Bairro da Madalena, Praça João Alfredo, Recife
Homero de Carvalho, conhecido como “Mergulhão” foi um dos tipos pitorescos do Banco do Brasil-Recife. Homem bastante estranho. Caladão, fisionomia fechada, alto, forte, de boa saúde e sólida condição moral, não gostava de piadas nem palavrões.
A título de exercício, quase todos os dias, vestia seu macacão tipo “Shazam”, calçava suas alpercatas de couro e se mandava a pé da Madalena, onde residia, até o bairro do Rio Branco, onde trabalhávamos. Um estirão de quase 12 km.
Chegava mais suado do que tampa de chaleira. Entrava no chuveiro, depois se vestia como o Banco exigia: camisa branca e gravata. E iniciava seu trabalho com disposição de um jovem.
Entretanto, um dos pontos chamavam a atenção em seu modo de trabalhar, pois “especialista” numa antiga máquina de registrar o livro “Diário de Contas Correntes”. Era uma estrovenga manual que recebia enormes fichas, entremeadas por um papel-carbono, sendo acionada por enorme veio manual. Só esse “exercício” dispensaria o esforço que ele fazia quase todos os dias andando de sua casa até o Banco.
Entretanto, conhecedor da CLT, tinha o hábito de dar uma “parada estratégica” a cada 60 minutos, a fim de repousar, aproveitando o que a legislação facultava a tais trabalhadores. Nesses intervalos ficava na janela fazendo exercícios respiratórios e apreciando o movimento dos navios no porto.
Intelectual, dono de linguajar escorreito, dominando bem o vernáculo. “Mergulhão”, mesmo no trato normal com os colegas, usava palavras empoladas. Conversar com ele era um suplício porque gostava de nos deixar embatucados, sem saber o significado de algumas palavras que proferia.
Certa feita, ao chegar, suado e ofegante, contou a José Canuto uma história que lhe impressionou.
– Meu amigo Canuto, estou estupefato! Ao raiar da manhã, quando o Rei dos Astros, se apresentava já ofuscante, pronto para viver as sendas comuns da vida, preparei-me para a caminhada até a gloriosa instituição onde labutamos e ao passar pelo quarto de meu filho, Alvinho, esbugalhei os olhos diante do que vi na porta entreaberta.
Surpreendido fiquei estatelado. Deparei-me com meu descendente sentado na cama, sem roupa, movimentando, em compassos alternados, seu membro viril, com os globos oculares fixos numa revista de imagens inadequadas à sua idade, onde se viam mulheres despidas.
E “meu menino”, com a face mergulhada na gravura de u’a bela dama que se mostrava com protuberantes seios, ele em plena tesão dos seus 14 anos, feito um desvalido, ejaculava numa “solitariedade” de dar pena.
E diante de minha inusitada presença o adolescente deu um grito após o espirro do esperma que ganhava as alturas:
– Pai, vai embora, que eu tô gozaaaaando!…
– Meu filho, nunca pensei que você ejaculava a esmo!…