DEZESSETE DE NOVEMBRO
Medeiros e Albuquerque
(Por ocasião da partida de D. Pedro II)]
Pobre rei a morrer, da velha raça
dos Braganças perjuros e assassinos,
hoje que o sopro frio da desgraça
leva os teus dias, leva os teus destinos
do duro exílio para o longe abrigo,
hoje, tu que mataste Pedro Ivo,
Nunes Machado e tantos mais valentes,
hoje, a bordo da nau, onde, cativo,
segues, deixando o trono hoje tu sentes
que enfim soou a hora do castigo!
Pobre rei a morrer, - de Sul a Norte,
a valorosa espada de Caxias
com quanta dor e quanta nobre morte
da nossa história não encheu os dias,
de sangue as suas páginas banhando!
Digam-no dos Farrapos as legendas!
Digam-no os bravos de 48!
Falem ainda as almas estupendas
de 17 e 24, afoito
grupo de heróis, que sucumbiu lutando.
Alma podre de rei, que, não podendo
ganhar amigos pelo teu heroísmo,
as outras almas ias corrompendo
pela baixeza, pelo servilismo,
por tudo quanto a consciência abate,
- alma podre de rei, procura em volta
do teu ruído trono desabado
que amigo te ficou, onde a revolta
possa encontrar indômito soldado
que lhe venha por ti dar-nos combate.
De tanta infâmia e tanta covardia -
só covardia e infâmia, eis o que resta!
A matilha, a teu mando, que investia
contra nós, - nesta hora tão funesta,
volta-se contra teu poder passado!
Rei, não se ilude a consciência humana...
Quem traidores buscou - acha traidores!
Os vendidos da fé republicana,
os desertores de ontem - desertores,
hoje voltam do teu pra o nosso lado!
Vai! Que as ondas te levem mansamente...
Por esse mar, que vais singrar agora,
- arrancado a um cadáver ainda quente -
anos há que partiu, oceano a fora,
o coração do heróico Ratcliff.
A mesma vaga que, ao levá-lo, entoava
do livre mar eterno o livre canto,
como o não redirá, sublime e brava,
ao ver que passa no seu largo manto,
da monarquia o lutuoso esquife!