Certa feita, no Recife, num evento de plateia cheia, uma senhora, na ânsia de ressaltar os talentos da terra, enumerava alguns dos nossos cérebros mais notáveis. E os citava com uma vibração incomum, maior ainda pela presença de autoridades de renome nacional: – Minha gente, precisamos conhecer nossos valores maiores, Fulano, Beltrano, João Cabral de Melo Rosa!. No que o auditório, em uníssono, corrigiu, com um Neto que ecoou até depois da entrada do edifício, fazendo um amigo meu, cultura da boa, soltar um “ui” retrato fiel de um chute nos bagos.
No atual cenário brasileiro, onde se busca sucesso através da difusão de vulgarizações sem uma mínima criatividade, numa linguagem que envergonharia o finado Costinha e deixaria corada até a saudosa Dercy Gonçalves, duas novas entidades refletem o atual grau de mendicância de setores anteriormente dotados de maior credibilidade por parte dos segmentos comunitários: as Emgovs e os Brincantes.
Integram as Emgovs – Embromações Governamentais, as obras inacabadas, os desplanejamentos educacionais, os menosprezos para com os medicamentos de idosos e deficientes, as fiscalizações PREVENTivas que não detectam nem punem as maracutaias praticadas, as estruturas policiais de salário mínimo, os cursos superiores de Primeiro Grau, alguns eventos MBAs (Merda e Bosta Associadas) promovidos por entidades caça-níqueis, as propagandas e comunicações engabeladoras, os mil e um disfarces da burocracia e as iniciativas que apenas descidadanizam praticadas pelo Governo Federal, inclusive as de ministrecos com contas bancária no exterior.
Já Brincante, usando aqui a terminologia dos folguedos populares, pode ser considerado todo aquele que, dirigindo um empreendimento, leva sua tarefa sem qualquer responsabilidade social, pouco se lixando para um assustador distanciamento entre os que possuem quase tudo e aqueles que não sabem se poderão comer no dia de amanhã, num mundo onde a disparidade de renda entre países ricos e pobres, que em 1820 , era de 3 para 1, alcança 95 para 1 nos dias atuais. Os Brincantes, entusiasmados apenas com seus momentos de alienação, menosprezam a “grande batalha ética pela definição dos valores que deveriam orientar o futuro de nossa população planetária”.
Os Brincantes, responsáveis também pelas Emgovs que vilipendiam a dignidade nacional, não percebem a chegada de novos tempos pós pandemia, onde uma sociedade civil exigirá o direito de ninguém ser definido pelo nascimento, pelo sexo, pela cor da pele, pelas preferências sexuais, pelo sobrenome da família, pela profissão ou pela aparência. Tampouco pelos documentos de identidade, diplomas, passaportes, carteiras de motorista e cartões de crédito, títulos de propriedade e contas bancárias, nunca sendo indevidamente utilizadas as condições de parente, militante, amigo, compadre, cupincha e companheiro.
As Emgovs e os Brincantes estão com os dias contados. Mais dia ou menos dia, eles encontrarão o repúdio de uma sociedade, sendo expurgados pelas urnas e pelas manifestações públicas. Amplia-se o clamor por um país mais humano e distributivo, onde terra, água, saneamento, educação, transporte, segurança, trabalho, renda e serviços jurídicos sejam direitos consagrados, numa estrutura ética, onde a nunca-exclusão seja o lema maior de um desenvolvimento social que beneficie todos os brasileiros.
Só depende de nós…