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Wellyson Feijão, morador de Samambaia Norte: "Passei seis meses sem conseguir nada e, há duas semanas, voltei a trabalhar" |
Desde a crise sanitária causada pelo novo coronavírus, em 2020, o aumento do desemprego é uma preocupação constante para os trabalhadores. No Distrito Federal, contudo, a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), aponta, pelo terceiro mês consecutivo, queda nos índices de pessoas sem vagas no mercado de trabalho. A capital do país recuou de 19,6% da taxa total, em abril, para 18,2% em julho.
Após seis meses desempregado, Wellyson Feijão, 20 anos, atendente e morador de Samambaia Norte, foi um dos que conseguiram voltar ao trabalho. “Quando a pandemia começou, a empresa precisou fazer alguns cortes, e eu também fui incluídos nesse pacote”, relata.
Wellyson conta que depois de muito esforço conseguiu um novo emprego. “Mas chegou a segunda onda e sofri com uma nova demissão na empresa em que trabalhava. Passei seis meses sem conseguir nada e, há duas semanas, voltei a trabalhar”, destaca.
Os dados da PED-DF apontam para um crescimento na atuação de jovens entre 14 e 26 anos — a taxa caiu de 43,1% para 41,9%, se comparado a junho. A queda do desemprego também é acentuada entre jovens de 25 a 39 anos (de 18,7% para 15,6%) e para o público entre 40 a 49 anos (de 11,7% para 9,9%). O maior crescimento, se analisado por setor, é dos empregados domésticos, que teve uma variação anual de 27,1%.
No entanto, o economista e membro do Conselho Regional de Economia, Newton Marques, frisa que é necessário um crescimento em todo o país. “Ainda não existe um estímulo tão relevante, a ponto de a gente poder captar essas estatísticas. No setor de comércio, por exemplo, há esse impacto (negativo) e uma queda muito grande de emprego. Setorialmente, é muito difícil um único local se destacar. O DF, ao menos, é blindado pelo setor público, mas precisamos de um cenário geral positivo, para uma retomada acentuada do emprego”, avalia.
Newton afirma que o ambiente interno também influencia no cenário do DF. “Estamos vivenciando uma renúncia (fiscal) muito grande do governo do DF em relação à arrecadação, como os descontos nos impostos, por exemplo. Mas perceberemos um impacto grande se a economia, como um todo, retomar o crescimento. O fenômeno do desemprego não se resolve localmente, ele é macroeconômico e o DF vai acompanhar o resto do país”, pontua.
Infomalidade
A pesquisa também revela uma queda na contratação com carteira assinada. No setor privado a contratação com CLT recuou -1,4%, enquanto sem carteira houve um crescimento de 22%. Além disso, no mercado de trabalho, há um desencontro nas filas de quem busca por uma oportunidade e quem contrata. Em muitos casos, falta mão de obra qualificada para o cargo. Uma das frentes do governo para mudar essa realidade é o Renova-DF, lançado em 31 de maio deste ano.
A primeira turma, com mil pessoas, recebe o diploma em 10 de setembro, após três meses de aulas teóricas e práticas ministradas por profissionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em cursos de carpinteiro, jardinagem, eletricista, encanador, serralheiro e pedreiro.
“Até o fim de dezembro, vamos selecionar mais 2,5 mil pessoas, sendo mil delas em setembro. Além disso, estamos em tratativas com o Sinduscon, a Asbraco e a Ademi para encontrar empresas parceiras que oferecem vagas para as pessoas capacitadas pelo programa”, explica o secretário de Governo, José Humberto Pires.
O programa, de acordo com o chefe da Secretaria de Trabalho, Thales Mendes Ferreira, proporciona uma diminuição constante da taxa de desempregados. “De forma geral, todos os dias ofertamos mais de 200 vagas de emprego, e a tendência é aumentar. Percebemos que, durante a pandemia, houve uma readaptação no mercado em geral, como home office, sistemas de entrega delivery, inclusão de novas tecnologias, como novos aplicativos de vendas, e isso estabilizou a empregabilidade”, informa Thales Mendes.
O secretário avalia que, com o avanço da vacinação, o mercado tende a crescer e voltar ao patamar de antes da crise sanitária. Para isso, o caminho é a qualificação profissional. “Estamos encerrando a primeira turma do programa de qualificação profissional Renova-DF e vamos iniciar os cursos para mais mil alunos. Estamos preparando o retorno da Fábrica Social, que é um grande programa de formação profissional. Além disso estamos nos últimos ajustes para contratação de mais cursos de qualificação em diversas áreas”, detalha.
Desburocratizar
Outro caminho para gerar postos de trabalho, segundo Matheus Silva de Paiva, coordenador do curso de economia da Universidade Católica de Brasília, é a desburocratização. “Novos empresários enfrentam desafios para conseguir adentrar no mercado. E vai além do custo que isso traz com papelada, mas na demora de posicionamento do governo. Com isso, muitas boas ideias morrem no Brasil, porque as pessoas não conseguem vencer essa primeira etapa”, explica.
Matheus afirma que a suspensão de várias atividades no DF, devido à covid-19, trouxe diversos impactos. “Os efeitos na economia não são imediatos, algumas empresas os enfrentam depois de um tempo. E muitos ainda estão lidando com os danos de terem vivido um lockdown. Junta isso ao que enfrentamos de falta de possibilidade para abrir um negócio, inovar com um projeto, temos esse cenário de muitas pessoas que querem e precisam trabalhar, mas não conseguem. O caminho é facilitar esse processo”, avalia.
Qualificação
O Renova-DF é um programa de qualificação profissional para pessoas com 18 anos ou mais, moradores do DF (nato, naturalizado ou estrangeiro em situação regular no país) e que estejam desempregadas. Uma parceria entre as secretarias de Trabalho, Governo e Transporte e Mobilidade; as companhias Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) e Energética de Brasília (CEB); o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF).
Três
perguntas para
Jusçanio Umbelino de Souza,
gerente de pesquisa socioeconômica da Codeplan
Por que ocorreu a diminuição
do número de desempregados?
Ela aconteceu devido ao acréscimo do nível de ocupação. Além disso, cresceu o emprego na administração pública, de 154 mil para 175 mil, assim como a atuação no setor de serviços, que passou de 952 para 972 mil ocupados. Dois setores ainda afetados são o de construção e de comércio, com queda de 3,1% e 2,7%, respectivamente. Aumentando a ocupação no setor público, aumentará o contingente de ocupados autônomos e empregados domésticos. Essa dinâmica possibilita uma recuperação do mercado de trabalho, mesmo que ela ocorra de forma gradual
Quais as projeções para o fim do ano?
Consideramos uma tendência que o índice de desemprego continue caindo. Em outubro, por exemplo, temos o Dia das Crianças e a movimentação do comércio é alta. Logo depois a indústria começa a se preparar para o fim do ano, que também traz um cenário positivo. Caso não ocorra nenhuma surpresa, as perspectivas são de queda no desemprego.
Quais medidas podem favorecer esse cenário?
O avanço da imunização projeta uma expectativa positiva. A segurança atrai os investidores e na medida que a gente alcançar um índice maior de vacinação da segunda dose e imunização plena da população, abriremos perspectivas para um avanço maior dos investimentos e contratações no mercado de trabalho.