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Partidários de Guaidó e do regime chavista discutem diante da missão diplomática: 12 horas de tensão
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Policiais militares guardam a entrada do edifício: incidente começou ao amanhecer, com a entrada dos invadores
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No dia em que Brasília foi palco para a abertura da cúpula do Brics, com quatro chefes de Estado visitantes, a Embaixada da Venezuela transformou-se ontem em cenário para mais um capítulo das desavenças entre o governo chavista de Nicolás Maduro e o presidente Jair Bolsonaro, que reconhece o líder oposicionista Juan Guaidó como chefe de Estado interino do país vizinho. Por volta das 4h30 de ontem, um grupo de venezuelanos e brasileiros que integram a representação de Guaidó no Brasil conseguiu entrar na missão diplomática e ocupou parcialmente o local por mais de 12 horas, até se retirar, no fim da tarde, ao fim de negociação com o Itamaraty. O regime de Caracas denunciou o “ataque”, criticou a “passividade” do policiamento e reponsabilizou as autoridades brasileiras pela integridade das instalações e do pessoal. Bolsonaro condenou a ação, inicialmente apoiada pelo filho deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e anunciou as “medidas necessárias” para restabelecer a normalidade.
“Denunciamos que as instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”, tuitou o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza. O encarregado de negócios da embaixada, que está sem titular desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, desmentiu a embaixadora designada por Guaidó, María Teresa Belandria, que alega ter recebido o chamado de funcionários da missão que teriam “mudado de lado” e decidido reconhecer o presidente interino. “Não sabemos como eles entraram aqui pela porta de acesso e saída da embaixada. Tem um veículo que não sabemos de quem é e está dentro do território venezuelano de forma ilegal. Estamos sofrendo uma invasão. O que está acontecendo é muito grave”, protestou Freddy Meregote.
Em nota, a representante de Guaidó, que é reconhecida como embaixadora pelo governo brasileiro, afirmou que a situação foi comunicada ao Itamaraty desde o primeiro contato que recebeu dos supostos funcionários da embaixada. “Eles começaram a abrir as portas e entregar voluntariamente a sede à representação diplomática legitimamente credenciada no Brasil”, diz o texto. Falando a uma emissora de tevê venezuelana, Beliandra disse que o processo estava “em negociação”. “O governo do Brasil terá de tomar as decisões que considerar melhores para os interesses do Brasil e salvaguardar a sede diplomática nas mãos de pessoas legitimamente reconhecidas.”
DesencontrosEm meio aos esforços da diplomacia brasileira para manter a crise na Bolívia fora da agenda do Brics, a invasão da Embaixada venezuelana entrou em cena como mais um foco de diferenças entre o governo Bolsonaro e os da China e da Rússia — ambos próximo tanto de Evo Morales quanto de Nicolás Maduro. No começo da tarde, pelo Twitter, o presidente repudiou “a interferência de atores externos” e garantiu ter ordenado a adoção de medidas “para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”.
A manifestação de Bolsonaro se seguiu a uma nota na qual o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência classificou como “inescrupulosas e levianas” versões de que o governo teria apoiado a ação dos grupo pró-Guaidó. “O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”, afirma o texto. “As forças de segurança, da União e do Distrito Federal, estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade.”
Tanto o presidente quanto o GSI desautorizaram, na prática, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Mais cedo, também pelas redes sociais, ele tinha manifestado apoio à ocupação da sede diplomática venezuelana pelos simpatizantes de Juan Guaidó. “Nunca entendi essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela, por que a embaixadora Maria Teresa Belandria @matebe, indicada por ele, não estava pessoalmente na embaixada?”, questionou o parlamentar. “Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo.”
Bate-bocaDesde a manhã e por toda a tarde, a área diante da embaixada foi cenário de confrontação entre partidários de Guaidó e do governo chavistas. Atendendo ao chamado do encarregado de negócios, parlamentares do PT e do Psol se somaram a ativistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e outras organizações sociais para denunciar a invasão do prédio. O líder petista, Paulo Pimenta (RS), confirmou que os ocupantes pularam o porttão para ter acesso à representação. “Aqui, além da parte administrativa, funciona também a ala residencial, onde residem vários funcionários da Embaixada, com os familiares, e foram surpreendidos durante a madrugada”, relatou. Segundo Pimenta, o grupo bloqueou as entradas. Acompanharam a crise e as negociações também os deputados Glauber Braga (PSol-RJ) e Érika Kokay (PT/-F).
Enquanto persistia o impasse os grupos de manifestantes trocavam insultos, como “Guaidó fascista”e “Guaidó narcotraficante”. Em cartazes improvisados, os defensores de Maduro escreveram lemas como “Fora, milicianos” e “América latina livre”, entre outras.
“As instalações de nossa embaixada em Brasília foram invadidas à força ao amanhecer. Responsabilizamos o governo brasileiro pela segurança de nosso pessoal e das instalações”
Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela
“O presidente jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão”
Nota do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República
“Se o Brasil reconhece (Juan) Guaidó como presidente, por que a embaixadora indicada com ele não estava
na embaixada? Ao que parece, agora está sendo feito o certo, o justo”
Flavio Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão