DÚVIDA CRUEL
Paulo Azevedo
Faz cinco dias – disse-me o amigo Sarmento – que comecei uma obra lá em casa. Separei do primeiro casamento (26 anos casado) por causa da Joaninha, apaixonei.
Mudei de apartamento, e Joaninha fez questão de reforma. Sexta passada, quando cheguei em casa no meio da tarde, o pedreiro estava tomando banho na nossa suíte, e Joaninha vendo televisão na sala. Achei estranho, mas tudo bem.
Ontem, cheguei no final do dia de surpresa. O pedreiro não estava mais, Joaninha de cabelos molhados, o blindex do box embaçado, a tampa do vaso sanitário levantada e Joaninha reclamando do serviço do pedreiro. Fiquei com a pulga atrás da orelha.
Minha ex-esposa jogou uma praga dizendo que eu seria corno dentro da minha própria casa. Será que a profecia está se concretizando? Joaninha é uma esposa dedicada e delicada, responsável, mesmo sendo tão nova.
– Quantos anos tem a Joaninha? – Indiscreto, perguntei
– Trinta e um – respondeu Sarmento.
– E você?
– Sessenta e dois.
Fiquei calado.
– Paulinho, sabe por que estou perturbado? O pedreiro é bonito para cacete.
– Mas ela não reclamou do Pedreiro?
– É, mas quem desdenha quer comprar... Será o que o pessoal acha? Será que sou corno?