Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quinta, 22 de agosto de 2019

DRAUZIO VARELLA: NA HORA EM QUE VOCÊ DESISTE E DIZ AGORA CHEGA

 

Drauzio Varella: 'Na hora em que você desiste e diz agora chega, você ficou velho'

Médico defende restrição alimentar, vida intelectual e exercícios como caminho para vida longa e saudável
 
 
Drauzio Varella em seu consultório: 'Não quero me aposentar' Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Drauzio Varella em seu consultório: 'Não quero me aposentar' Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
 
 

RIO — São 16 livros publicados, incontáveis palestras, participações em programas de televisão, artigos em jornais e, mais recentemente, vídeos no YouTube e podcasts. Aos 76 anos, o oncologista mais pop do país não pensa em pendurar os estetoscópios. Ao longo de mais de quatro décadas de prática médica, auxiliou em seu consultório gerações de pacientes que precisaram lidar com os aspectos positivos e negativos do envelhecimento. Nesta entrevista ao GLOBO, o médico conta como enfrenta a passagem do tempo e aponta caminhos para uma vida longa e produtiva.

 

Em maio, o senhor completou 76 anos. Como encara o envelhecimento?

Eu nunca encarei. Comecei a correr quando tinha 50 anos e corro maratona até hoje. Acho que isso me fez muito bem. Primeiro porque tenho pressão e glicemia normais. Em hipótese alguma levo minha idade em consideração. As besteiras que tinha que fazer fiz adolescente e não tenho vontade de repetir agora. Você não pode chegar a uma fase da vida e dizer ‘preciso ir devagar porque estou com idade avançada’. Vai ficar com essa idade que você está projetando. Não quero me aposentar. Quero trabalhar, criar coisas novas, estou empenhado em diversos projetos. Você precisa ter essa necessidade, essa inquietação. Se está vivo, mesmo com limitações físicas, pode continuar brilhando. Na hora em que você desiste e diz ‘agora chega’, você ficou velho.

 

Gostaria de ultrapassar a barreira dos 100 anos?

Não tenho nenhuma preocupação com isso. Todos queremos viver muito, mas não a qualquer preço. Inclusive, a gente deveria ter direito de decidir, enquanto é lúcido e tem saúde, até que ponto quer estar vivo. Com sorte, será assim no futuro. Na hora em que eu confundir minha mulher com um par de sapatos, não reconhecer meus filhos e netos, ou quando perder controle dos esfíncteres, não quero mais. Isso tem que ser um direito do cidadão. Muita gente enfrenta velhices humilhantes. Gente que foi brilhante e vira um vegetal, manipulado por outros. Acho que essa questão do envelhecimento tem limites. Não sei qual vai ser o meu. Tomara que seja 110 anos. Mas pode ser daqui a seis meses ou dois anos.

 

Envelhecer é inevitável, mas ainda tem conotação negativa para muita gente. Por que é preciso mudar essa concepção?

Em primeiro lugar, é preciso definir o que é velhice. No passado, uma pessoa de 50 anos era considerada velha. Machado de Assis se refere muitas vezes, nos seus contos, a velhos dessa idade. Eu tenho uma nota de um jornal de Manaus do começo do século XX escrita assim: ‘Caminhão atropela velhinha de 40 anos’. O conceito muda com o tempo. A expectativa de vida vem aumentando. E, além disso, as pessoas envelhecem com mais saúde hoje. Não quer dizer que envelheçam bem. Temos muito a melhorar.

O que o senhor costuma dizer aos seus pacientes que têm medo da velhice?

Digo sempre que a alternativa é pior. Bem pior. É curioso, porque todo mundo quer viver muito. Mas as pessoas começam a envelhecer e a reclamar da velhice. É um absurdo. Na verdade, houve uma mudança de paradigma. Como era o modelo das gerações anteriores? Um ‘velho’ de 50 anos se aposentava e ouvia dos médicos que deveria fazer repouso. Quanto menos esforço fizesse, mais saúde teria. Na realidade, é o oposto. Essa mudança de perspectiva fez toda diferença. Na hora em que começamos a considerar o movimento, a atividade física, passamos a ver pessoas com idade avançada e condições de saúde que não nos permitem chamá-las de velhas.

 

A chave para longevidade, então, é evitar o sedentarismo?

O corpo humano evoluiu para o movimento. Aqueles que se movimentavam mais, corriam mais, subiam melhor nas árvores, tiveram vantagens na evolução. Depois da Segunda Guerra Mundial, passamos a ter, pela primeira vez na história da humanidade, a oportunidade de subsistir comendo à vontade. E sentados o dia todo. Você imagina um sedentário na época das cavernas? Morreria antes da adolescência, sem deixar descendentes. Agora, a gente pode passar os dias assim. Para envelhecer bem, você precisa se convencer de duas coisas básicas. Primeiro: não dá para comer tudo o que oferecem. Segundo: não dá pra passar o dia sentado. É preciso brigar contra a natureza humana. Nunca fomos treinados para conter o apetite. Pelo contrário, quando você tinha acesso aos alimentos, comia o máximo possível. Quando conseguia, ficava parado para não desperdiçar energia. É algo ancestral. Por isso é tão difícil fazer exercícios e comer com parcimônia.

Ainda vale a pena rever hábitos antigos aos 60, 70?

É fundamental. O cigarro é o exemplo típico. Você pega um homem que fumou a vida inteira e para aos 70 anos. Em três meses, a bronquite crônica associada ao cigarro desaparece e ele começa a respirar melhor, a sentir-se melhor. Em qualquer idade você vai se beneficiar da mudança de hábitos. Com a atividade física, a mesma coisa. Uma pessoa sedentária de 70 anos que comece a fazer exercícios leves vai estimular a hipertrofia dos músculos, a circulação sanguínea.

 

Existem maneiras de evitar o envelhecimento do cérebro?

Quanto mais usamos o cérebro e aprendemos coisas novas, mais fortalecida será a memória. Nos últimos anos, diversos trabalhos científicos mostraram com clareza que atividade física, dieta sem exageros, com quantidades menores de gordura e maiores de vegetais, além da manutenção da atividade intelectual, especialmente a leitura, previnem e retardam o desenvolvimento do mal de Alzheimer. Mesmo que haja predisposição genética.

O Brasil está preparado para lidar com o prolongamento da longevidade?

Nem o Japão está. É um problema sério por lá, onde a população idosa é enorme e existem muitas políticas públicas. Nas famílias pequenas, a questão é quem para de trabalhar e cuida dos velhos com Alzheimer. Muitas vezes, sai mais barato para o governo pagar os filhos para cuidar da mãe do que institucionalizá-la. O Brasil está longe de estar preparado para isso.


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