DEMORA
Odilon Botelho Jr.
Que espécie de homem és tu?
Que traça planos futuros
E esquece o presente
Que promete acudir tua gente
E a abandona desse jeito
Que pra tua terra voltarias
E lá construirias uma nação
Os fetiches da cidade o sucumbiram?
Que espécie de homem és tu?
Que deixaste as crianças aos trapos
E prometeste a elas educar
E nas mãos de carrascos mercenários
Não voltasteslá para lutar
Dizias preparar-se, municiar-se pro embate
Decerto mentias, covarde!
Pois tua revolução nunca saiu da palavra
Quem és tu, espécime infame?
Que ficas a buscar deuses pra teus interesses
E doutrinas, provérbios, estratégias
Para um discurso que jamais proferirás?
Que na metafísica, metalinguística, metes medo!
Procuras teu id, teu alter ego, teu iang
Enquanto o povo que tu enganaste, perde sangue
Vê bem, ninguém te pediu nada
Tu o prometeste a ti mesmo
E muitas vezes reafirmaste no teu íntimo
Pra tua terra um dia breve voltar
Esperamos por tanto tempo!
Invasões bárbaras ocorreram
Nossas terras onde havia palmeiras
Hoje nem sabiás há mais
Nosso brio, nossa honra, nosso riso
O que é isso? Já não mais lembramos
Existem agora as máquinas, os aviões
E o dinheiro, dizem, neles abarrotados
O tal progresso com mãos sujas instalado
Já a criança drogada no asfalto, nada há de esperar