Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Do Jumento ao Parlamento sexta, 30 de dezembro de 2016

DEZ SEGUNDOS DE GLÓRIA

DEZ SEGUNDOS DE GLÓRIA

Raimundo Floriano

 

 

                        Quando tomei posse como funcionário concursado da Câmara dos Deputados, em março de 1967, a 43ª Legislatura, iniciada no dia primeiro, ainda engatinhava.

 

                        Não existiam os Anexos III e IV, nem gabinetes individuais, e por isso os deputados só se viam mesmo era nos plenários, nas agências bancárias ou na sala privativa, que funcionava onde hoje é o café também privativo, com uns três datilógrafos e telefones para ligações interurbanas a sua disposição.

 

                        Assim, vindo de casa diretamente para as reuniões nas Comissões ou para as sessões, os deputados quase não tinham oportunidade de confraternizar ou de se relacionarem, e os novatos, que eram a maioria, praticamente não conheciam uns aos outros. Só algum tempo depois é que foi instituído aquele distintivo dourado que agora os parlamentares ostentam na lapela.

 

                        Eu, também recém-chegado, gorduchinho, óculos de aros de tartaruga, terno escuro, semblante solene, costumeiramente era saudado pelos guardas, na portaria do Edifício Principal, com atenciosas continências, o que não me causava espécie, pois, egresso da Polícia do Exército, atribuía aquilo às últimas honrarias prestadas ao velho sargentão.

 

                        Mas não eram não. Um dia, estando eu no balcão do Banco do Brasil, a preencher uma ficha, aproxima-se alguém, bate no meu ombro e pergunta:

 

                        – Tudo bem?

                        Virei-me. Era um deputado novato. Falei:

                        – Graças a Deus!

                        E ele:

                        – O colega representa qual Estado?

                        – Sou maranhense – respondi.

                        – Você viu o Ney? – Interrogou.

                        E eu:

                        – Que Ney?

                        – O Ney Maranhão, pô! Estou doido para falar com ele – disse o deputado novato, afastando-se.

 

                        Percebi então que tanto os seguranças quanto o deputado me supunham também um parlamentar principiante.

 

                        Se toda pessoa, como é sabido, tem na vida quinze minutos de fama, eu, devido a tais confusões, de minha parte involuntárias, tive já meus dez segundos, conforme adiante se verá.

 

                        Lotado na Diretoria do Patrimônio, no 9º Andar do Anexo I, estava eu, certa manhã, concentrado num complicado processo de licitação, quando entra na sala o baiano Euclides Neres de Santana, o portador dos bons boatos, apregoando a plenos pulmões:

 

                        – Olhaí, rapaziada, a Caixa Econômica abriu inscrição para empréstimo!

 

                        Foi um verdadeiro rebu. Todos, mais de vinte, saíram em desabalada carreira rumo aos elevadores e às escadas. Menos eu, que preferi me informar melhor. Dirigi-me ao Euclides:

 

                        – Rapaz, como é que a gente se inscreve?

                        – Ora, sargento, é só ir lá, botar o nome no livro preto, e esperar.

 

                        Desci. Chegando à Caixa, topei com uma grande barafunda, um empurra-empurra, um abafa daqui, um aperta dali, o bolo formado, e já ia desistindo, quando percebi dois contínuos do Plenário conversando junto ao bafafá, e o livro preto bem ao lado, sem que os outros notassem.

 

                        Discretamente, peguei o mencionado, que já continha calculadamente umas quinhentas assinaturas, deixei meu nome na primeira linha em branco e, igualmente de fininho, voltei para o Patrimônio. Os outros levaram um tempão para retornar. Com mais um pouco, encerrou-se o turno matutino.

 

                        À tarde, aconteceu!

 

                        Começa a Sessão Vespertina. Os alto-falantes, em sua totalidade, ligados. É lido o expediente. Tem início o período de breves comunicações. Preside os trabalhos, cumprindo escala, o deputado Lacorte Vitale, Primeiro Suplente da Mesa. Os oradores vão-se alternando na tribuna, quando o Senhor Presidente anuncia:

 

                        – Com a palavra o nobre deputado Raimundo Floriano!

 

                        (Pausa)

 

                        – Tem a palavra o nobre deputado Raimundo Floriano!

 

                        (Pausa)

 

                         Ausente!

 

                        O livro que eu assinara, no tumulto da Caixa Econômica, era o de inscrição para o Pinga-Fogo.

 

 

Pinga-Fogo: parte da Sessão em que os  oradores se revezam ao microfone,

de cinco em cindo minutos

 

"


terça, 07 de abril de 2020 as 07:13:20

JOSE CARLOS CHARAMBA DUTRA
disse:

Onde consigo a oração com áudio daquela época,?


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quinta, 17 de setembro de 2020 as 07:32:21

Izael Viégas B da Nóbrega
disse:

Caríssima Nara Rios, é uma honra saber a origem desta belíssima oração, a qual ouvi tantas vezes quando menino. Farei questão de passar adiante, ressaltando o verdadeiro autor dedta obra preciosa. Um abraço.


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