O consumo de carne, particularmente produtos processados e carne vermelha, está associado a um aumento significativo no risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2. É a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que envolveu 1,97 milhão de participantes, e revela novas evidências sobre os efeitos do consumo de diferentes tipos de alimentos de origem animal na saúde. A pesquisa foi detalhada, ontem, na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology.
O novo trabalho usou dados do projeto global InterConnect, que inclui informações de 31 grupos de estudo em 20 países. A equipe de pesquisa, liderada pela professora Nita Forouhi da Unidade de Epidemiologia do Conselho de Pesquisa Médica (MRC) da Universidade de Cambridge, analisou os dados considerando fatores como idade, gênero, comportamentos relacionados à saúde, ingestão calórica e índice de massa corporal.
No entanto, as análises adicionais mostraram que a associação entre consumo de aves e diabetes tipo 2 era mais fraca, enquanto essa mesma relação para carne processada e carne vermelha não processada continuou significativa.
Conforme Fábio Moura, endocrinologista, e diretor nacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), conhecer melhor padrões alimentares e possíveis doenças é essencial. "A partir disso é possível personalizar uma diretriz, digamos assim, tentar adaptar aquilo ali para a realidade social e cultural das pessoas", ressaltou. "Você vai ter que julgar o padrão alimentar e a partir dele conseguir ver a importância de um certo alimento dentro desse padrão e, se for o caso, substituir. Tem dados muito fortes muito relevantes mostrando que substituir carne vermelha por peixe, por exemplo, diminui doenças cardiovasculares e câncer."
Para Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e membro da Obesity Society FTOS, nos Estados Unidos, os desafios para equilibrar o consumo de carnes são muitos. "Esses dados, de uma maneira geral, já são conhecidos, o que agora que vimos foi a análise de um patamar de consumo um pouco menor relacionado ao desenvolvimento de diabetes tipo 2. A partir desses dados, certamente, o futuro das prescrições dietéticas será focado de maneira muito mais forte para as carnes brancas e não diretamente para a carne vermelha."
Chunxiao Li, autor principal do artigo e membro da Unidade de Epidemiologia do MRC, explicou que, "enquanto meta-análises anteriores se basearam apenas em resultados publicados, nossa análise harmonizou dados individuais de cada estudo, permitindo uma avaliação mais precisa da relação entre consumo de carne e diabetes tipo 2."
O professor Nick Wareham, diretor da Unidade de Epidemiologia do MRC, acrescentou que o InterConnect permite estudar fatores de risco para obesidade e diabetes tipo 2 em uma ampla gama de populações. "Incluindo regiões sub-representadas em estudos anteriores. A inclusão de dados de países do Oriente Médio, América Latina e Sul da Ásia destaca a necessidade de mais pesquisas nessas regiões."