DESCAMINHOS DAS ÍNDIAS – PARTE XI
(Fuga em Deli)
Robson José Calixto
Ele não estava se sentido bem, as energias e as experiências na Índia as estavam incomodando. A energia daquele mundo não combinava com a sua. Então tomou a decisão de antecipar sua volta para casa, antecipar sua viagem de volta. Nunca tinha feito isso antes e nem o faria depois. Tinha dias e tempo para ir, visitar e voltar do Taj Mahal, tão falado e aclamado. Simplesmente desistiu. O especialista disse para si mesmo: “- esquece!”
Começou a imaginar como faria isso. No dia seguinte, logo pela manhã, tendo em mente o fuso quebrado de 07 ou 08 horas e meia, procurou em Mumbai onde pudesse fazer uma ligação internacional custasse quanto custasse, pagaria, para sair dali tão logo possível. Achou um serviço de telefonia, entrou na cabine, discou os números e nada. Discou de novo e nada. Talvez estivessem no Brasil na hora do almoço. Deu mais um tempo e discou de novo o número que tinha. Finalmente o telefone atendeu. Era a atendente que conhecia, da empresa que tirara a sua passagem aérea. Então, a implorou que conseguisse um voo que o tirasse o mais rápido da Índia – nada contra o país, mas ambas as energias não vibravam em sintonia.
A atendente não entendeu, argumentou que falavam maravilhas da Índia, que era linda, com coisas interessantíssimas. Ele retrucou que ele não tinha tido boa experiência e só queria sair dali, por favor. Ela lhe falou que havia um voo da Air France saindo de Nova Deli para Paris no dia seguinte, logo após o almoço, por volta das 14 horas. Ele pensou: ótimo! Anotou na sua passagem os novos números dos voos e seus horários.
Arrumou as malas. Desceu à rua calçando sapatos pretos. O ascensorista olhou e dessa vez não ficou observando. Voltou à lojinha próxima ao Hotel Taj Mahal Palace, comprou seus salgadinhos e água mineral e direto para o hotel onde estava hospedado. Resolveu não sair mais até o dia seguinte. Mas começou a refletir sobre a sua viagem, de Mumbai para Deli, Deli-Paris, Paris-Rio e Rio-Brasília.
De repente algo lhe veio à mente que o deixou inquieto. Lembrou que naquele livro sobre a índia que comprara na sua primeira estadia, imprevista, em Mumbai, que era comum a simulação de ataques de gangues ao avistarem passageiros estrangeiros em táxis. O motorista do veículo dizia que precisava desviar do seu caminho, em particular à noite, para desviar desses ataques, dando volta na cidade com passageiro, de forma que a tarifa saísse bem mais cara. Não tinha jeito, o especialista tinha que se arriscar.
Na manhã seguinte acordou, pagou a conta e pediu que lhe chamassem um táxi para o Aeroporto de Mumbai. A conexão lhe permitia que chegasse por pó volta das 10 horas no Aeroporto de Deli e por lá ficaria até a saída do voo da Air France para Paris. Em pouco tempo o táxi preto com a parte superior de amarelo quase mostarda chegou.
Partiram, trânsito caótico. Muitos carros na rua, o pior eram os cruzamentos. Em um deles o táxi ficou parado por um tempo, devido a engarrafamento, então se aproximou uma mulher hindu, com seu sári lindíssimo em tons amarelos, marrons e dourados, pedindo esmolas. O especialista olhou, achou estanho ela se arriscar no meio daquele trânsito, quando de repente ela levantou a lateral do sári e lá havia um bebê dormindo, aconchegado ao corpo da mãe. Ele ficou impactado, meio sem chão, pegou rapidamente parte das rúpias que ainda tinha com consigo e deu à mulher.
A viagem seguiu em frente. Aeroporto. Check-in. Uma mala despachada, outra de mão, até que meio grandinha. Fila da imigração. Dessa vez mais esperto sobre a ansiedade dos hindus. Voo para Deli. Chapati, ficou com as frutas.
O avião pousou e agora, para onde iria? Perguntou aqui e acolá, com esforço entendeu que deveria pegar um elevador até a altura da rua e depois subir uma escadaria que o levaria até o embarque. Qualquer coisa era perguntar ao pessoal das companhias aéreas.
Pegou as suas duas malas, se dirigiu ao elevador e desceu. Quando as portas se abriram um monte de gente aglomerada na saída, esperando passageiros. Teve dificuldade para sair. Sentiu um calafrio no corpo. Olhou ao redor e observou dois caras de tez mais clara e de turbantes, se entreolharam. O especialista caminhou se desvencilhando das pessoas que obstaculizavam sua passagem. De relance viu que um dos caras de turbantes tocou com a mão ombro do outro e meneou a cabeça na direção do especialista e se moveram. O especialista acelerou o passo, olhando para trás, vendo os dois caras de turbantes caminharem em sua direção. Ele olhou adiante e viu a escadaria e não titubeou a alçou em passos largos, quase correndo, a escadaria em degraus duplos, carregando as suas duas malas. Os dois caras vieram trás, meio assustados com a agilidade do estrangeiro. O especialista com a adrenalina lá em cima e ofegando chegou ao topo da escadaria, quando viu uma seta com placa apontando para as companhias aéreas estrangeiras. Correu para lá, entrando em um corredor em curva, não muito bem iluminado. Disparado deu de cara com um senhor de aparência europeia que o perguntou em inglês para onde ia. Ele falou que estava procurando alguém da Air France e que estava fugindo de dois caras de turbante que estavam ao seu encalço desde que descera para a área de embarque. O europeu disse para o especialista entrar na sala próxima, justamente da Air France, e ficar lá, que verificaria o que estava acontecendo. Voltando indicou que não vira ninguém, provavelmente os dois tinham ido embora. Pediu para olhar os bilhetes do especialista, que explicou a mudança nos voos e horários. O funcionário d Air France checou em seu terminal os dados, dizendo que estava tudo ok e que o especialista deveria se dirigir ao terminal de embarque ao lado e esperar seu voo.
Mais calmo, o especialista pegou suas bagagens, caminhou pelo corredor, de uma olhada para fora, antes de se atrever a sair. Tudo livre. Caminhou por um pátio e entrou pelo terminal do Aeroporto de Nova Deli. Observou que não era muito grande e que só tinha um local, bem simples e pequeno, para comprar algo para comer ou beber.
Sentou em uma das cadeiras. Olhou ao redor. Era o primeiro no terminal. Não seria o último e nem imaginava o que estava para testemunhar ao longo das várias horas que ficaria por ali.
Fim da Parte XI. (16 de abril de 2017)
Nota: Este não é um texto de ficção, mas baseado inteiramente em fatos reais, para uma realidade de janeiro de 2002.