O baiano Antônio Firmino viajou para rever amigos, colegas de turma de Engenharia em Maceió. Na manhã do sábado enquanto esperava um amigo no saguão do hotel, avistou uma senhora, pareceu-lhe familiar, achegou-se. O coração disparou, e a memória trouxe a imagem de uma adolescente alegre, bonita, ensaiava e dançava o rock nas festas. Madrinha de formatura, sua doce e inesquecível namorada. Firmino chamou-a pelo nome. Tereza!
Surpresa ela aproximou-se, o sangue ferveu-lhe, explodiu o coração ao reconhecer o amor de juventude, um grito saiu da goela e da alma. “Firmino! Não é possível”.
Abraçaram-se longamente, 40 anos de lembranças, sentimentos e desejos presos.
Arrefecidos os ânimos, sentaram-se no sofá sorrindo um para outro. Lágrimas presas nas faces de Tereza. Num relance, Antônio Firmino fez uma análise visual de sua ex-namorada. Tornou-se uma bela e apetitosa sessentona, cabelos castanhos longos e lisos envolviam o rosto delicado, olhos vivos brilhavam até pela emoção. Tereza interrompeu sua redescoberta.
– “O que está olhando? Eu estou em forma, graças a muita malhação, bisturi e hormônios.”
Conversaram bastante, Antônio resumiu sua vida, ainda trabalhava em construção, continuava morando em Salvador, estava em viagem solitário à Maceió para pensar na vida depois da morte da esposa, companheira de mais de 30 anos, há quatro meses. Foi bem casado, mas nunca havia esquecido aquele amor juvenil, puro e bonito da alagoana. Tereza emocionada deu um beijo em sua face, também resumiu sua vida, separou-se há três anos depois que lhe apareceu um câncer no seio, mas tem dois filhos e dois netos. Luta bravamente contra a doença maligna, cortou um seio, parece que conseguiu vencer, os últimos exames estavam ótimos. A perspectiva da morte transformou sua cabeça. Recomeçou a viver intensamente nesses últimos anos, por conta disso ficou má vista entre fuxiqueiros, o que pouco importa, a vida é uma dádiva. Sou uma coroa alegre que ama viver o que me resta.
Nesse momento apareceu Luciano, vinha buscá-lo. Cumprimentaram-se, ela o conhecia. Tereza perguntou onde era o almoço, ficou de telefonar para Firmino.
Passava um pouco das quatro horas, Antônio acompanhado de doze colegas de turma de Engenharia com esposas no restaurante se refestelavam de lagosta, peixe e camarão. Rolavam histórias, memórias e muito uísque. De repente apareceu Tereza, cumprimentou os casais, puxou uma cadeira, sentou-se ao lado de Antônio, cochichou no seu ouvido: “Não lhe largo mais”. O almoço terminou tarde.
Chegaram ao hotel às oito da noite de pilequinho, cantando antigas canções. No elevador se beijaram. Depois de um demorado banho se amaram como se o mundo fosse acabar. A ajuda azul foi determinante. Antônio Firmino ficou surpreso com o desempenho de Tereza, parecia uma loba no cio.
Toalhas na cintura, sentados no tapete, garrafa de uísque, os dois se abriram contando histórias de suas vidas. Tereza certa hora confessou que depois do tratamento do câncer, tomou muito hormônio, aguçou a libido, o sexo. Despertou-lhe uma inevitável necessidade de sexo. Alguns chamam de compulsão, é o pecado capital da Luxúria. Ela gosta de ser assim, só depois da separação e ver a morte perto teve a coragem de se desprender dos preconceitos. Durante o casamento foi correta com o marido, o amor burocrático a satisfazia.
Inesperadamente apareceu Firmino, namorado de sua juventude quando a virgindade era preservada e os desejos eram presos. Jamais ele saiu de suas lembranças e também do coração. Dormiram agarrados.
Amanheceu o domingo, Antônio Firmino acordou-lhe com um beijo no rosto. Ela abraçou-o, se amaram. Passaram o domingo na cama e na varanda conversando e se amando, curtindo a fascinante vista do mar do Maceió.
Continuaram quatro dias de amor sem sair do apartamento do hotel, comendo, bebendo, conversando, sorrindo, se amando felizes daquele encontro meio maluco, acidental. Nem o vício de Tereza em caminhar na orla, aconteceu.
Até que chegou a quarta-feira ingrata, Firmino deixaria o carro alugado no aeroporto, o avião decolava às 14 horas para Salvador, havia necessidade urgente de sua presença no escritório. Tereza o acompanhou até o aeroporto, sentada bem junto, o carro deslizava pela grande avenida. Num impulso ela o abraçou e beijou. Dirigindo e sorrindo ele pedia à amada, cuidado e juízo. Antônio estava às alturas de tanta excitação. Ao parar num sinal vermelho, um carro com três senhoras parou justaposto. As madames perceberam o que eles estavam fazendo, ficaram escandalizadas, fizeram o sinal da cruz, balançaram a cabeça repreendendo aquela falta de vergonha. O semáforo fez-se verde, Antônio acelerou, ao mesmo tempo saiu um gemido e um grito. “Sua maluca”. Continuaram correndo na avenida às gargalhadas.
Na hora do embarque despediram-se, beijos e lágrimas. Tereza ficou na varanda contemplando o avião decolar, a saudade bateu forte. Está programando viagem à Bahia necessidade em rever aquele amor, o mais puro de sua juventude. Juventude que ainda possui em seu corpo sessentão marcado pelo câncer. E soltar seus desejos que antigamente, há anos eram presos.
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