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Rivoneide da Conceição com Maria Sophia e Maria Catarina: susto e nascimento antes da hora
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Mesmo sendo comum dizer que todo dia é Dia das Mães, o segundo domingo de maio não deixa de ser um motivo para encontros especiais. Almoços, reuniões de família e homenagens marcam a ocasião na maioria dos lares. No entanto, muitas mulheres passam a data no hospital. Para algumas delas, prevalece a apreensão pelos filhos que se recuperam. Em outros casos, porém, a situação é motivo de alegria pelo aumento da família ou pela melhora do quadro de saúde dos pequenos, como é o caso das gêmeas siamesas Lis e Mel, separadas há duas semanas (leia mais na página 18).
O quadro de espera de outras mães é parecido. Para Ana Gabriela dos Reis, 22 anos, o Hospital Universitário de Brasília (HUB) tornou-se uma segunda casa. Desde 26 de fevereiro, quando teve a primeira filha, Maria Heloísa, dois meses, a operadora de caixa não deixa a unidade de saúde. A bebê nasceu prematura — aos seis meses de gestação e pesando 700g — e segue internada, sem previsão de saída, na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.
Mesmo sem poder comer, Maria Heloísa ganhou um bolo para comemorar o momento em que chegou a 1kg. Ela se recupera aos poucos na incubadora, sob o olhar atento da mãe. Com apenas 39 centímetros, a bebê ainda se adapta ao espaço. De vez em quando, chora e tenta retirar o tubos de oxigênio conectado às pequenas narinas. Nessas horas, vestida com uma touca e um avental azul — itens indispensáveis na UTI neonatal —, Ana Gabriela a pega no colo para amamentar e compartilhar afagos. “Um médico chegou a dizer que ela ‘não era viável’. Então, para mim, é muito gratificante passar o primeiro Dia das Mães com ela no colo, sorrindo. Ela é um milagre. Eu a chamo de ‘mini-gigante’”, disse.
Para Ana Gabriela, a data ganhou um novo significado. “Ser mãe é uma coisa muito louca. Envolve um amor incondicional, uma coisa muito intensa. Será um dia muito feliz, mas também muito triste”, observou Ana Gabriela, que perdeu a mãe há três anos. “Eu estava muito perdida desde a morte dela. Então a Maria Heloísa se tornou minha força. É como se Deus a tivesse mandado para mim como um milagre, para renovar minha vida. Com ela, vejo que sou bem mais capaz do que pensei que seria”, avaliou a jovem.
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A empresária Vanessa Ferreira da Silva (centro) com a mãe e a filha: a força de três gerações
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Ana Gabriela dos Reis e Maria Heloísa: luta
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Surpresa
Na maternidade do mesmo hospital, a esteticista Rivoneide da Conceição, 33, celebra com o marido, o advogado Rodrigo Ramos, a chegada das primeiras filhas, as gêmeas Maria Sophia e Maria Catarina, de três dias de vida. Apesar de saudáveis e de estarem fora da UTI, as meninas nasceram após oito meses de gestação e, por isso, devem passar mais alguns dias no HUB.
As duas meninas vieram de surpresa, segundo Rivoneide. “Depois que fiz a ecografia, a médica comentou que entrei com um bebê e saí com duas”, brincou. O parto perto do Dia das Mães também foi inesperado. “Meu marido até brincou com isso. Eu nem estava preparada. Será uma bênção passar a data com essas duas princesas”, garantiu Rivoneide.
Mesmo com uma leve hemorragia durante a gravidez, a fase foi tranquila para a mãe de primeira viagem. Ela contou que, desde a descoberta da maternidade, mudou a forma de enxergar o mundo e que, com duas meninas, a preocupação será em dobro. “Elas vieram para somar. Todos na família estão muito felizes. Desejo apenas o melhor para elas, que sejam mulheres bem sucedidas e com uma mentalidade boa. E espero ter muita sabedoria para lidar com tudo isso”, pontuou a esteticista.
No aguardo das cirurgias
Por trás dos olhos cansados de Sandra Pereira Valadares, 36, há vestígios da esperança pela melhora do segundo filho. Este não é o primeiro Dia das Mães dela em uma unidade de saúde acompanhando Arthur Valadares, 5. Desde que o pequeno nasceu, passar datas comemorativas em hospitais tornou-se algo rotineiro para ela e o marido, o vigilante Osvan Gomes da Silva, 40.
Arthur nasceu com apenas um rim e lida com problemas no sistema excretor. Ao longo de tão poucos anos de vida, ele já passou por cinco cirurgias. Em uma delas, em 2015, quase morreu após sofrer duas paradas cardíacas. A sensação de nó na garganta durou exatos 15 minutos e 48 segundos — tempo cravado na memória da mãe. “Ele estava na UTI (unidade de terapia intensiva), entubado, e ficou com sequelas. Perdeu a fala, não anda. Foi um momento bem difícil. Sempre que ele vai para alguma cirurgia, vem aquela angústia e passa um filme na cabeça da gente”, confessou Sandra.
Sandra e Osvan deixaram a cidade de Araguacema (TO), onde moravam com os dois filhos, após conseguirem a transferência de Arthur para o Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). Desde que ele chegou à unidade de saúde, em 29 de março, os pais se revezam nos cuidados. Enquanto isso, eles se instalaram provisoriamente na casa da cunhada de Sandra, em Planaltina (DF).
Arthur ainda precisa passar por duas outras cirurgias antes de receber alta, mas a data só será marcada depois de ele terminar o tratamento com remédios. A necessidade de passar Natal, Ano Novo, aniversários e Dias das Mães com o filho no hospital não tira as expectativas de Sandra nem a desanima. “Não parei para pensar no ano que vem, mas espero que ele esteja melhor, recuperado e com saúde. Quando vamos fazer exames fora daqui, ele fica bem feliz, então, o que mais quero é sair com ele para passear, porque ele gosta bastante”, completou.