Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa Vista
Procurado melhorar a placa com um nome de rua em homenagem ao meu avô – João Pacífico Ferreira dos Santos – em cuja identificação de logradouro consta apenas: Rua Pacífico dos Santos fui encontrando várias homenagens inócuas nas quais se deu relevo aos títulos das pessoas e não seus nomes próprios. Uma falta de respeito aos ilustres mortos.
De fato, placas de homenagens póstumas que não produzem o efeito ideal pretendido se tornam iniciativas fracas de significado, levando os habitantes da cidade a sofrerem observações dos visitantes, como ocorreu comigo, em dia recente, com o alerta de um turista.
O Recife, através de placas em logradouros públicos e monumentos tentou prestar louvores a ilustres vultos do passado – como meu avô paterno – que participou, como jornalista, com Joaquim Nabuco, entre outros, da luta contra a escravidão em Pernambuco.
Só que tendo a Prefeitura gravado seu nome incompleto jamais se sabe quem foi o homenageado, a não ser pela documentação ou informes da família. Outra barbaridade é se homenagear os títulos e não as pessoas, bem como seus nomes incompletos.
Além dessa inobservância, há um fato mais frisante: as referências a ilustres figuras, nacionais e estrangeiras, que em nada beneficiaram o Recife.
Num giro de memória pude observar que existem no Recife várias ruas, ainda do tempo colonial, que vale a pena permanecerem com suas denominações históricas porque são igualmente românticas e até pitorescas. Sobremodo, já caíram no agrado do povo. E nada mais forte do que essa força para perenizá-las.
Das ruas com denominações pitorescas consagradas pelo povão de minha cidade, recordo algumas, para gáudio dos saudosistas e pernambucanos ausentes. Aproveito para lembrar casos interessantes, de ruas com nomes de avenidas, dentre elas: Av. Barbosa Lima (Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho) quase uma ruela no Bairro do Recife; e a Av. Portugal, nada mais que estreitíssima rua, nos fundos do atual Real Hospital Português e Beneficência, no bairro do Paissandu.
Rua do Alecrim, Rua dos Ossos, Rua da Pinguela, Rua da Hora, Rua do Fogo, Avenida da Saudade, Rua do Bom Jesus, Rua da Roda, Rua da Cruz, Rua da Madre de Deus, Rua da Soledade, Rua da Paz, Largo da Misericórdia, Estrada dos Aflitos, Rua da Concórdia, Rua dos Judeus.
E tem mais: Rua das Creoulas, Rua das Moças, Praça do Encanta Moça; Rua dos Sete Pecados, Rua da Cagança, Praça do Sebo, Rua Imperial, Rua do Caldereiro, Rua da Glória, Rua Velha, Rua Nova, Rua das Calçadas, Rua Direita, Rua do Rosário, Rua da Palma, Rua do Jiriquiti.
E não ficam só nessas. Temos mais a Rua Real da Torre, Rua Motocolombó, Rua da Baixa Verde, Rua da Moeda, Rua do Pombal, Rua do Brum, Rua da Matriz, Rua Benfica, Rua do Príncipe, Rua do Imperador, Rua das Águas Verdes, Rua Real da Torre, Rua dos Navegantes, Rua da Fundição, Rua do Catimbó, Rua da Hora, Rua 48, Rua do Espinheiro, Rua da Angustura.
Teríamos assuntos para uma enciclopédia: Rua do Dique, Rua Passo da Pátria, Rua da Penha, Rua da Praia, Rua do Rangel, Rua do Hospício, Rua Corredor do Bispo, Rua do Padre Inglês, Rua do Progresso, Rua da Saudade, Rua do Sol, Rua da União, Rua Camboa do Carmo, Estrada do Arraial, Avenida Norte, Avenida Sul, que entre outras, permanecem, por se haverem consagrado no gosto popular. Os becos e travessas deixarei para a próxima crônica.
