Nascido no Rio Grande do Norte, Café Filho, Vice-Presidente, assumiu a Presidência da República com o suicídio de Getúlio Vargas.
Pouco tempo depois, mandou chamar seu grande amigo Rubem Braga ao seu Gabinete, dizendo que estava precisando dele.
Surpreso, o grande cronista chegou ao gabinete de Café Filho e disse:
– Café, você só pode estar louco, ao dizer que está precisando de mim. Está havendo um engano. Quem precisa de você sou eu. Você virou Presidente da República, está bem empregado e com sua vida arrumada. Quanto a mim, estou duro, desempregado e precisando trabalhar. Quero um emprego qualquer. Não escolho serviço.
Um mês depois, Rubem Braga embarcou para o Chile, como Adido Cultural do Brasil. Foi lá que escreveu algumas das suas melhores crônicas.
Na mesma época, chegou ao Gabinete de Café Filho, sem marcar “audiência”, diretamente de Natal, seu amigo de infância e colega de turma na escola primária, José Antônio Areias Filho, o popular Zé Areia (1900-1972). No tempo da Guerra, trabalhou como barbeiro no Campo de Parnamirim. Ex-Rei Momo e um dos maiores boêmios de Natal, Zé Areia era dono de uma inteligência notável, grande senso de humor e muito querido.
De pouco estudo, barbeiro, vendedor, biscateiro e, principalmente, humorista nato, Zé Areia tinha resposta pra tudo e uma língua afiada. Era um boêmio, querido pelos amigos, sem cerimônia de incomodá-los e até de lhes aplicar pequenos golpes, considerados hilários, verdadeiros pecados veniais. Essas pequenas tramoias não chegavam a afastá-lo dos amigos “selecionados”, como ele dizia. Uma das suas constantes vítimas foi o saudoso Deputado Djalma Marinho, escolhido por Zé Areia para seu permanente fiador, nas locações de casas para morar.
Certa vez, Zé Areia procurou o dono de uma casa na Praia do Meio, que estava para alugar. O proprietário foi taxativo, dizendo:
– Só alugo com fiador.
Zé Areia procurou o deputado Djalma Marinho, seu amigo do peito, e pediu-lhe uma carta de fiança, sendo rapidamente atendido.
Transcorridos noventa dias, Zé Areia não pagou um só centavo do aluguel e o proprietário procurou Djalma Marinho, o fiador, para que lhe pagasse a dívida. No dia seguinte, Djalma mandou chamar Zé Areia e reclamou, ressentido:
– Mas Zé, de novo?!!! O dono da casa que você alugou me telefonou cobrando os três meses de aluguel que você não pagou!!! Como seu fiador, vi-me obrigado a pagar…
E Zé Areia, cínico, com fingida indignação, respondeu:
– Deputado, tenha paciência! Pra que é que serve fiador? Ainda bem que o senhor não me deixou passar vergonha!!!Era só o que me faltava! Eu sei selecionar meus fiadores!!!
No tempo da Guerra, trabalhou como barbeiro no Campo de Parnamirim. Ex-Rei Momo e um dos maiores boêmios de Natal, Zé Areia era dono de uma inteligência notável, grande senso de humor e muito querido.
A sua vida confunde-se com a de uma Natal provinciana e as suas tiradas divertiam Natal.
Durante a 2ª Guerra, trabalhou como barbeiro no Campo de Parnamirim. Aplicava golpes nos norte-americanos, vendendo-lhes, por exemplo, corujas por papagaios.
Depois da 2ª Guerra, Zé Areia voltou à sua antiga miséria. Não tinha emprego e vivia de vender qualquer coisa que encontrava.
A chegada do seu amigo Café Filho à Presidência da República representava para ele o fim de sua vida dura, pautada por ele mesmo.
Depois de levar um grande “chá de espera”, Zé Areia adentrou ao gabinete do Presidente Café Filho, externando sua felicidade em vê-lo ocupar o mais alto cargo do País. Depois do grande abraço, aproveitou para lhe cobrar o cumprimento da promessa que lhe fizera, há anos, de lhe arranjar um bom emprego, quando chegasse a ocupar um cargo importante.
Café Filho recebeu Zé Areia sem euforia, mas ratificou a promessa do emprego. Disse-lhe que voltasse no dia seguinte e procurasse José Monteiro de Castro, Chefe da Casa Civil.
A decepção de Zé Areia foi enorme. O emprego era de Seringueiro, na Amazônia.
Indignado, voltou para Natal, mas deixou para o “amigo” Café Filho, um bilhete, onde dizia:
“João, em nossa terra, quem tira leite de pau é buceta….
Assinado: José Areia”
Esse caso entrou para o folclore político do Rio Grande do Norte, e, até hoje, enriquece a memória satírica de Zé Areia.