficou desempregada há um ano e passou a fazer entregas. Para se prevenir, além de sempre usar álcool gel, ela tira a roupa do trabalho no quintal e toma banho antes de entrar em casa:
— Meu maior medo é levar esse vírus para casa. Meu filho tem bronquite, e minha mãe está com 80 anos. Fiquei uma semana em casa, mas já estava sem dinheiro até para o pão.
Morador de Ricardo de Albuquerque, Rian Pereira, de 25 anos, só sai de casa porque precisa trabalhar e lamenta por ver pessoas desrespeitando a recomendação de isolamento social mesmo sem necessidade:
Depois de quatro meses desempregado, Alon Jones, de 40 anos, finalmente conseguiu uma vaga como garçom em um restaurante no Leblon. Mas as medidas de combate à Covid-19 adiaram a contratação, e ele recorreu às entregas por aplicativo para sobreviver:
— Estou fazendo isso por necessidade. Eu fico exposto, e é perigoso ficar andando de bicicleta o dia inteiro, mas é o que tem — lamenta o futuro garçom.
Como entregador de um mercado, Paulo Roberto Bernardes, de 21 anos, tem trabalhado de máscara e luvas por determinação da chefia do estabelecimento, e se sente mais seguro assim. Mas a precaução, às vezes, assusta alguns clientes:
— A gente não tem escolha. Faço muitas entregas aqui em Copacabana e no Leme. Não sabemos quem está doente, e também preciso me prevenir. É arriscado.
E no meio dessa correria, um remédio ajuda a aliviar a pressão dos “anjos do asfalto” e não tem contraindicação: a solidariedade. “Vai dar tudo certo”. A frase otimista estava na mensagem de agradecimento que um entregador enviou em retribuição ao gesto que a socióloga Tatiana Ruediger, de 30 anos, teve no último domingo. Após ver iniciativa semelhante numa rede social, a moradora de Laranjeiras, na Zona Sul, fez um pedido num mercado, através de uma plataforma de delivery, com um valor aberto, de R$ 50 a R$ 100. Em seguida, avisou ao entregador que ele deveria usar aquele valor para algo que precisasse, como alimento ou item de higiene.