Há outros logradouros que muitas pessoas desconhecem quem deveria ter sido, realmente, homenageado. Vejamos:
Rua Barão de Bonito (Manuel Gomes da Cunha Pedrosa);
Rua Viscondessa do Livramento (Maria Ursulina Moreira);
Av. Visconde de Suassuna (Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque);
Rua do Lima (Capitão Antônio Lima);
Rua da Imperatriz (Imperatriz Tereza Cristina);
Rua Marquês do Recife (Francisco Paes Barreto)
Av. Marquês de Olinda (Pedro de Araújo Lins);
Rua Marquês do Paraná (Honório Hermeto Carneiro Leão;
Rua Conde Irajá (Manuel do Monte Rodrigues de Araújo);
Rua Visconde de Albuquerque (Antônio Francisco de Paula de Holanda Cavalcanti de Albuquerque);
Rua Amélia (Amélia Rosa de Oliveira);
Rua D. Olegarinha (Olegária Vasques Carneiro da Cunha)
Rua Vigário Tenório (Pedro de Souza Santos Tenório);
Rua Duque de Caxias (Luiz Alves de Lima e Silva);
Av. Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos);
Rua da Guia (Nossa Senhora do Rosário da Guia);
Rua Barão de Lucena (Henrique Pereira de Lucena);
Travessa do Amorim (atual Rua Aluízio de Oliveira Periquito);
Rua Frei Caneca (Joaquim da Silva Rabelo);
Praça João Alfredo (João Alfredo Correia de Oliveira);
Rua Fernandes Vieira (João Fernandes Vieira);
Praça Pio XII (Eugênio Maria Giuseppe Giovani Pacelli);
Av. Rosa e Silva (Francisco de Assis Rosa e Silva);
Rua Poeta Manuel Bandeira (Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho);
Rua Poeta Austro Costa (Austriclínio Ferreira Quirino);
Praça D. Vital (Antônio Gonçalves de Oliveira);
Rua Herculano Bandeira (Herculano Bandeira de Melo);
Rua João XXIII (Ângelo Roncalli)
Rua Barão da Vitória (José Joaquim Coelho);
Ponte Gilberto Freyre (Gilberto de Melo Freyre);
Rua Barão de Itamaracá (Dr. Thomaz Antônio Maciel Monteiro);
Rua Marquês do Paraná (Dr. Antônio Hermeto Carneiro Leão);
Rua Barão de Souza Leão (Inácio Joaquim de Souza Leão);
Rua Barão da Vitória (José Joaquim Coelho);
Rua Visconde de Goyana (João Joaquim da Cunha Rego Barros);
Rua Visconde de Albuquerque (Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque);
Rua Barão da Casa Forte (Antônio João d’Amorim).
O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano é uma centenária instituição que atua como guardião da História em nosso rincão. Mas não tem força política suficiente, depois do desaparecimento de Mário Melo.
Tem o Instituto a missão, entre outras, de aprovar nomes corretos para as ruas e o significado das homenagens. Porém, não raro, a contragosto, as irregularidades acontecem, as placas são afixadas e ficam para sempre.
Esse centenário Instituto vem realizando excelente trabalho, juntamente com a Prefeitura do Recife, implantando, corrigindo e ampliando antigos nomes de homenageados em inscrições que são fixadas em paredes de azulejos, com os nomes completos dos homenageados e fornecendo preciosas informações sobre os motivos da homenagem. Assim é que se faz!
Todavia, ferindo a lei, já começaram os novos prefeitos a efetuar mudanças, como a exemplo, a tradicionalíssima Avenida Norte, que passou a ser Miguel Arraes de Alencar, personagem já homenageado com um hospital com A denominação de Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes.
Já referente ao Aeroporto dos Guararapes, o Burgo Mestre do Recife “inventou” de acrescentar a palavra Gilberto Freyre, dificultando a identificação. Enquanto isso, constatamos que os aeronautas continuam se referido apenas à indicação de “Aeroporto dos Guararapes”, dispensando o que se tornou, de certo modo, indigesto, ou seja, tantas denominações novas.
