Raimundo Floriano
Dando continuidade a minha postagem pré-carnavalesca, volto a relembrar outra grande artista do passado e suas gravações, sucessos que alegraram toda minha vida, desde os vesperais infantis, passando pelos blocos de sujo, pelos salões e pela Banda da Capital Federal, onde eu, Mestre e trombonista, gozei da felicidade de proporcionar ao povão nas ruas a oportunidade de também brincar naqueles dias de festa. Na semana passada, dediquei-me a Linda, a mais velha das Irmãs Batista. Hoje, trago-lhes o perfil da mais nova, Dircinha, cujo repertório fonográfico de 222 títulos, que compõem meu acervo, contém 121 dedicados ao Carnaval.
Dirce Grandino de Oliveira, a Dircinha Batista, cantora e compositora, nasceu em São Paulo (SP), no dia 7.4.1922, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 18.6.1999. Filha do ventrículo e humorista Batista Júnior e de Emília Grandino de Oliveira, era irmã da também cantora Linda Batista.
Após seu nascimento, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar no Bairro do Catete. Aos quatro anos de idade, Dircinha começou a ser alfabetizada num grupo escolar da Praça José de Alencar, cursando a seguir os Colégios Sion e São Marcelo.
Já aos seis anos de idade, em 1928, fez sua estreia artística cantando Morena Cor de Canela, de Ari Kerner, num show organizado por Raul Roulien, no Teatro Santana, em São Paulo, para o qual seu pai fora convidado. Ainda no mesmo ano, cantou com sucesso, no Cine Boulevard, em Vila Isabel. No ano seguinte, ingressou no colégio Divina Providência, onde concluiu o Curso Primário.
Em 1930, aos oito anos de idade, gravou seu primeiro disco, na Columbia, com o nome de Dircinha Oliveira, contendo as músicas Borboleta Azul e Dircinha, compostas pos seu pai. No ano seguinte, ingressou na Rádio Cajuti, depois Vera Cruz, participando do programa de Francisco Alves, e gravou, pela Odeon, seu segundo disco, cantando Órfã e Anjo Enfermo, de Cândido das Neves.
Em 1935, quando cursava o ginásio no Ateneu São Luís, estreou no cinema, cantando Eu Vi Você no Posto Seis, de João de Barro, no filme Alô, Alô, Brasil. Em 1936, já com o nome de Dircinha Batista, cantou e dançou no filme Alô, Alô, Carnaval, as marchinhas Pirata e Muito Riso, Pouco Siso, ambas de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravadas na RCA Victor no mesmo ano, assim como as marchinhas Meu Sonho Foi Um Balão, de Alberto Ribeiro, e Meu Moreno, de Hervê Cordovil.
Seu primeiro sucesso no Carnaval aconteceu em 1938, com a marchinha Periquitinho Verde, de Nássara e Sá Róris. No mesmo ano, participou de três filmes: Bombonzinho, Banana da Terra e Futebol em Família.
Desde então, vieram outros títulos consagrados pelo público, como a marchinha Tirolesa, de Osvaldo Santiago, muito cantada em 1939, Upa, Upa (Meu Trolinho), de Ary Barroso, êxito que marcou sua presença no Carnaval de 1940.
Sua carreira foi marcada por contratos diversos com várias gravadoras e estações de rádio, além de atuação como atriz, como na novela Meu Amor, de Hélio Soveral. Em 1951, gravou, com tremendo sucesso, o samba-canção Nunca, de Lupicínio Rodrigues, e fez parte do elenco da Companhia Teatral de Dercy Gonçalves, apresentando-se no Teatro Glória, no Rio de Janeiro.
No final de 1951, assinou contrato com as Rádios Nacional e Clube. Nesta última, fez o programa Recepção, escrito por Eugênio Lira e dirigido musicalmente pelo Maestro Alceu Bocchino. Quando a Rádio Clube fechou, Dircinha permaneceu no elenco da Nacional, onde fazia o programa Galeria Musical, escrito por Paulo Roberto e dirigido pelo Maestro Leo Peracchi.
O ano de 1953 marcou sua segunda experiência teatral, também no Teatro Glória, com a Companhia Barreto Pinto, quando gravou o samba-canção Se Eu Morresse Amanhã, de Antônio Maria. Nos seis anos seguintes, participou de sete filmes: Carnaval em Caxias, em 1954; Guerra ao Samba, em 1955; Tira a Mão Daí, e Depois Eu Conto, em 1956; Metido a Bacana, em 1957; É de Xuá, em 1958; e Mulheres à Vista, em 1959.
