Sinto a nossa esperança se queimado
Na fogueira da seca nordestina.
Sobre o mote acima, do poeta Diomedes Mariano, o tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira escreveu a seguinte glosa:
Quando a nuvem da chuva foi embora
Que o vento passou varrendo o chão
Vi na lama rachada do porão
Um carão que tristonho geme e chora
Uma vaca turina numa escora
Um bezerro mamando na turina
Sem achar uma gota pequenina
Na cacimba de amor que tá sugando
Sinto a nossa esperança se queimado
Na fogueira da seca nordestina.
Eu tenho dito quando posso que o poeta Marcílio é um entre os maiores poetas populares contemporâneos deste país. Seus versos são gigantes.
Prestem atenção na beleza do oitavo verso, na genialidade do poeta em transformar os peitos de uma vaca em “cacimba de amor”. Nada é mais lírico!
Bom, ainda inebriado sob a beleza dos versos de Marcílio, eu, Jesus de Ritinha de Miúdo, seridoense e potiguar de Acary, havendo recebido o trabalho dele por WhatsApp, pelo mesmo meio lhe respondi com versos meus, que ora trago para os leitores do JBF.
Ei-los:
Vejo a dor do menino retirante
Pés descalços no barro da estrada
Rosto sério em triste caminhada
Sob um sol sem clemência e escaldante.
Seu futuro é um tempo tão distante
Que fugiu do alcance da retina
Seu olhar de lamento se neblina
Por lembrar do torrão que vai deixando
Sinto a nossa esperança se queimando
Na fogueira da seca nordestina.