Raimundo Floriano
Eliezer Setton no palco
Pronuncia-se Eliezér Settón, rimando com Simón!
Essa cabra anda dizendo por aí, em todo o lugar, que é meu amigo. E, de tanto repetir, eu vou acabar acreditando. Amigo, muitas vezes, é aquele que assim se considera, como esse índio velho tá fazendo.
Conheci-o na Academia Passa Disco da Música Nordestina, na festa de minha posse na Cadeira nº 10, tendo como patrona a cantora Elba Ramalho.
Estava eu já de saída, quando ele se aproximou e, sem se apresentar, me perguntou sobre alguma música da qual, devido à minha quase total surdez, não entendi o nome. Pensei: viche! Taí mais um roqueiro querendo perturbar. Eu disse roqueiro e repito, roqueiro mesmo desses metaleiros barbudos, muito responsáveis pelo meu atual estágio de moucura. Para livrar-me ligeirinho, falei-lhe, tirando o corpo fora: não conheço a música! Sou forte mesmo é em Carnaval Antigo, Forró, Velha Guarda e Música Militar. Quando acabei de falar, o sujeito se avermelhou, se isso é possível para um coradão do tipo dele, e me interrogou com ênfase:
– Militar! Você disse militar!
Ponto, tô preso! Foi só o que pensei!
Sustentei a palavra. E ele, para me testar jogou por cima de mim um imenso questionário oral sobre os compositores da música castrense. Começou com Antônio Manuel do Espírito Santo, autor de Avante Camaradas, Bombardeio da Bahia e Cisne Branco, e foi em frente, citando títulos e mais títulos. A certificar-se do meu conhecimento sobre o assunto, falou-me do seu projeto de lançar um CD com o título Hinos à Paisana, interpretando as principais peças oficiais com uma nova roupagem, fazendo-as mais palatáveis aos ouvidos do público em geral. Quase não me deixou ir embora.
Daí, surgiu essa propalada amizade, da qual muito envaideço.
Como tenho dito e espalhado, naquela festa conheci a nata da cultura musical nordestina. Não só de Pernambuco, mas de todo o cenário forrozeiro do Brasil. Eliezer, por exemplo, é de Maceió.
Vim-me embora achando que tudo nele era só papo-furado. Porém, logo fiquei com cara de tacho. Ele é um grande pesquisador, produtor, compositor e agitador cultura, o que só comecei a saber depois de ouvir o CD Balaio de Amor, que Elba lançara na minha posse, onde consta uma bela composição sua, o xote romântico D’Estar.
As surpresas não pararam de avolumar-se. Ontem, ele lançou aqui no JBF sua linda composição Natal Nordestino! Arrasou! Vi no YouTube a interpretação por um coral de jovens, com cada lapa de mulher arretada, dessas morenas tesudas, com marca de biquíni nas partes descobertas!
Agora, para comprovar o que anda dizendo, recebi dele a promessa de vir ao meu Palácio Cardinalício, para conhecer minhas coleções e também para presentear-me com o Hinos à Paisana. Na ocasião, pretendo admiti-lo como Padre no disputadíssimo Clero Sertanejo, caso ele assim o aceite.
O futuro Padre e o Cardeal
Promessa é dívida, seu Eliezer! Tô esperando!
Bom, aparecer aqui, ele nunca apareceu mesmo. Isso fisicamente, porque, ainda em 2009, coma realização de seu ambicioso e patriótico projeto, ele me enviou um exempla do CD Hinos à Paisana, cujas capar e contracapas lhes mostro:
Além de apresentar nossos hinos oficiais de uma forma bem palatável desertando nos jovens a vontade de entoá-los e reverenciar nossos símbolos mais legítimos, apresenta-nos o Hino Nacional Brasileiro, com introdução cantada que, embora não oficializada, é uma curiosidade cuja perspicácia do Eliezer foi buscá-la no fundo do baú do esquecimento. Eis sua letra:
Para que vocês guardem essa “novidade” de cor, aqui vai o áudio completo, a bela interpretação do Eliezer:
Hino Nacional Brasileiro, música de Francisco Manoel da Silva, letra de Osório Duque Estrada e introdução de Américo de Moura Marcondes de Andrade: