– Doutora, na verdade estou cansada do Renato, me abusei da vida casada. Casei-me cedo aos 21 anos, hoje com 28 ainda me sinto jovem, meu marido passa a noite em casa assistindo novela e jogo de futebol. Sem filhos, minha vida é um tédio, acabou a alegria do casamento. Quando fazemos amor é burocrático, obrigatório. Confesso, já tive vontade e oportunidade de traí-lo, entretanto, não faz minha cabeça, tenho forte sentimento de respeito, quero apenas meu marido como era antes. Oriente-me, por favor!
A doutora Fernanda da Silveira olhou para Maria Alice, pigarreou discretamente, com fala bem compassada deu sua opinião.
– Minha querida, você está passando pela crise dos sete anos, todo casal tem esse problema. Está na hora de temperar esse casamento, a cama é ótima para reorganizar uma vida a dois. Faça uma surpresa, no fim de semana você convida o marido para assistir a um bom filme, alugue um com cenas quentes de sexo. Compre três garrafas de bom vinho, vista um lingerie sensual, e vamos ver no que dá.
Um mês depois Alicinha retornou radiante, satisfeita da vida.
– Doutora foi um santo remédio, não havia acabado a segunda garrafa de vinho, nem terminado o filme, nós já estávamos abraçados no tapete, tudo como antigamente. Renato adorou, no sábado ele saiu para escolher o filme, a senhora salvou meu casamento. Ele está interessadíssimo, comprou até o Kama Sutra para praticarmos posições durante as sessões de cinema.
Passaram-se alguns meses, Maria Alice retornou à psiquiatra. Entrou nervosa.
– Doutora, desde aquela época nós estamos praticando experiências novas na cama, coisas que jamais pensei fazer, eu adorando. Acontece que Renato me perguntou se eu já tinha ouvido falar em swing, eu pensava ser um ritmo de música. Ele sorriu e explicou: “Existe aqui no Rio de Janeiro o Clube de Swing, entretanto, não é para dançar, esse swing é a troca de casais. Os casais se encontram conversam, bebem, quebram o gelo, depois cada qual arrasta a mulher do outro para o motel. Quando termina é como nada tivesse acontecido.” Continuou: “Nós dois já fizemos todas as experiências que imaginávamos. Será que você toparia fazer essa novidade?” Eu fiquei chocada, sem saber responder. Não é um procedimento correto, ético, mesmo que o casal esteja em crise conjugal. Comecei a achá-lo um grande salafrário, me trocar, saber que eu vou com outro homem que mal conheço. Isso é degradante. Que decepção. Estava tão bom o Kama-Sutra, me ajude doutora.
– Querida Alicinha, para algumas pessoas a traição é relativa, é o caso de seu marido aceitar a troca de casais, já para você é inconcebível pela sua formação moral, intelectual e ética. Embora eu seja sulista, conheço bem os padrões rígidos da educação nordestina, porém, a decisão é sua. Nada posso aconselhar. Faça o que seu coração mandar.
Na sexta-feira à noite Renato voltou a insistir no swing. Era a evolução dos costumes, dos casais modernos. Alice constrangida, com o coração apertado aceitou a proposta, só para satisfazê-lo. Foram ao Clube do Swing, tomaram uma mesa, pediram uísque, Alicinha nervosa e chateada. Logo apareceu um casal pedindo para sentar. Muita conversa, Renato estava radiante quando viu a bela mulher da troca. O marido também era um cara bonito. Beberam muito, conversaram, sorriram, até que chegou a hora da troca. Alice com o coração aos pulos. Ao entrar no quarto do motel ela caiu no choro, pediu desculpas ao parceiro, não quis de jeito nenhum. O parceiro educadamente mandou-a continuar chorando, compreendia, era a primeira vez. Ele foi elegante não se sentiu ludibriado. Levou Alice para seu apartamento em Copacabana.
Ela agradeceu ao cavalheiro. Em casa ficou contemplando o mar, pensando. Três horas depois chegou Renato satisfeito da vida, perguntando. Que tal? Gostou? Alice teve nojo do marido, vontade de jogar-lhe um vaso na cara. Cansado ele vestiu o pijama e deitou-se. Enquanto o marido dormia, ela arrumou três malas, tomou um taxi para o aeroporto. Pegou um avião, retornou para sua querida cidade.
Ficou um tempo no apartamento dos pais que lhe deram todo apoio. Alicinha está solteira e feliz, é vista nos bares bem frequentados pelas mulheres mais descoladas da cidade. Vez em quando, em seu pequeno apartamento, ela oferece um bom vinho a algum parceiro, assistindo a um bom filme. Outro dia Renato telefonou, ela foi taxativa, jamais voltará. Ele quis saber em que momento ela decidiu a separação e viajar de repente. Alice respondeu simplesmente. “Enquanto você dormia.”