DIA DE NOSSA SENHORA DAS DORES - 15 DE SETEMBRO
HOMILIA - 15.09.24
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Na Semana Santa, uma das imagens que muitos guardam no coração é de N. Sra. das Dores. Com a influência devocional da península ibérica, fomos chamados, desde a infância, a ter esses momentos de contemplar os vários tipos de sofrimentos durante a Semana Santa. Uma das imagens marcantes durante esses dias é justamente a figura de Maria, a Senhora das Dores.
Nossa Senhora sempre guardou e meditou tudo em seu coração, desde quando recebeu a notícia de que seria mãe de Jesus, depois, durante a sua vida infantil e pública e até a sua Morte na Cruz. Maria não gritou, não tentou impedir que levassem seu filho para a morte de Cruz. No caminho do Calvário, Jesus encontra com sua mãe: é claro que Maria estava com muita dor interna, estava com o coração despedaçado, mas não externava, guardava para si, pois sabia, desde o início, com o anúncio do anjo, que a missão de ser a Mãe do Filho de Deus não seria nada fácil.
Depois, observamos Maria contemplando, em pé, ao lado do discípulo amado, ao seu filho, Jesus crucificado: ela estava ali, acompanhando os últimos momentos da vida do filho, em silêncio, guardando tudo em seu coração. Jesus entrega a sua mãe ao discípulo amado e o discípulo amado a sua mãe: “Filho, aí está a tua mãe. Mulher, aí está teu filho”, e, partir daí, o discípulo amado a acolheu consigo. Com esse gesto, Jesus entrega sua Mãe a toda humanidade, quando João a acolhe consigo, e toda a humanidade a acolhe, para ser a nossa Mãe.
Ao se encontrarem a Mãe e o Filho, um sente a dor do outro, são os olhares que se encontram e nessa troca de olhares um compreende a missão do outro. Com toda certeza, veio à memória de Maria tudo aquilo que passou em sua vida, desde que aceitou ser a mãe do Salvador, mas, em nenhum momento, ela se desespera. Desde o início, entendeu qual seria a sua missão. E, nos dias de hoje, ela continua intercedendo por nós lá do céu, e de lá eles também trocam olhares de amor e compaixão.
É incomensurável a dor da perda de um filho, mas devemos procurar ser sábios e entendedores da Palavra de Deus, assim como Maria, para compreender os planos de Deus para nossa vida.
A imagem de Nossa Senhora das Dores, com espadas cravadas em seu peito, interpreta o que Maria experimenta na vida, porque expressa o que ela sentiu ao ver o seu filho crucificado e sofrendo cruelmente por nós, como se uma espada atravessasse o seu peito. Maria tem um olhar puro, um olhar de amor, de carinho e, através desse olhar, ela nos encoraja a superarmos as situações difíceis que passamos. E nos ensina a superar as dores assim como ela superou.
Esse título de Nossa Senhora das Dores, assim como todos os outros, tem um grande significado, nasceu da dor, do sofrimento de ver o seu filho sendo morto na Cruz, e nos ensina a lhe dar com o sofrimento, com sabedoria, meditação e oração. Entender que é necessário que passemos por aquele sofrimento para que depois venha a alegria. Que algo tem por trás daquele momento difícil e, muitas vezes, não conseguimos enxergar. Que, ao olhar para trás depois de um tempo, possamos entender que foi um momento ruim que passamos, mas, depois, vem a consolação.
Nossa Senhora das Dores é também conhecida como Nossa Senhora da Consolação, ou seja, ela consola as nossas lágrimas com seu amor nos momentos difíceis da nossa vida. Ela nos consola, também, dando-nos a certeza da ressurreição.
Maria foi fiel à missão dada por Jesus. Após a Morte e Ressurreição de Jesus, ela acompanha os apóstolos em sua missão e estava no cenáculo quando tiveram a experiência da presença do Espírito Santo, que fez os discípulos saírem em missão para anunciar o Reino de Deus. E ela nos ensina, também, a sermos fiéis na nossa missão, vivendo o nosso batismo, anunciando o Reino de Deus.
Que Nossa Senhora, a Mãe das Dores, seja um sinal em todas as situações difíceis de nossa vida e interceda por nós neste tempo de sofrimentos e nos inspire a fé e a coragem para que não desanimemos nas situações de “morte” e nos ajude a crescer e a encontrar a “Ressurreição”.