DESCAMINHOS DAS ÍNDIAS – PARTE VIII
(Nirvana em Mangalore)
Robson José Calixto
O romeno Dandu Pughiuc era o Chefe do Programa GloBallast e tinha um assistente australiano chamado Steve Raaymakers. O especialista em poluição marinha e Steve não se davam muito bem, vivendo às turras. Quando o especialista chegou ao Hotel Cidade de Goa Steve não estava, tendo sido informado que ele saíra com algumas suecas que conhecera ao chegar à Goa. Como assistente ele chegara antes de todos para organizar o evento, confirmar reservas, a infraestrutura cedida pelo Governo da Índia etc.
Mais um dia no Instituto Oceanográfico de Goa, palestras, sala de computadores, discussões, decisões sobre o Programa GloBallast etc. Tudo na rotina, mas Steve havia organizado um jantar para os convidados estrangeiros (Brasil, China, Ucrânia, África do Sul, Irã, Reino Unido, França) na localidade e praia de Mangalore, ao sul de Goa. Dessa vez um ônibus bom veio nos pegar. De novo Steve não apareceu para ir junto com a gente.
O jantar seria em um restaurante na beira da praia, tendo sido fechado só para os convidados do GloBallast. Era uma estrutura aberta, de bambu e madeira, algo bem praiano, em transado, sobre a areia, de tom mais escuro. Tinha um cara que botava som de boate, dance e ritmos caribenhos e flamencos, mesmo alguns zouks, que era uma delícia nos ouvidos do especialista e transmitia ondas de vontade de dançar no corpo dele, afinal frequentara dança de salão e se esmerara para dançar muito bem esses ritmos.
A comida já estava disponível sobre as mesas, a grande maioria frutos do mar, todavia com excesso de gordura, anéis de lula, peixes, bivalves, polvo, além de algumas saladas. O especialista pegou algum pouco de salada e um pouco de peixe, achando que iria ficar com fome e a noite seria bem chata. Olhou para o mar escuro, trocou algumas palavras e algumas conversas com o pessoal do GloBallast, que já apresentava cansaço pelos dias diretos em palestras e muita atenção no inglês.
Finalmente Steve chegou e trazia com ele cinco suecas que conhecera em Goa, uma mais bonita que a outra. Loiras, brancas, de olhos bem azuis ou esverdeados claros. O especialista pensou: “- de onde Steve tirara aquela mulherada? O quê elas estavam fazendo na Índia?”.
O especialista não se aproximou imediatamente das suecas, até porque estavam com Steve, e eles não se davam muito bem. Com o tempo, no entanto, começou a conversar com uma delas. Então começaram a ser tocadas músicas dos Gipsy Kings, que o especialista gostava muito. E saiu tão natural: “- quer dançar comigo?”. E os olhos azulados profundos da sueca brilharam, dizendo: “- OO.., Ok!”. A resposta dela insinuava que não esperava muito, talvez nunca mais esquecesse aquele brasileiro que conhecera em Mangalore.
Foram para a pista de areia, ambos de tênis, e o especialista tomou-a pelo braço e a guiou por aquelas músicas e ritmos que misturam sangue, suor, sexo, intimidade, intensidade, virilidade e paixão. Ela adorou, só que as outras quatro que ficaram de lado se sentiram enciumadas e o especialista percebeu isso nos olhos e no movimentar dos cabelos delas, dando sinais que também queriam estar ali e se envolver nos movimentos circulares, trançados dos braços, chicotes, movimentos de cabeças, aproximações corporais. De repente o esepcialista dançava com duas, trocava, voltava à primeira e os olhos das loiras parecem estrelas que iluminavam a noite.
E Steve olhou, estava sozinho e o especialista estava sozinho com elas, se entreolharam... Talvez Steve estivesse espantando pela desenvoltura do brasileiro na pista de dançar e atração que tivera na noite. O especialista já estava um pouco cansado e não queria aumentar a tensão, então disse para as suecas pararem um pouco e beberem e comerem algo. A noite foi passando e acabando e a hora de se despedir chegou.
As pessoas foram rumando para o ônibus e quando o especialista também seguia até o veículo, Steve o chamou de lado, dizendo que ele e alguns outros do evento e as suecas estavam também partindo, em outro automóvel, para o Hotel Cidade de Goa, para terminar a noite em um dos apartamentos, e que elas tinham pedido para o especialista também ir para lá. O especialista disse: “- Ok, I’ll think about”.
Partiram, e o especialista viajou no ônibus e chegou ao seu apartamento pensando “Vou ou não vou?”; “O que acontecerá naquele apartamento”.
O especialista brasileiro já era casado há algum tempo, com compromissos interpessoais, tinha bases morais e religiosas bem sólidas. Resolveu não ir, ficou no seu quarto, colocou o pijama e foi dormir. Também lembraria para sempre aquela noite com as suecas mais lindas que conhecera ao longo da sua vida, e não seriam poucas, pois o destino o levaria um dia até Malmöe, Suécia. Aquela noite seria o seu Nirvana na Índia, uma lembrança boa de onde levaria tantas marcas.
Fim da Parte VIII. (25 de março de 2017)
Nota: Este não é um texto de ficção, mas baseado inteiramente em fatos reais, para uma realidade de janeiro de 2002.