O milho é um dos principais produtos do agronegócio brasileiro, ocupando posição de destaque na economia e na segurança alimentar. Então, nada melhor do que o Dia Nacional do Milho, comemorado dia 24 de maio, para falar dessa cultura de grande importância para nosso país.
Segundo grão mais produzido no território brasileiro, o milho é um alimento nutritivo, energético, rico em fibras e em compostos bioativos, que faz parte da culinária nacional e também da alimentação de animais de produção.
Para saber mais sobre essa cultura conversamos com Lauro Guimarães, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo e Maria Cristina Dias Paes, Cientista de Alimentos da Embrapa Milho e Sorgo. Boa leitura!
Milho: cultura de grande importância para o agronegócio brasileiro
Grande produtor de milho, o Brasil se consolidou também como um dos maiores exportadores do mundo, superando a marca de 100 milhões de toneladas de grãos a partir da safra agrícola de 2018/2019 e exportando volumes que se aproximam das 50 milhões de toneladas.
O principal destino para o milho brasileiro é a China, que lidera as importações. Ainda na Ásia, destacam-se o Japão, a Coreia do Sul e o Vietnã. Na União Europeia, entre os maiores compradores estão Espanha, Portugal, Itália e Holanda.
No Oriente Médio, Irã e Arábia Saudita. Egito, Argélia e Marrocos são os principais destinos do milho brasileiro. Já na América Latina, o México e a Colômbia estão entre os principais importadores.
No presente ano agrícola (2023/2024), a estimativa de colheita está em 111,6 milhões de toneladas, com área de cultivo de 20,6 milhões de hectares e produtividade média de 5.415 kg por hectare.
Segundo Guimarães, a segunda safra é responsável por 77,2% da produção de milho no Brasil. “Isso demonstra a alta eficiência do agronegócio brasileiro, com dois ou mais cultivos conduzidos na mesma área a cada ano agrícola”.
O mercado interno consome cerca de 60% a 65% da produção total do País, o que corresponde a aproximadamente 75 milhões de toneladas de milho por ano.
“Este volume se destina principalmente à produção de ração animal (60%-70%), atendendo a criações de aves, suínos, bovinos e outras categorias. O restante se divide entre o consumo humano (milho verde, canjica, pipoca e pamonha, entre outros) e a indústria (fubá, farinha, amido, óleo e etanol, entre outros produtos e derivados)”, complementa o pesquisador.
Etanol de milho também se destaca
O etanol de milho também vem representando uma excelente fonte de energia renovável, contribuindo para a descarbonização da matriz de combustíveis do País.
Neste ramo, o Brasil se consolida como o segundo maior produtor de etanol de milho do mundo. Na safra 2023/2024, a estimativa é de que o País produza cerca de 6,27 bilhões de litros desse biocombustível, contribuindo para o fortalecimento de uma matriz energética sustentável e menos poluente.
“Essa indústria cresce e estabelece novas plantas de processamento, consumindo aproximadamente 14 milhões de toneladas de milho (neste ano de 2024), estimulando vários elos da cadeia produtiva, gerando renda, empregos e agregando valor com a produção do etanol e outros produtos”.
Entre estes produtos se destacam: óleo de milho, DDG (dried distillers grains ou grãos secos de destilaria) e DDGS (dried distillers grains with solubles ou grãos secos de destilaria com solúveis).
“Esses dois últimos coprodutos são ricos em fibras e proteínas, destinando-se para a produção de ração animal”, complementa Guimarães.
Benefícios nutricionais do milho
Além da sua grande importância mercadológica, o milho possui ainda alto valor nutricional. O cereal apresenta uso intenso na alimentação humana, e é também matéria-prima em vários processos industriais, tanto em indústrias alimentícias como em não alimentícias.
“Por ser um alimento de baixo custo e de cultivo viável, em grande e em pequena escala, o milho é a base de diversas cadeias agroindustriais”, destaca Maria Cristina Dias Paes.
O milho é um alimento nutritivo, fonte de carboidratos, rico em fibras e constitui importante ingrediente na culinária típica nacional. Cem gramas de farinha de milho contêm cerca de 370 calorias, distribuídas em carboidratos (70 g), proteínas (10 g) e óleo (4,5 g).
“Os carboidratos compõem a maior parte do grão de milho, cerca de 80%. A concentração de minerais no grão é da ordem de 1%. Além dos nutrientes, o milho possui nos grãos várias substâncias de importância biológica”, diz a pesquisadora.
