Ontem eu fui surpreendido por uma espécie de êxtase que só me acomete quando tenho contato com algo que, para mim, é sublime demais como arte.
O poeta tabirense Marcílio Pá Seca Siqueira enviou-me pelo WhatsApp uma glosa sobre o mote do poeta Júnior Monteiro, e eu ouso em dizer que ambas as construções – mote e glosa – beiram a perfeição na construção de uma poesia no estilo próprio.
O mote:
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”
Eis o que Marcílio inspirado divinamente escreveu:
Tá sem cor e sem vida o tabuleiro
O meu bispo sem cetro e sem batina
Meu cavalo pendeu caiu a crina
Meu peão sem a dama e sem roteiro
O meu rei sem castelo e sem dinheiro
Minha torre sem luz e camarinha
A rainha cansada de ser minha
Deu um xeque na minha embriaguez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha”
Diante de tão extraordinária composição, e seguindo a visão do tabuleiro criado por Marcílio, eu me arrisquei em glosar também.
De minha mente saíram os seguintes versos:
Eu tentei dar um roque foi em vão
Sou um rei acuado e sem saída
Quanto mais eu me mexo na partida
Mais eu sinto que perco a posição.
Já não tenho nenhuma proteção
‘Tou cercado e exposto sob a linha
Do amor, que era só o que mantinha
Certa fé na vitória e solidez
“Minha vida sem ela é um xadrez
Que não tem mais a peça da rainha.”