Em 1961, passou a trabalhar na TV Tupi, como repórter e animadora de programas. Para o Carnaval de 1963, estourou a banca com a marchinha O Último a Saber, de Klécius Caldas e Brasinha. Em 1964, outro grande sucesso, com a marchinha A Índia Vai Ter Neném, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.
A Década de 1960 foi cruel para com os grandes ídolos da Velha Guarda, e muito contribuiu para isso a força do Rock, da Bossa Nova e da Jovem Guarda, além da insensibilidade da TV, sempre mais voltada à aparência de seus astros e, na mais das vezes, desprezando o talento.
Assim, no início da década seguinte, Dircinha encerrou sua carreira, depois de mais de 40 anos de atividade artística, não sem arrebentar a boca do balão: em 1970, foi sucesso absoluto com a marcha-rancho O Primeiro Clarim, de Klécius Caldas e Ruthnaldo.
Turrona, enjeitou propostas vultosas para gravar programas especiais para a TV. Em 1978, quando o Programa Banco de Memória, da TV Globo, gravou, em seu apartamento, o depoimento da irmã Linda, entrevistada por Ricardo Cravo Albin, a equipe ficou esperando por Dircinha mais de três horas, sem qualquer resultado, pois ela recusava-se a sair de seu quarto. A depressão que já a acometia, piorando a partir daí.
Em 1985, Dircinha e as irmãs Linda e Odete foram encontradas no apartamento onde moravam, em Copacabana, em condições de completo abandono. Ela foi conduzida, em estado deplorável, pelo cantor José Ricardo, dois anos depois da morte de Linda, para viver numa cadeira de rodas no Hospital Dr. Eiras, onde faleceu em 1999. No mesmo ano, antes de seu falecimento, o espetáculo teatral Somos Irmãs, escrito por Sandra Werneck e interpretado por Sueli Franco e Nicete Bruno, contou as vidas de Dircinha e de sua irmã Linda nos palcos das principais cidades do Brasil, com enorme sucesso de público.
Dos 121 sucessos carnavalescos que nos deixou, estes ficaram para sempre na memória dos foliões e hoje fazem parte de coletâneas lançadas pelas gravadoras: A Coroa do Rei, samba, 1950; A Índia Vai Ter Neném, marcha, 1964; A Mulher Que É Mulher, samba, 1954; A Tirolesa, marcha, 1939; A Última Orquestra, marcha-rancho, 1971; Baile dos Casados, marcha, 1946; Barba Azul, marcha, 1940; E o Vento Levou, samba, 1941; Ela Foi Fundada, marcha, 1957; Forrobodó, marcha, 1941; Holandesa, marcha, 1941; Índio do Xingu, marcha, 1966; Juro, frevo-canção, 1940; Luar de Paquetá, marcha, 1940; Mamãe, Eu Levei Bomba, marcha, 1958; Máscara da Face, samba, 1953; Minha Terra Tem Palmeiras, marcha, 1959; Na Casa do Seu Tomaz, 1939; Não Se Sabe a Hora, samba, 1958; O Cachorrinho do Lalau, marcha, 1966; O Primeiro Clarim, marcha-rancho, 1970; O Último a Saber, marcha, 1963; Ó, Abre Alas, marcha-rancho; Oh! Suzana, marcha, 1943; Periquitinho Verde, marcha, 1938; Pirata, marcha, 1936; Se Eu Tivesse Um Milhão, samba, 1941; e Upa, Upa (Meu Trolinho) marcha, 1940.
Para relembrar um pouco essa grande Musa da MPB, escolhi 5 de seus grandes Sucessos.
Máscara da Face, samba de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, lançado no Carnaval de 1953:
O Primeiro Clarim, marcha-rancho de Klécius Caldas e Ruthnaldo, lançada no Carnaval de 1970:
Periquitinho Verde, marchinha de Nássara e Sá Róris, lançada no Carnaval de 1938:
A Coroa do Rei, samba de Haroldo Lobo e David Nasser, lançado no Carnaval de 1950:
A Índia Vai Ter Neném, marchinha de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, lançada no Carnaval de 1964: