Era para ter sido em setembro de 2021, em São Paulo. Mas agentes da Anvisa interromperam o jogo aos 6 minutos alegando descumprimento do protocolo de prevenção à Covid por parte dos visitantes, e o Brasil x Argentina foi anulado. Com isso, a última vez que os dois se enfrentaram em solo nacional pelas Eliminatórias segue sendo a vitória maiúscula por 3 a 0 dos donos da casa, no Mineirão, em 2016. O recorte de lá para cá é didático sobre a inversão de forças. O clássico das 21h30, no Maracanã, é o primeiro após o título mundial dos hermanos. E pode deixar a seleção verde e amarela — veja só — fora da zona de classificação direta à Copa.
Os momentos são totalmente opostos. Mesmo em lua de mel pela conquista da Copa do Catar, os argentinos lideram as Eliminatórias, veem Messi atuando ainda em alto nível e contam com um treinador que já conquistou seu espaço e sua autoridade.
Já a seleção brasileira, que chegará a 24 anos sem título mundial, atravessa sua fase mais turbulenta no século: perdeu metade dos oito jogos no ano, vem de três partidas sem vitória nas Eliminatórias (sendo duas derrotas seguidas) e é a quinta na tabela. Precisa conviver com as ausências de Neymar por lesão e, depois de passar o primeiro semestre sem treinador efetivo, conta com Fernando Diniz até junho de 2024 — sem a certeza de quem assume depois.
Uma análise na trajetória das duas seleções desde aquele 3 a 0 no Mineirão ajuda a entender a troca de papéis nestes sete anos. Como, em termos de organização, AFA e CBF não se diferenciam muito (ambas são conhecidas pelas decisões questionáveis que tomam), as razões se concentram, basicamente, no campo.
Após a Copa da Rússia, em que sua participação foi marcada pela falta de sintonia entre comissão técnica e elenco, a Argentina encontrou em Scaloni a figura que pôs fim ao longo rodízio de treinadores (oito entre 2004 e 2018). O trabalho começou questionado pelos resultados oscilantes (incluindo a campanha irregular na Copa América 2019, em que caiu nas semifinais para o Brasil). Mas a atuação já era promissora.
O título da Copa América 2021, na final contra o Brasil, representou o selo de confiança no treinador (que viria a ser peça importante do título mundial) e, mais importante, tirou o peso dos 28 anos sem conquistas das costas dos jogadores. Principalmente Messi.
A comparação entre o craque argentino e Neymar também é didática. Enquanto o oito vezes melhor do mundo passou longe das lesões graves, o principal jogador brasileiro virou uma ausência constante. Só neste período, foram cinco contusões sérias. Somados os tempos de recuperação, ele passou 16 meses sem atuar nos últimos sete anos.
Só que, enquanto o técnico do Real Madrid não confirma o acerto, a seleção patina no começo de Diniz. E a torcida sofre com a falta de confiança no presente e no futuro. Resta a esperança de que o encontro de hoje promova nova guinada. Desta vez, a favor dos brasileiros.