21 de setembro de 2019 | 03h00
O Brasil será um dos países com pior resultado econômico neste ano e em 2020, mesmo num quadro internacional de baixa atividade, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com tensões comerciais crescentes e muita incerteza, a economia mundial deve crescer apenas 2,9% neste ano e 3% no próximo, no desempenho mais fraco desde a crise financeira de 2008.
Uma recuperação gradual deve continuar no Brasil, com o crescimento ganhando impulso deste ano para o próximo. Juros mais baixos favorecem o consumo privado, e o progresso na implementação de reformas deve sustentar a confiança e o investimento, de acordo com o relatório.
Em contrapartida, o comunicado distribuído na quarta-feira pelo Copom, depois da decisão sobre os juros, menciona como risco importante a deterioração da economia global, uma avaliação corroborada no dia seguinte pelas estimativas da OCDE.
A disputa comercial entre Estados Unidos e China é um dos fatores mais importantes de insegurança, e quase certamente o mais notório. Uma escalada nesse confronto poderá ameaçar mais gravemente um comércio internacional já em retração. Mas o quadro de riscos inclui as incertezas de uma economia europeia já enfraquecida, os possíveis custos de um Brexit sem acordo entre Reino Unido e União Europeia, uma desaceleração mais forte da economia chinesa e novos desastres financeiros.
Concebidas para apoiar a recuperação econômica do mundo rico, políticas monetárias frouxas, mantidas há muitos anos, deram espaço à valorização talvez excessiva de ativos e a um endividamento perigoso de governos e de empresas.
Tudo isso se completa com tensões geopolíticas. Não há menção, no relatório, ao recente ataque a instalações petrolíferas da Arábia Saudita, mas o episódio é um claro exemplo dos perigos geopolíticos.
Mesmo com a “recuperação gradual” indicada pela OCDE, o Brasil ainda perderá posições na corrida mundial. Até a enfraquecida zona do euro deve fechar 2019 com expansão (1,1%) maior que a brasileira, apesar do crescimento zero estimado para a Itália e da previsão para a Alemanha reduzida de 0,7% para 0,5%. Três dos maiores emergentes, China, Índia e Indonésia, deixarão o Brasil mais para trás, avançando a taxas de 6,1%, 5,9% e 5%, respectivamente. No caso da Índia, considera-se o ano fiscal com início em abril.
As análises da OCDE continuam chamando a atenção para as dificuldades brasileiras mais evidentes, como o enorme desajuste das contas públicas, e também para problemas estruturais ainda sem solução à vista.
Destacam-se na lista a escassez de investimentos produtivos, as deficiências da infraestrutura, a baixa exposição da economia à concorrência internacional, a pobre formação educacional e a desigualdade muito acima dos padrões internacionais. No caso da desigualdade, sua redução foi interrompida, segundo observação feita em documento recentemente divulgado pela OCDE.
O governo poderia retirar desse estudo pelo menos um dado politicamente positivo: “As emissões de gases estufa permanecem bem abaixo da média da OCDE em termos per capita”. Mas há o risco de alguma autoridade interpretar esse comentário como desafio para atingir aquela média.