Os principais derivados do milho produzidos no Brasil são elaborados industrialmente, por meio da moagem dos grãos secos via seca. Eles são a canjica, as farinhas e os grits. Estes últimos dão origem a outros produtos alimentícios, como flocão, cereais matinais, farinhas instantâneas e salgadinhos.
Do milho verde, são originados alimentos muito apreciados pelos brasileiros, como o mingau, o curau, o creme, a pamonha, a canjica, o mugunzá, espigas de grãos cozidos ou assados e produtos de panificação, como bolos e biscoitos. A pipoca, feita a partir de um tipo especial de milho, também é bastante apreciada.
O milho verde em conserva, congelado ou ainda o minimilho são utilizados em várias preparações culinárias. O milho na forma de grão seco é um cereal, e verde é considerado como uma hortaliça.
Por meio da moagem via úmida, é originado o amido de milho, amplamente utilizado na fabricação de alimentos, inclusive os voltados à alimentação infantil, molhos, produtos de panificação, sopas, massas, condimentos, entre outros.
Desse processo é ainda gerada a zeína do milho, fração protéica utilizada na produção de filmes e coberturas comestíveis aplicados com o objetivo de estender a vida de prateleira de produtos perecíveis, como frutas.
Avanços da tecnologia: temos muito a comemorar
Não há como contestar, o dia nacional do milho é uma data que tem que ser muito comemorada pelo agronegócio brasileiro, especialmente pelo seu avanço tecnológico.
O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo destaca que o desenvolvimento e a adoção de tecnologias de cultivo estão entre os fatores que impulsionaram o Brasil a se tornar um grande produtor de milho no cenário mundial.
“Em comparação com o ano agrícola de 1980/1981, a área plantada com milho aumentou apenas 1,7 vez, enquanto os incrementos na produtividade e na produção total foram de 3,1 e 5,2 vezes, respectivamente”, cita Guimarães.
Segundo o pesquisador, a produção, de forma mais tecnificada na segunda safra, foi o grande motor para essa revolução do milho no Brasil.
Isso se deu por causa de vários fatores, começando pela correção de solos e adoção massiva do sistema de plantio direto, que proporciona maior agilidade de plantio, capacidade operacional, proteção do solo e reciclagem de nutrientes.
Outros fatores também contribuíram com esse resultado, como:
- Adubação de sistemas para o binômio soja-milho;
- Proteção de cultivos por meio do tratamento de sementes, controle de pragas, de doenças e plantas daninhas;
- Utilização de sementes de híbridos simples e triplos, portadores de eventos transgênicos.
O pesquisador ainda explica que cerca de 80% dos híbridos de milho são transgênicos, principalmente para controle de pragas e tolerância a herbicidas.
“Esse fato contribui fortemente para a redução de uso de inseticidas e a maior facilidade de manejo das lavouras, trazendo benefícios econômicos e para a saúde de pessoas e meio ambiente”, destaca.
Além disso, nesses últimos anos, houve a intensificação dos sistemas de cultivo em que o milho é um importante componente, como:
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF e suas variações);
- Antecipação de cultivos (como o Sistema Antecipe);
- Aumento do uso de tecnologias mais amigáveis.
Nesse contexto, destacam-se a utilização do controle biológico de pragas e o uso de inoculantes, como os estimuladores do crescimento de plantas, os fixadores de nitrogênio (N), os solubilizadores de fósforos (P), e os protetores contra estresses abióticos como a seca etc.
“Esse cenário, além de proporcionar ganhos em produtividade, permite a otimização do uso da água e dos fertilizantes, contribui para a preservação ambiental, a conservação dos recursos naturais e a produção de alimentos de forma mais sustentável”, afirma Guimarães.
Em suma, o milho já se consolidou como um cereal estratégico e de alto valor no agronegócio brasileiro, com grande importância para a economia, para a segurança alimentar e para o aumento da sustentabilidade da matriz energética do País.
A liderança do Brasil no mercado internacional se deve à capacidade produtiva e à competitividade, que vieram justamente pela adoção de tecnologias inovadoras, práticas sustentáveis e pelas contribuições do setor de pesquisa e desenvolvimento.
O crescimento do valor bruto da produção de milho depende da continuidade de investimentos, aliando avanços tecnológicos à sustentabilidade, ampliação da infraestrutura e melhorias na logística, bem como da agregação de valor em produtos transformados.
Com investimento, inovação, força e resiliência do produto brasileiro, será garantida a posição do Brasil como referência global na produção de milho. Ou seja, o produtor tem muito a comemorar no dia nacional do milho.