Esta última mudança, verdadeira extravagância porque nosso sociólogo maior já havia sido perenizado com o nome da Ponte Gilberto Freire, bem pertinho do aeroporto, na Imbiribeira, além da Fundação Gilberto Freyre.
Sobre o assunto caberia completar, porque há outros senões: dar-se nomes de logradouros a pessoas ilustres, mas que nada fizeram pelo Recife. A exemplo:
Viaduto UIisses Guimarães, na Estância e Viaduto Presidente Tancredo de Almeida Neves, na Imbiribeira. Isto sem falar em ilustres personagens de nação amiga – um dos presidentes dos Estados Unidos, homenageado com o título da Av. Presidente Kennedy, em Olinda e o antigo Cais do Apolo, aterrado e rebatizado com o nome do mais importante líder negro, o antigo Cais do Apolo, para Av. Martin Luter King, no Bairro do Rio Branco.
Exemplos até aberrantes também fomos encontrar: Rua Craveiro Lopes, homenagem ao Presidente de Portugal, que nunca moveu uma pedra em favor do Recife ou Olinda.
Espantoso, porém, foi encontrar no bairro do Ibura, no Recife, homenagem a outro português: a Rua Ministro Oliveira Salazar. Imaginem! Louvar-se o português, que segundo nota dos historiadores da “terrinha” foi o ditador do seu país, governando-o com mão de ferro durante quase 40 anos, terá sido no mínimo falta de educação histórica.
É forçoso nos referir a outra inimaginável ideia, aquela que denominou de Rua Francisco Franco, no bairro do Ibura, o que representou outra extravagância sem o menor cabimento. Trata-se, de Francisco Franco Bahamonde, mais conhecido como “generalíssimo Franco”, militar de carreira, ditador da Espanha de 1936 a 1973.
Haveria alguma justificativa de se burlar o Instituto Histórico e se preterir tantos nomes que estão à espera de ruas ou praças, para se louvar tais personagens? Naturalmente ideias de jerico!
Tudo parece haver começado a degringolar quando se alargou a artéria mais importante da Boa Vista e se trocou o nome de Rua Formosa por Av. Conde da Boa Vista.
Nesse caso um turista me observou, querendo praticar uma gozação típica de carioca, comentando que em Pernambuco a homenagem póstuma se fez ao título de nobreza não ao eminente Francisco do Rego Barros, assim como outros ilustres.
Há ainda pequenas impropriedades. A Avenida Malaquias, nas Graças, deveria ter o nome completo do saudoso cientista e médico pernambucano, formado em Paris, Dr. Antônio Malaquias Gonçalves, genro do Barão Rodrigo Mendes, que doou parte do Sítio dos Moreira para a abertura daquela artéria.
Nós pernambucanos do Recife devemos nos orgulhar de ser um povo rebelde e altivo. Inclusive para resistir a algumas iniciativas do Poder Público, no que tange à chamada desobediência civil. Mas, o troca-troca de nomes de ruas deixa os transeuntes confusos, como o caso da Rua do Sol.
À direita, a Rua Major Codeceira, teimosamente conhecida como Rua do Sol
Situada no centro geográfico da Capital, foco maior do nosso carnaval, teve seu nome citado como Cais do Machado nos idos dos 1800, conforme notas colhidas no Diário de Pernambuco.
Em 1884 a Prefeitura mudou seu nome para Rua Dr. Ivo Miquelino e em 1818 fez nova alteração para Rua Major Codeceira (José Domingues Codeceira). Mas a voz do povo continua a resistir denominando-a Rua do Sol.
Praça Rio Branco, denominação alterada para Praça Marco Zero. Foto Istock
Portanto, como se considera Pernambuco o “Leão do Norte”, precisamos resistir a essas homenagens impróprias e às substituições indecorosas, sobretudo aquela quando se afastou do centro da Praça Rio Branco o busto de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, e até se trocou o nome do logradouro, agora conhecido como Praça do Marco Zero. Uma barbaridade histórica!