Não há, hoje, clube mais ansioso por títulos do que o Flamengo. Talvez isso não justifique o péssimo desempenho na disputa por pênaltis contra o Athletico-PR— derrota por 3 a 1 após empate em 1 a 1 no tempo normal—, embora talvez explique a injusta reação da arquibancada, com cobranças após uma eliminação na Copa do Brasil que veio após um espetacular jogo de futebol. O que a ansiedade não pode é tirar do Flamengo a noção de que o melhor a fazer é seguir o caminho atual. O recém-iniciado trabalho de Jorge Jesus conduz o time, claramente, no caminho do bom futebol.
A arquibancada, aliás, parecia disposta a reconhecer isso antes do jogo, com seu inusitado grito de “Olê, olê, olê, mister, mister”. Com sua escalação adaptável ao rival e à busca por frescor físico do time, ele fez o Flamengo ter momentos de amplo domínio, embora a eliminação ofereça reflexões.
Jesus surpreendeu com Lincoln na vaga de Bruno Henrique. E colocou Renê, mexendo no comportamento dos laterais, que não avançavam juntos. Afinal, o rival era perigoso nas transições.
Os três meias rubro-negros se aproximavam, o time triangulava pelos lados, pressionava a saída de bola rival e o jogo era um monólogo. Arrascaeta e Lincoln tiveram três chances, uma delas parou na trave. Era massacrante. A movimentação constante confundia a defesa paranaense. Mas dois fatos mudaram o cenário.
Primeiro, Arrascaeta sentiu e deu lugar a Vitinho; com isso, o Flamengo perdeu fluência nos passes. Mas também exibiu algo que será um desafio para Jesus. A intensidade que seu modelo exige é alta num futebol de jogos duros como o brasileiro. Por vezes, há quedas de ritmo naturais, e o time se expõe ainda mais aos riscos que assume. Algo natural de uma ideia em implantação. Bastou o time diminuir o ritmo para deixar de ter a rédea do jogo. Diego e Cuéllar perdiam o duelo para Wellington e Bruno Guimarães, e o Athletico ameaçou.
Cobranças ruins
Mesmo assim, no saldo, o Flamengo era melhor. No segundo tempo, a entrada de Berrío no lugar de Lincoln recuperou pressão ofensiva e mobilidade. O Flamengo voltou a ser dominante, embora nem criasse chances em profusão. Tinha em Diego um organizador de jogo precioso e encontrou o gol quando a troca de passes isolou Vitinho contra Jonathan. A ótima jogada chegou a Everton Ribeiro, e Gabigol marcou.
O Flamengo era absoluto de novo, mas Thiago Nunes deu belo golpe em Jesus. Quando o esforço rubro-negro minara pernas, ele colocou Bruno Nazário e preencheu o meio-campo, ganhando superioridade no setor. De novo, a necessidade de amadurecer o modelo e controlar seus momentos de maior e menor intensidade cobraram um preço do Flamengo. Disposto a pressionar sempre, o time viu, num tiro de meta rival, Rafinha perseguir Rony, Cuéllar ir atrás de Marco Ruben e um vazio se criar. Nazário deu a Rony a bola do empate.
O grande jogo de parte a parte terminaria na marca do pênalti, onde Diego, Vitinho e Everton Ribeiro bateriam muito mal. Natural frustração. Mas o Flamengo evoluiu. Precisa saber esperar.