DISCOTECA 2001: NASCIMENTO, ASCENSÃO E MORTE
Raimundo Floriano
Discoteca 2001 no Distrito Federal: fim de uma era
No final de 1968, início de 1969, foi exibido, nas telas do mundo inteiro, o filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, baseado em conto de Arthur C. Clark, que ficou considerado como o marco e o ícone da ficção científica, não só pelo roteiro, com um computador, o HAL 9000, provido de sentimentos quase humanos, mas, principalmente, pelos efeitos especiais. Sucesso estrondoso na crítica e na bilheteria. Virou moda!
Como sói acontecer em tais ocasiões, surgiu uma cambulhada de empreendimentos comerciais com esse nome: bandas, boates, butiques, salões de cabeleireiro, bares, restaurantes, alfaiatarias, escolas, sorveterias, o escambau. E, como sói acontecer em tais açodamentos, nenhum teve existência mais que efêmera, mudando a denominação tão logo veio a furo a próxima novidade, com única e honrosa exceção: a Discoteca 2001.
Bem administrada, com estoque variadíssimo e sempre atualizado, dominou o mercado fonográfico no Distrito Federal, chegando a possuir 13 filiais, espalhadas pelo Plano Piloto e Cidades Satélites. A minha preferida era a do Conjunto Nacional.
Estávamos no tempo do LP, e grandes coleções eram lançadas no mercado: Pop Music, inglesa, com 30 volumes; Revivendo, de velha guarda da MPB, com 72; Moto Discos, de carnaval antigo, com 60; e Collector’s, de sucessos do Rádio, com 40, todas elas vendidas na 2001.
Para que eu não perdesse qualquer edição, Dona Alice, sua gerente, guardava meus exemplares e me telefonava todo final de mês para que eu fosse buscá-los. Certo dia, estranhei a ausência de sua ligação. Fui à loja ver o que ocorrera, e lá me informaram de que ela havia falecido, juntamente com o marido, em acidente automobilístico, nas proximidades da Cidade Ocidental. Dali pra frente, engrenei as encomendas com a vendedora Isaura, o que funcionou até o fechamento das coleções. Ao todo, incluindo também discos de outros gêneros, calculo que adquiri ali mais de 500 produtos.
Veio a era do CD, quando deixou de existir aquele gostinho de ir à discoteca para apreciar as capas, ler as contracapas e encartes, informações que o diminuto tamanho dos estojos já não mais nos proporciona. Mesmo assim, ainda dava para sapear, entrar na loja só por mera curiosidade, garimpar e sair de lá com dois ou mais discos comprados.
Trinta e sete anos durou esse império! Agora, a notícia entristecedora: a 2001 vai fechar! Desaparecerá até o final de 2008!
A maior parte das filiais já se acabou, e as que ainda permanecem abertas estão liquidando o estoque restante a preço de banana em fim de feira. Grande melancolia nos invade ao entrarmos ali e vermos as prateleiras semivazias, aguardando o golpe fatal: o último que sairá e apagará a luz. Melancolia só comparável à sentida quando o Ivan, da Livraria Presença, fechou suas portas. São pedaços da cultura que se esvaem!
Se me perguntarem o motivo, eu cito dois. Primeiro, a falta de governo. Se ele fiscalizasse pra valer, a pirataria, que medra em nossas calçadas com desmedida pujança, não geraria efeito tão devastador. Segundo, o alto preço do disco. Enquanto na 2001 o CD varia de 15 a 40 reais, na Discodil do Conjunto Nacional, que vende adoidado, conforme constatei em recente visita, o preço vai de 8 a 11 reais. Ora, é preferível dar 10 reais num CD original, a pagar 5 reais ao camelô por um pirata que, além da má qualidade, pode danificar os equipamentos de reprodução.
Isso é um problema a ser encarado seriamente pelo mercado fonográfico.
Caso contrário, quem vai desaparecer não será mais a loja revendedora, mas toda a indústria envolvida no processo.
Isso no Brasil, é claro!
Que pena, trabalhei nessa Discoteca. Patrões muito bons, sempre trataram muito bem os funcionários.