DESEJO INÚTIL
Francisca Júlia
[Ao querido mestre e amigo
Vicente de Carvalho]
Qualquer cousa afinal de belo escolher devo
Para em verso plasmar no esforço da obra prima:
Flor que viceja á sombra, aza que paira em cima,
Aroma de um pomar ou de um campo de trevo.
Aroma, ou asa, ou flor... Tudo o que diga e exprima
Perde, ao moldar-se em verso, o seu próprio relevo,
Porque sinto, mau grado a gloria com que escrevo,
Presa a imaginação no limite da rima.
Não vai pois provocar, e sem que isto te praza,
Minh′ alma, e por amor d′ arte que se não doma,
A mágoa que te dói e a febre que te abrasa:
O aroma, sente! Est’asa, admira! esta flor, toma!
Mas deixa continuar inexprimidas a asa,
A beleza da flor e a frescura do aroma.