Dora Morelenbaum lembra bem do dia em que se sentiu invadida por uma emoção inexplicável, que a virou de ponta a cabeça quando tinha apenas 12 anos. “Foi quando eu ouvi a gravação dos meus pais da canção ‘Por toda minha vida’, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Chorei copiosamente, bateu algo muito forte”, conta. Filha do violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum e da cantora Paula Morelenbaum, ela esteve desde sempre imersa na genialidade de Tom Jobim — na década de 1980, seus pais fizeram parte da Banda Nova e acompanharam o maestro por dez anos. “Cresci com essa referência musical e também com as de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Sakamoto (Ryuichi Sakamoto, músico japonês). Quando era pequena, sofria por não ter tido a oportunidade de conhecer o Tom.”
A decisão de se tornar cantora profissional ficou evidente depois de alguns poucos períodos na faculdade de Arquitetura. “Queria conhecer outro mundo. Mas quando começou a fase de estágio, tranquei, não queria trabalhar com aquilo”, relata. Na sequência, resolveu cursar Música Popular Brasileira — Arranjo Musical, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), mas ainda não se formou. “Faço muito devagarzinho”, explica. Antes disso, no ensino médio, encontrou na escola sua turma musical. Lá, conheceu Lucas Nunes, com quem namora há quatro anos, Zé Ibarra e se aproximou de Tom Veloso — os três músicos integram a banda Dônica. “Eu me formei muito de ouvido com os meus amigos”, ressalta. A cantora, que toca violão e piano, chegou a morar com alguns deles (Lucas e Zé, além de Julia Mestre e João Gil), em julho, formando uma espécie de república musical em plena pandemia. Os cinco, inclusive, fizeram participações elogiadas na live mais badalada da quarentena, as da cantora Teresa Cristina. “Foi interessante”, diz Dora. “Mas não sou muito de redes sociais, acho um mundo doido.”
Apesar da vocação estar presente desde cedo, em 2018 ela se deu conta da importância de valorizar sua porção compositora. “Coloquei as minhas canções na roda. É desafiador por ser íntimo, me critico o tempo inteiro”, admite. Enquanto sonha com a vacina para poder soltar a voz em shows, planeja uma live para marcar o lançamento de “Dó a dó”. “A produção tem que sair por algum lado.”