Toda avaliação de um jogo na altitude deve ponderar o efeito físico de um confronto entre um time adaptado e outro não. Mas não é possível analisar uma partida que não ocorreu, é impossível dizer como seria o Flamengo x Del Valle ao nível do mar. É possível, sim, constatar que a diferença foi brutalmente maior do que a concebível caso os 2.750m de Quito fossem os únicos problemas do Flamengo. Um 5 a 0 como o desta quinta — maior derrota do clube na história da Libertadores — não se constrói por uma única razão.
O ar rarefeito não ajudou. Mas o plano de jogo para lidar com o tema jamais funcionou, o rubro-negro foi amplamente superado na parte tática e técnica. E a partir do segundo tempo, exibiu uma assustadora mistura de desgaste e impotência, animicamente derrotado.
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O pior é que resultados tão escandalosos deixam marcas. Domènec Torrent já assumira a mais ingrata das missões: substituir um técnico que fez história. Era ingênuo imaginar que a transição para uma cultura de jogo tão diferente não teria atropelos. Talvez não se imaginasse tamanho trauma no caminho. Se era preciso um momento de ruptura, simbolicamente definitivo para mostrar que uma era terminou e um novo time precisa ser construído sobre novos pilares, novas ideias, talvez o jogo de ontem seja este marco. Mas o Flamengo vai precisar passar por um teste de convicções, reafirmar a crença no modelo de jogo que diz ter escolhido meticulosamente em seu processo seletivo. O novo técnico teve pouquíssimo tempo, mas a expectativa é por sinais mais consistentes de evolução.
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Num jogo na altitude, é importante tentar entender a ideia concebida para minimizar a vantagem dos donos da casa. E o plano de Torrent passou longe de funcionar. A escalação com cinco homens com características de meias junto a Gabigol, sem um atacante incisivo, veloz, sugeria que o Flamengo pretendia se agrupar e “descansar” com a bola, evitar correr atrás do ótimo Del Valle. Jamais o fez
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Primeiro, porque o Flamengo nunca soube superar a pressão ofensiva dos equatorianos. E nos raros momentos em que conseguia se organizar para atacar, o time excessivamente espaçado não tinha toques curtos, tampouco esticadas em velocidade, porque as características dos jogadores, com Everton Ribeiro e Arrascaeta partindo dos lados, não permitia. O Flamengo era inofensivo.
Mais grave era o quadro quando o Del Valle tentava sair jogando, sua especialidade. O Flamengo não buscava sufocar atrás de um bote rápido, mas adiantava meias e atacantes tentando cortar linhas de passe. Gabigol tentava bloquear o volante Pellerano, que se colocava entre os zagueiros equatorianos para a saída de bola. Quando dava o passe lateral para um dos zagueiros, Gerson ou Diego, que foram dois meias no 4-3-3 do Flamengo, adiantava-se para a pressão. Neste momento ocorria ou uma esticada em diagonal para as pontas ou um passe no buraco gerado às costas do meia rubro-negro que se projetava. Um estrago. Arão ficava sozinho contra os meias Moisés Caicedo ou Faravelli. E, para piorar, os laterais Preciado ou Beder Caicedo atacavam em diagonal pelo meio.
Ainda assim, o Del Valle demorou a ter chances claras, mas dominava. Aos 40 minutos, Beder Caicedo surgiu naquele buraco do meio-campo e iniciou a bonita trama do gol de Moisés Caicedo.
Dome voltou do intervalo com Bruno Henrique na vaga de Diego. Talvez o plano fosse cadenciar no primeiro tempo e ser mais veloz no segundo. Passou a um 4-2-3-1 com Arrascaeta como meia central e Bruno Henrique na esquerda. O Flamengo até fez um bom lance ofensivo com Isla e Gabigol teve a chance do empate. Mas nunca se saberá se era um sinal de melhora, porque uma bola perdida resultou em contragolpe e gol do lateral Preciado, outra vez pelo meio: 2 a 0
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O cenário exibia um Flamengo batido, cujas ideias não combinavam com a postura. Até se posicionava para marcar a saída de bola, mas sem agredir. O Del Valle trocava passes e via um latifúndio se abrir. Eram 13 minutos quando Torres ampliou.
Para o futuro, resta entender se era só cansaço ou desorientação diante de uma forma de jogar nova. Porque a introdução de um trabalho novo após tantas vitórias exige crença dos comandados. E o Flamengo perdeu a capacidade de competir, parecia abatido mesmo após cinco substituições.
Uma imagem do descalabro foi a forma como Rodrigo Caio foi facilmente batido em outro contragolpe, desta vez definido pelo toque de letra de Sanchez. Já era um passeio, finalizado com outra jogada do lateral Beder Caicedo, autor do quinto gol.