Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo segunda, 08 de março de 2021

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: AÍDA SANTOS, UMA DAS PIONEIRAS DO ESPORTE BRASILEIRO

 

'Diziam que eu não ia mudar o mundo. Eu respondia que também não me mudariam’, diz Aída dos Santos, uma das pioneiras do esporte brasileiro

No Dia Internacional da Mulher, a ex-atleta de salto em altura conta como a educação lhe deu voz
 
Aída dos Santos, primeira atleta brasileira a chegar a uma final olímpica, Tóquio-64 Foto: Roberto Moreyra
Aída dos Santos, primeira atleta brasileira a chegar a uma final olímpica, Tóquio-64 Foto: Roberto Moreyra
 

Aída dos Santos nunca se calou. Em 1972, oito anos depois de se tornar a primeira brasileira a disputar uma final olímpica, a atleta do salto em altura foi cortada dos Jogos de Munique por reafirmar em rede nacional, no Programa Flávio Cavalcanti, que viajou a Tóquio sem apoio — era a única mulher entre 68 competidores e terminou sua prova em 4º lugar, sem técnico, com pé torcido e sapatilhas emprestadas.

— Tenho certeza de que os dirigentes me respeitavam. Mas gostar de mim, não gostavam. Meus pais diziam que eu não ia mudar o mundo. Eu respondia que também não me mudariam.

E não mudaram. Aos 84 anos, completados recentemente, só a pandemia parou Aída dos Santos. O lar no Fonseca, em Niterói, tornou-se seu refúgio ao lado do marido. De lá, só sai para o essencial, como tomar a primeira dose da vacina contra o coronavírus na semana passada. Em breve, totalmente imunizada, espera retomar a rotina: jogar vôlei com as meninas, como chama as amigas do time de masters. Antes da chegada da Covid-19, viajavam pelo Brasil e pelo mundo em competições da categoria.

Aída dos Santos com o diploma de participação dos Jogos de Tóquio, em 1964. Ela ficou em quarto lugar no salto em altura
Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
Aída dos Santos com o diploma de participação dos Jogos de Tóquio, em 1964. Ela ficou em quarto lugar no salto em altura Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

A mente segue ativa. A octogenária mantém a voz firme daquela jovem de 27 anos, pobre e negra, que surpreendeu ao saltar 1,74m nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Com o passar do tempo, ao discurso forte foi acrescido um tom professoral, resultado da vida acadêmica acumulada. É formada em Pedagogia, Geografia e Educação Física, curso em que lecionou por anos na Universidade Federal Fluminense (UFF).

— Fiz uma faculdade, outra e outra, para poder me impor. Vi muito atleta que chegava nos lugares, viajava, mas ficava num canto isolado. Não socializava, não conhecia pessoas novas, pois não sabia se comunicar, se impor — conta ela, que conseguiu estudar graças ao esporte, mas que alcançou vida confortável devido aos anos como professora. — Se eu não fosse atleta, o que eu seria, morando no morro, filha de lavadeira? Não sei. Estudei na Gama Filho com bolsa.

O atletismo veio por acaso. A paixão era vôlei. Na juventude, a menina do Morro do Arroz, favela de Niterói, tentava reunir colegas para jogar na quadra do Caio Martins.

O vôlei, naqueles anos 1950 e 1960, era sonho distante. Algumas amigas, também negras, ouviram, no Botafogo, que “negro não joga vôlei”, e mandaram as jovens para o atletismo. Aquilo assustou Aída.

Nem sempre ela conseguia quórum para jogar. Foi num desses dias que, para não perder a carona, aceitou ir ao treino de atletismo com a vizinha. Saltou 1,40m, surpreendeu e começou a competir — escondida da família.

Aída dos Santos, Olimpíada de Tóquio, em 1964 Foto: ArquivoAída dos Santos, Olimpíada de Tóquio, em 1964 Foto: Arquivo

Aída mal conhecia a modalidade. Só tinha ouvido falar de Adhemar Ferreira da Silva, considerado o maior atleta brasileiro. Mas percebeu que ali poderia ter um futuro diferente da mãe lavadeira e o pai pedreiro, ambos analfabetos. Aos irmãos, dizia que “precisavam pensar no dia de amanhã”, mas recebia como resposta que “Deus deu hoje, e amanhã Deus dará”.

Vôlei na terceira idade

O ‘não’ ouvido aos negros no vôlei está longe de ser o único. A ele se somam as negativas por ser mulher e pobre. Aguentou as surras do pai por insistir no esporte, sem “levar dinheiro para casa” e o racismo nada velado de professores e dirigentes de clubes, para quem “a crioula não devia estar ali”.

Mais recentemente, um desconhecido bateu na porta da sua casa e ao vê-la disse que queria falar com a responsável. Ela prontamente respondeu que ela era a dona e não iria falar com ele.

— Acho que está melhorando, mas poderia melhorar mais. No esporte também. Principalmente no individual, que depende muito do índice. Se tivessem mais voz e falassem o que veem...

Só aos 60 anos, já na categoria master, ela pôde viver a grande paixão. Também realizou o sonho por meio da filha Valeskinha, campeã olímpica em Pequim-2008.

— As pessoas dizem que como naquela época eu não pude jogar, coloquei a Valeska. Mas ela precisou escolher entre o atletismo e o vôlei e escolheu o vôlei — conta Aída, que também incentivou esporte para os filhos Sérgio e Patricia, que seguiram outros caminhos.

Já aposentada, foi uma das vozes contra a derrubada do Célio de Barros, onde competiu pelo Vasco e Botafogo. Aos 84 anos, depois de tantas batalhas, Aída se sente confortável para dizer, sem ressentimentos, que não tem o reconhecimento à altura. Ela está na galeria de ídolos em General Severiano, dá nome de pista de atletismo da UFF e tem um painel no Caminho Niemeyer, em Niterói.

 

No Dia Internacional da Mulher, certamente é uma grande inspiração. Mas não foi chamada para os Jogos do Rio nem para Tóquio pelo COB — se foi a única mulher em 1964, a estimativa do comitê é de que entre 40% e 45% da delegação nos Jogos de julho seja de mulheres. Valeskinha lamenta a falta de homenagens:

— Em outros países só por ter ido competir nos Jogos, é um grande herói. Falta respeito pela história dela e por quem ela foi.


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