João de Lima de Alagoas glosando o mote:
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Minha nuvem de verso é tão pesada
Se eu for nos Estados mais enxutos,
Basta eu derramar vinte minutos
Toda terra de lá fica brejada
Todo mundo se atola na estrada
O mundo se enche de neblina
O arco-íris por cima da campina
Faz o sol esconder-se ao meio dia,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Meu martelo de aço é tão potente
Onde bate não fica nem o cisco
Tem a velocidade dum corisco
Não existe pedreira que aguente
Resplandece no chão, passa corrente
Tem o brilho do sol que ilumina
Mas, depois se transforma em vitamina
Fertiliza a terra quando esfria,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Com as ordens do Pai Celestial
Minha nuvem de versos é imensa
Se jorrar meia hora o povo pensa
Que é outro dilúvio universal
Derramando uma chuva de cristal
Enche toda barragem: chega mina
Toda água barrenta se refina
Fica doce igualmente melancia,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Me inspiro somente em coisas boas
Nas estrelas, na lua, na floresta,
Onde as aves cantando fazem festa
Onde a voz do meu Deus do céu ecoa
No riacho, na fonte, na lagoa,
No açude, no rio, na piscina,
No lodo, no óleo, na rizina,
Na flor perfumada e bem macia,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Me inspiro nos lindos colibris
E nas penas dos lindos sanhaçus
No batom dos bicos dos nambus
e na pronúncia dos lindos bem-te-vis
No brilho, na tinta e no verniz
Que Deus derramou da mão divina
Dando cor e beleza cristalina
Ensinando cantar com melodia,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
Me inspiro nas florestas bem cheirosas
Admiro de mais sua beleza
Vejo a mão divinal da natureza
Colocando perfume em suas rosas
Me inspiro nas pedras preciosas
Esmeralda, rubi e turmalina
Diamante, safira e oliveira
Na ciência da mineralogia,
Só um pingo da minha poesia
Enverdece a paisagem nordestina.
* * *
Marcílio Pá Seca Siqueira glosando o mote:
O nó da saudade aperta
Na amortecência do dia.
De tardezinha a saudade
De forma forte e pujante
Se torna viva e vibrante
No peito da humanidade
Bate com intensidade
Na porta da moradia
Acordando a nostalgia
Pelo vão da porta aberta
O nó da saudade aperta
Na amortecência do dia.
Depois de trancar o gado
Na calçada eu me sentava
Na sala um radio tocava
Bem baixinho e com chiado
No radio mesmo enfadado
Ouvindo a Ave Maria
O meu coração sentia
A porta da noite aberta
O nó da saudade aperta
Na amortecência do dia.