I – Na janela da casa
Vigiando e controlando o filho
Assim, despretensiosamente, faça um “zoom” com a sua mente. Rode todos os 360 graus. Pare, e se prepare para gravar. Rememore. Você, que tem o hábito de ver apenas uma emissora de televisão, teria como relembrar pelo menos no último ano, tudo que aconteceu no Brasil e no mundo, em termos de violência?
Estamos falando “apenas” do que você viu na emissora de televisão que você diz que detesta, mas não tem altivez e moral para parar de ver.
E aí você junte com outros casos que foram divulgados apenas pelas emissoras que você não vê, mas vive elogiando, e tente somar tudo.
Somou? E qual é o saldo positivo disso tudo?
Como ensinou o matemático Ary Quintela para os estudantes dos anos 50/60, pode até não ser um saldo positivo, mas o resultado é sem tirar nem pôr, uma equação matemática.
Explico melhor, já que não desenho mais, faz tempo. Não faz tanto tempo assim, quando uma família morava numa rua com calçadas estreitas, tal qual São Luís, ficava difícil colocar a espreguiçadeira na calçada (não cabia!), a “dona da casa” usava a janela na frente da casa para acompanhar o filho jogando bola na rua, na frente de casa. Via tudo. Dava conta de tudo. O filho não mentia nem virava presa fácil para as ilicitudes, como ocorre nos dias atuais.
Aí a “dona de casa” saiu da janela. Deixou de reparar na vida dos outros e aproveitou para largar, também, a vida do filho. Incutiu na cabeça não tão arejada, que a família precisava de uma televisão grande para ligar no “hd”; somou que é importante ter um micro-ondas; uma máquina de lavar; um cartão de crédito; e todas essas maquinações impingidas pelo mundo capitalista.
Tradução disso: abandonou a família e foi cuidar de atender às necessidades capitalistas. Ser “apenas mãe de família” não lhe satisfaz o ego. Não é moderno. Não lhe dá “empoderamento”!
Conhecemos bem aquela historinha antiga, contada no interior, que diz assim: “nenhum rato se mete à besta, aonde há um bom gato”!
Com a mãe fora da janela, e à procura do “empoderamento”, a casa fica mais ou menos vazia. Os deveres escolares dos filhos ficam à deriva, tudo fica mais fácil – para quem pretende investir numa “mão de obra” barata como elemento forte na distribuição e continuidade do tráfico. Isso sem contar com a vantagem do “foro privilegiado” diante das ações policiais. E enquanto essa “imunidade legal” for importante para o tráfico e para os parceiros, ninguém vai discutir ou mudar as leis da maioridade penal.
Este cara pálida, nem de longe está sugerindo que, a responsável pelo descompasso na segurança das pessoas e das famílias, sejam as mães. Negativo! Essa, acreditamos, é apenas uma das ventosas do polvo gigante.
Infelizmente, diante de tantas facilidades e equívocos nas concepções e aprovações das leis vigentes no país, reforçadas pela má compreensão de pessoas a serviço e outras tantas à frente de instituições importantes, tivemos na semana passada em São Luís a aproximação em direção à desconstrução familiar. Um filho, tão fazendeiro quanto o pai, está sendo acusado de matar o próprio pai, com a intenção de “apressar” a divisão da herança familiar – tudo por que ele, o filho, estaria atolado até o pescoço em dívidas.
Não temos direito de fazer nenhum juízo de valor, e menos ainda temos competência para tentar formar opinião a respeito do caso com o senhor Nenzim. A mídia inteira e as redes sociais, provavelmente municiadas a partir de informações oficiais do Sistema de Segurança, estão preferindo a bifurcação para o caminho que está apontando um forte envolvimento de um dos filhos do falecido com o desfecho do homicídio.
Quem tem autoridade e trabalhou para buscar as informações que levam a esse desfecho fatídico, é a Segurança Pública.
Mas, se não temos direito nem conhecimento para opinar sobre o desfecho do assunto, temos direito de, enquanto indivíduo atuante na formação de opinião, repetir o que dizemos, faz tempo: tudo isso começa dentro de casa, e infelizmente, com o vazio que tomou conta da janela da casa.
Nos dias atuais, em casa os pais não impõem limites aos filhos. Esses, têm todos os direitos satisfeitos, por mais estapafúrdios que sejam. Os pais vivem confundindo escolarização (papel da escola e do Estado) com educação (papel da família) e remetem o somatório ou ao Conselho Tutelar, cuja composição e formação poucos conhecem; ou à Polícia, essa sim, com mais direitos sobre os filhos que os pais.
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II – O tempo: remédio sem contra indicação
Os irmãos Braga Horta: Goiano, Anderson, Arlyson e Glória
O tempo passou e com ele levou a tensão do inesperado, “como num dia claro o relâmpago” e abriu um canal das lágrimas.
Somente uma semana depois me dei conta da “nossa” perda – Glorinha. Uma guerreira em defesa das suas convicções.
Como uma tapagem que separa o mar do igarapé, voltando a alimenta-lo da boa água, as lágrimas encontraram seu caminho, e jorraram. Como a nascente dos grandes rios.
Aprendi cedo, que Deus convoca sempre os bons, sem esquecer os outros. Mas, os outros demoram um pouco mais entre nós, até zerar suas dívidas.
Conclui-se, que, se Glorinha já foi – com certeza não devia nada, até por que, pelo que se saiba, só fez o bem.
Beijão amiga. Procure minha avó: é uma negra alta, magricela, com quase dois metros de altura. Será fácil encontrá-la. Ela sempre gostou de aves e passarinhos.
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DESCONSOLO – Glória Braga Horta
Sentimento surgiu inesperado,
Como num dia claro um relâmpago:
sonhei por um beijo teu roubado
e a prazerosa surpresa de um afago.
Tanto esperei em vão… não acontece
nada do que sonhei e ainda desejo.
A madrugada quase amanhece
sem teu afago e o esperado beijo.
Não mais pensar em ti? Que desconsolo!
Além do sonho não realizado,
um fruto amargo brota do meu solo.
Antes tranquilo tal qual uma prece,
Este horizonte que agora olho
torna-se turvo em meu olhar molhado