Raimundo Floriano
Palhaço Seu Mundinho e Velho Fulô
10 de dezembro! Dia do Palhaço!
É o dia deste palhaçote que, 80 anos completados, continua fazendo-se de engraçado e na maior frustração por nunca ter conseguido montar seu próprio circo ou ser, ao menos, um velho de pastoril.
Experiência não me faltou!
Lá em Teresina, Piauí, no ano de 1956, eu andava numa pindaíba que fazia dó! Aos vinte anos, essa prontidão era de lascar, doía fundo.
Certo dia, deparei, na Praça Rio Branco, com ex-companheiro de farda, o Adriano, ou melhor, o Jatobá, palhaço e acrobata de circo, cuja trupe se encontrava em exibição no bairro Piçarra. Conversa vai, conversa vem, contei-lhe minha desventura monetária, e ele, penalizado, prontamente me acenou com uma viração lá no circo, não era coisa muita, apenas para garantir o vício tabagista.
Ante meus argumentos de que nada entendia do traçado, Jatobá até me animou, dizendo que aquilo seria moleza, e que eu iria mesmo era resolver um problema deles, pois necessitavam de um substituto para o ajudante de palhaço, que adoecera. Nessa função, também chamada de escada – explicou-me –, eu contracenaria com ele, preparando a piada e sempre levando a pior no seu final. Comecei no dia seguinte!
O Cometa do Norte não tinha cobertura nem camarotes, só a arquibancada acomodava o respeitável público. Seu proprietário, Mister Kapa, era trapezista, mágico e hipnotizador. Jatobá, além de palhaço e trapezista, apresentava-se também nas argolas. Havia outros artistas, cujos nomes não me ocorrem, e a rumbeira Francisquinha, que dançava seminua, rebolando e cantando paródias com letras bem apimentadas, constituindo-se na segunda atração da companhia. A primeira, o grande sucesso daquele mambembe, era a peça teatral que, com chave de ouro, fechava cada noite de espetáculo.
Acumulei o ofício de escada com o de relações públicas, fazendo propaganda pelas ruas do bairro. Não havia televisão e, ademais, o circo não dispunha de recursos sequer para anúncio no rádio ou no jornal. A publicidade era feita no gogó mesmo, na forma usual em todos os circos de igual porte. Como eu não sabia andar de pernas de pau, utilizava outro meio, também muito conhecido: um jumento alugado. Às tardes, montado nele, de costas para a frente, ou de frente para o rabo, como preferirem, cara pintada, eu apregoava o evento de logo mais, seguido por ensaiado pelotão de meninos que, após a passeata, eram marcados com uma cruz na testa, o que lhes garantia a entrada grátis no show.
Muita água rolou por debaixo da ponte, de 1956 a 1990, quando eu, para relembrar o passado, procurei deixar na memória de meus parentes e amigos esse pregão encantador. Sempre que me é era dada a oportunidade, em festinhas infantis de aniversário, fazia empenho em repeti-lo, com minhas filhas Elba, 7 anos, e Mara, 5 anos, no papel da molecada, caprichando nas respostas. E, com enorme contentamento, posso dizer que essa malhação não foi em ferro frio.
A seguir, vídeo artesanal realizado em VHS por meu sobrinho Maurício Albuquerque, em julho de 1991, depois precariamente convertido para DVD, e, agora, em youtube.
Respeitável público, a seguir, o espetáculo
É PALHAÇADA
Estrelando
RAIMUNDO FLORIANO E SUAS FILHAS
Neste ano de 2016, ao completar 80, incorporei definitivamente as personalidades do Palhaço Seu Mundinho e do Velho Fulô, o que foi documentado nesta paródia ao Pastoril do Velho Faceta, no Arraial da Academia VitalRecor/2016, tendo a Doutora Cristina Calegaro, proprietária do pedaço, fazendo o papel de Filha do Velho. A Professora Olga tudo filmou.
CASAMENTO NO ARRAIÁ
Estrelando
VELHO FULÔ E SEVERINA RAIMUNDA