“No lombo do meu boi, tem um céu todo estrelado;
Ferro em brasa não encosta, meu boi é mimoso;
Meu boi é mimado.”
Começam os folguedos do bumba-boi do Maranhão
Desde o último domingo do mês de maio (28), muita coisa mudou no Maranhão. É assim que acontece todo ano, quando tem início a temporada junina, a maior atração turístico-cultural do Estado, aliás (a manifestação), tombada como Patrimônio Cultural do Brasil.
Se não existisse o sol – Boi da Maioba – Uma História de Amor
“Se não existisse o Sol
Como seria pra Terra se aquecer
Se não existisse o mar
Como seria pra natureza sobreviver?
Se não existisse o luar
O homem viveria na escuridão
Mas como existe tudo isso meu povo
Eu vou guarnicê meu batalhão de novo.”
Numa verdadeira e grande mistura de ritmos – Bumba-boi, com mais de cinco variações orquestrais, Tambor de Crioula, Cacuriá – que iluminam e renovam as praças e terreiros das brincadeiras juninas, São Luís se transforma no maior Centro Cultural Latino-Americano, recebendo centenas de milhares de turistas de todas as regiões brasileiras.
Como a violência urbana também se espraiou Brasil à fora, as brincadeiras ganharam ares cosmopolitas e passaram a se apresentar, também, nas áreas dos shoppings centers espalhados pelos bairros – numa ilusão de que, assim, os dançarinos, brincantes e apreciadores estarão mais seguros.
“Esqueça aqueles momentos felizes que você me deu,
Esqueça aqueles juramentos que fizemos só você e eu,
Esqueça a noite, a madrugada, e a lua que já se perdeu.”
Esqueça – Boi Pirilampo
Índias do Boi Pirilampo em apresentação
De comum acordo e pelo bem da cultura maranhense, nos grandes terreiros, o secular e tradicional Tambor de Crioula antecede às apresentações do Bumba-boi, qualquer que seja o ritmo (orquestra, costa de mão, matraca, pandeirões ou de zabumba).
O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana quase sempre praticada por descendentes de negros, que reaviva ainda mais os ritmos e os laços da ancestralidade africana com o Brasil.
Apresentação especial (junina) do Tambor de Crioula do Maranhão
O Cacuriá, ou Cacuriá de Dona Tetê, é uma dança típica do estado do Maranhão. Embora já seja parte constituidora do folclore brasileiro, sua origem não remonta mais do que quarenta anos atrás. Essa dança é apresentada durante a Festa do Divino Espírito Santo da região.
A festa do divino é considerada uma das manifestações culturais mais importantes do Maranhão e, por esse motivo, merece um texto à parte com melhores explicações. No entanto, como o tema desse texto é o Cacuriá, apenas pincelarei alguns fatos para contextualizar essa dança na festa do divino. Trata-se de uma festa que ocorre no dia de Pentecostes, sete semanas após a Páscoa, com a intenção de celebrar o dia em que o Espírito Santo teria descido para encontrar os doze apóstolos.
Muito embora a Festa do Divino pareça uma comemoração cristã, no Maranhão ela é bastante sincrética (mistura popular de diferentes crenças) ao apresentar elementos católicos e de religiões africanas. Durante a festa, várias danças são apresentadas como o Tambor de Crioula e o Carimbó. Após a apresentação do Carimbó, foi introduzido o Cacuriá como uma dança mais profana do que as outras.
Apresentação multicolorida de uma das alas do Cacuriá
Mas, nesse período, não ficam de fora as antigas e tradicionais brincadeiras de Quadrilhas e Danças Portuguesas, Casinhas da Roça e todos os ritmos e tradições que fortalecem a cultura popular maranhense.
Isso, evidentemente, que, sem contar a venda das comidas típicas da época, e as que colocam o Maranhão no top dessas particularidades.