Eder Jofre, o maior peso galo do boxe em todos os tempos, morreu, neste domingo, dia 2, em São Paulo, aos 86 anos. Ele estava internado desde 4 de março por causa de uma pneumonia, perdeu muito peso e não se recuperou fisicamente. Há sete anos, ele foi diagnosticado com uma doença neurológica degenerativa.
Eder Jofre manteve durante toda a sua vida a coragem e a determinação para enfrentar os adversários da vida, como fez em seus 20 anos de carreira profissional, quando venceu 75 rivais (53 por nocaute) e se consagrou como o maior peso galo da história do boxe. No começo do ano passado, passou a tratar a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença diagnosticada em 2013 que lhe causou problemas motores e de memória, com canabidiol ou CBD, sob prescrição médica.
Apontado pela revista The Ring, em 1997, como o nono maior pugilista de todos os tempos, Eder ganhou uma biografia em 2021: EDER JOFRE: primeiro campeão mundial de boxe do Brasil, lançada nos Estados Unidos pelo jornalista e escritor americano Chris Smith. O livro tem 605 páginas e, segundo o autor, o trabalho “foi o resultado de muitos anos de pesquisa, com várias fontes primárias, comunicação direta com a família Jofre, muitas entrevistas e com muitas fotografias raras”. Uma versão em português será lançada possivelmente em outubro neste ano.
Por causa do seu 85.º aniversário, o Galo de Ouro recebeu várias homenagens de ex-campeões, que mandaram vídeos nas redes sociais. Há 36 anos, ele encerrou a vitoriosa carreira, mas permaneceu com um prestígio inabalável no mundo do boxe. Além de ser o maior maior peso galo, ganhou também o cinturão dos penas. Formou ao lado de Maria Esther Bueno e Adhemar Ferreira da Silva, um trio de esportistas brasileiro que goza de maior fama no exterior.
“Eder tinha tudo que um grande lutador deve possuir em sua época. Para coroar o pacote, ele também tinha um ‘queixo de ferro’ e de resistência, a exemplo de Jake LaMotta e Carmen Basilio”, escreve o Cyber Boxing Zone, site especializado. “Talvez a qualidade mais impressionante tenha sido a capacidade de adaptação. Jofre era um lutador muito inteligente, que poderia mudar seu estilo para se ajustar a qualquer tipo de adversário. Ele poderia ser brigador, clássico… O cara era uma obra de arte.”
Para mostrar que o comentário do site sobre o pugilista brasileiro não é exagerado, pode-se lembrar que Sugar Ray Robinson, apontado em quase todas as listas como o maior boxeador de todos os tempos, fez questão de posar ao lado de Eder Jofre, em 1960, antes de o lutador nacional enfrentar o mexicano Eloy Sanchez, quando ganhou o primeiro título mundial, em Los Angeles, EUA.
Eder Jofre sempre esteve no acervo do Estadão.
O jornalista americano Ted Sares tem outra definição para o pugilista brasileiro. “Com um poder de soco em ambas as mãos, Jofre também tinha grandes habilidades técnicas e reflexos, ao melhor estilo Sugar Ray Robinson”, analisa. “Ele tinha o gancho e o direito em linha reta; um inferno. Ele tinha tudo. Um perfurador de corpos.”
Com tanto reconhecimento nos Estados Unidos, Eder entrou para o Hall da Fama do boxe em 1992. “A maioria dos fãs americanos não teve a oportunidade de vê-lo em ação, mas nos anos 60 Eder Jofre foi considerado o melhor lutador libra por libra em todo o mundo”, afirma Ed Brophy, diretor executivo do Hall da Fama. No ano passado, teve seu nome colocado também no hall da fama da Costa Oeste.
Um dos maiores de todos os tempos
Em livrarias de Nova York é possível comprar pôsteres do ex-pugilista por US$ 30 ou camisetas com o rosto do campeão por US$ 40. Algo impensável em São Paulo, onde nasceu na Rua do Seminário e passou a infância no Parque Peruche. “Eder Jofre só não é maior por causa da falta de imagens de seus combates”, diz o escritor Thomas Hauser, que escreveu, entre muitas outras obras, biografias de Muhammad Ali. “Jofre foi um dos maiores de todos os tempos.”