ELINO JULIÃO E O RABO DO JUMENTO
Raimundo Floriano
Elino Julião
(13.11.1936 – 20.05.2006)
No dia 20 de maio de 2016, fez 10 anos que Elino Julião tomou suas últimas providências. Desarmou a rede, arrumou a trouxa, emalou a sanfona, jogou tudo na carroceria do caminhão, entrou na boléia, ligou a ignição e deu início à última jornada, à viagem sem volta, à viagem sem frito. No caminho, outros forrozeiros da década de 50 foram pegando carona. Caso de Manoel Serafim, há dois meses, e Marinês, no dia 14 último. Trio nordestino de calibre esse daí!
Lá, na outra dimensão, foram realizar majestoso festival, comandados pelos grandes criadores do Forró, essa música que incorpora e interpreta toda a alma e todo o sentimento do povo do nordeste brasileiro: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo.
Você, meu camarada, que vê televisão todos os dias, assistiu a algum noticiário em qualquer emissora dando conta da partida para a eternidade desses três personagens? Não assistiu? Nem o Penca, nem o Lenca! Para tentar amenizar tanto descaso, para reavivar suas memórias, aqui está o Jornal da Besta Fubana, que lhes dirá algo deles e mostrará pequena parcela do seu trabalho.
Já lhes falei de Manoel Serafim e de Marinês. Agora, chegou a vez de Elino Julião.
A grande mídia sempre passou batida para Elino. Compositor com peças gravadas pelos principais forrozeiros pés-de-serra do Brasil, a começar por Gonzagão e Jackson, passando por Elba Ramalho e outros jovens cantores, nunca teve suas obras relacionadas à sua pessoa, mas sim ao nome dos intérpretes.
Mulher de Verdade, é a meu ver, é verdadeiro hino de amor da mulher que sabe perdoar seu homem. Madre Superiora Neide, da Igreja Sertaneja, adoooora este rojão:
Minha mulher gostava quando eu lhe batia
E quanto mais ela apanhava, mais ela dizia
Bata nêgo, pode bater
Bata com força, que eu não sinto doer
Pode bater com as duas mãos nessa nêga que é sua
Começa dentro de casa e termina no meio da rua
Se alguém vier reclamar não dê atenção
Bata com força, nêgo do meu coração
Bata nêgo, pode bater
Bata com força que eu não sinto doer
Não se incomode que a vizinha lhe chame de biriteiro
E que você não dá dinheiro pra comprar o pão
Tenho satisfação, sou mulher de verdade
Nêgo, por caridade, deixe de bater não
Aquela bendita rede deu o que falar. Namorador inveterado, não podia ver um rabo-de-saia, que ficava peneirando no ar e caindo em cima feito gavião faminto. Mas sua rede exigia respeito. Era a garota trastejar, e ele sentenciava:
– Na minha rede, não! Arranje outra rede, ou vá dormir no chão!
Seu hipotético caminhão servia-lhe apenas de pretexto à paquera:
– Não há quem resista, ser motorista sem ter um amor. Me falte gasolina, mas não me falte uma menina, que eu morro de dor!
Pelo visto, lá um dia, achou a forma do pé:
– O pai da Grabriela tem razão. Eu vou casar com ela, é minha obrigação!
Tomei conhecimento de Elino Julião em 1976, ao ouvir pela primeira vez Rabo do Jumento, xote que me transportou imediatamente a meu sertão. Sei que todos já o ouviram, mas sei também que é bom recordar.
Para vocês pequena amostra de seu trabalho.
Rabo do Jumento, xote de Elino e Dilson Dória, participação especial de Lenine:
Mulher de Verdade, rojão de Elino e Severino Ramos:
Tem Amor Demais, baião de Elino e Zezinho Silva:
Tamarineira, arrasta-pé de Elino e João Machado:
O Pai de Gabriela, rojão de Elino e José Jesus, na voz de Jackson do Pandeiro: