Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

MPB da Velha Guarda segunda, 24 de outubro de 2016

DERCY GONÇALVES, CANTORA, VEDETE E ATRIZ

DERCY GONÇALVES

Raimundo Floriano

 

Dercy Gonçalves

 

                        Guardo comigo uma preciosidade musical, raridade mesmo, que agora desejo compartilhar com todos vocês. Mas, para fazê-lo, acho necessário falar um pouco da história de sua intérprete.

 

                        Dolores Gonçalves Costa, a Dercy Gonçalves, nasceu em Santa Maria Madalena (RJ), a 23.6.1907, e faleceu no Rio de Janeiro, a 19.7.2008. Foi uma atriz, humorista e cantora brasileira, oriunda do Teatro de Revista, notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960, sendo reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história mundial: 86 anos. Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, foi um dos maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.

 

                        Originária de família muito pobre, nasceu no interior fluminense, em 1905, sendo registrada apenas em 1907, procedimento comum na época, pela falta de acesso a Cartórios e informações sobre a importância de um registro. Faleceu, portanto aos 103 nos de idade.

 

                        Era filha do alfaiate Manuel Gonçalves Costa e da lavadeira Margarida Gonçalves Costa. Sua mãe abandonou o lar e os sete filhos, ao descobrir a infidelidade do marido. Dercy, abandonada pela mãe ainda pequena, foi criada pelo pai, alcoólatra. A menina foi crescendo na convivência com um pai bêbado em casa e sofreu muito com o abandono da mãe, de quem nunca mais teve notícia.

 

                        Para ajudar nas despesas de casa, Dercy foi trabalhar numa bilheteira de cinema. Vendo os filmes nas horas de expediente do serviço, aprendeu a se maquiar e a atuar como as artistas. Seu grande sonho era seguir carreira artística. Mesmo não sendo ainda atriz profissional, apresentava-se em teatros improvisados para hóspedes dos hotéis em sua cidade natal.

 

                        Aos dezessete anos, com o intuito de ver seu sonho virar realidade, fugiu de casa para Macaé, embaixo do vagão de um trem, arriscando a própria vida pelo sonho de ser artista, isso para se juntar a uma trupe de teatro mambembe que lá estava, com diversos atores de circo experientes, na qual ela poderia trabalhar, a Companhia de Maria Castro.

 

                        Após algum tempo morando em Macaé e trabalhando no teatro circense, Dercy seguiu com a Companhia para Minas Gerais, onde estreou em 1929. Nessa vida itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal, em 1930, com quem se apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de Os Pascoalinos.

 

                        Dercy apaixonou-se por Eugênio Pascoal, que foi seu primeiro namorado. Após alguns anos juntos, acabaram se separando, devido a incompatibilidade de gênios. Ela era uma típica moça do interior, ingênua e alegre, que, mesmo fugida de casa e tendo se relacionado com o namorado, ainda brincava com bonecas de pano que tinha desde criança. Isso mostra seu espírito doce e infantil, a sensibilidade que lhe possibilitou ser de fato uma artista.

 

 

                        Enquanto excursionava com a trupe pelo interior de Minas Gerais, Dercy contraiu tuberculose, tendo que se afastar de sua maior paixão, o circo. Um exportador de café mineiro, chamado Ademar Martins Senra, a conheceu quando passava próximo à tenda do circo, e se encantou por ela, não importando a moléstia grave de que padecia, e pagou todas as contas do sanatório para sua internação, vez que ela que não dispunha de recursos suficientes para custear o tratamento.

 

                        Depois de curada, em 1934, e tendo largado o circo, Dercy viveu um romance com Ademar, mesmo ele sendo casado, advindo, desse relacionamento de 2 anos, Dercimar, sua única filha, em 1936. Quando a menina nasceu, Ademar registrou-a, e, às vezes, ia visitá-las, mas não podiam morar juntos pelo fato de ele ser casado e o romance deles ser secreto. Um dia, porém, não apareceu mais, o que fez Dercy encarar, sozinha, a criação da filha, voltando à vida teatral, que abandonara por conta do romance então desfeito.

 

                        Especializando-se na comédia e no improviso, participou do auge do Teatro de Revista Brasileiro, nos anos 1930 e 1940, protagonizando algumas delas, como Rei Momo na Guerra, em 1943, de autoria de Freire Júnior e Assis Valente, na Companhia do empresário Walter Pinto.

 

                        Na década de 1960, iniciou sua carreira solo. Suas apresentações, em diversos teatros brasileiros, conquistavam um público cheio de moralismos. Nesses espetáculos, introduziu um monólogo, no qual relatava fatos autobiográficos. Paralelamente a essas apresentações, atuou em diversos filmes do gênero chanchada e comédias nacionais.

 

                        Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior, em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Depois, passou para a TV Rio e, mais tarde, já na TV Globo, convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto com Walter Clark.

 

                        De 1966 a 1969, apresentou, na Globo, um programa de auditório de muito sucesso, Dercy de Verdade, que acabou saindo do ar com a intensificação da censura no país após o AI-5. No final dos Anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados por Silvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo. No SBT, voltou a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.

 

                        Sua carreira foi pautada pelo individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas economias por parte de um empresário inescrupuloso, o que a fez voltar ao batente, na octogenariedade.

 

                        Recebeu, em 1985, o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.

 

                        Em 1991, foi enredo – BravíssimoDercy Gonçalves, o Retrato de Um Povo –, da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da Escola no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica, ao desfilar, no último carro com os seios à mostra.

 

                        Em 4 de setembro de 2006, aos 99/101 anos, recebeu o título de Cidadã Honorária da Cidade de São Paulo, concedido pela Câmara de Vereadores.

 

                        No dia 23 de junho de 2007, Dercy completou cem anos, oficialmente, comemorados com grande festa na Praça Coronel Braz, Centro do Município de Santa Maria Madalena, sua cidade natal.

 

                        Foi também nesse mês que Dercy subiu pela última vez ao palco, na comédia teatral Pout-Pour Rir, espetáculo criado e dirigido pela dupla Afra Gomes e Leandro Goulart, onde comemorou Cem Anos de Humor, com direito a linda festa e noite de autógrafos de seu DVD biográfico.

 

                        Dercy faleceu no dia 19 de julho de 2008, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, sendo sepultada em Santa Maria Madalena. A causa da morte teria sido complicações decorrentes de uma pneumonia comunitária grave. O Estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em sua memória.

  

                        Sua biografia encontra-se narrada no livro Dercy de Cabo a Rabo, de Maria Adelaide Amaral, lançado em 1994. Dercy de Verdade é o título da minissérie sobre sua vida, também escrita por Maria Adelaide Amaral, direção de Jorge Fernando, com 4 capítulos, exibida pela Rede Globo a partir do dia 10 de janeiro de 2012.

 

                        A filmografia de Dercy Gonçalves, que vai de 1943, com Samba em Berlim, até 2008, com Nossa Vida Não Cabe Num Opala, perfaz 25 títulos.

 

                        Em 1986, quando adquiri meu primeiro videocassete, assisti a todos os filmes brasileiros disponíveis nas locadoras do Distrito Federal. Consequentemente, a todos os estrelados por Dercy, quer como protagonista, quer como coadjuvante. Aqui, as capas de alguns deles:

 

 

                        Agora, passo a falar da raridade acima prometida. Ela foi interpreta por Dercy no filme Absolutamente Certo, de 1957, cuja capa adiante se vê: 

 

                        Trata-se do maxixe Jura, composto por Sinhô em 1929. O que o faz raro é o fato de aqui ser apresentado na íntegra. No filme, facilmente acessado através do Google, a melodia é intercalada com de cena da trama, para, mais adiante, ser retomada. 

                        Ouçamos, portanto, Dercy Gonçalves cantando, sem cortes, o maxixe Jura

 


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