O fato me foi contado pelo companheiro Martins, um dos bons profissionais nordestinos, consultor de nomeada na área da sua especialidade. Com a identificação de todos os personagens, tintim por tintim, aqui tornados fictícios por uma prudente questão de recato.
O fato aconteceu entre um executivo desquitado de pouco e a sua secretária, antiga estagiária da diretoria da empresa, um mulheraço de vinte e tantos anos, nunca raimunda tão somente. Fatalidade ou imprecisão analítica, abestalhamento da terceira idade ou infantilidade geriátrica, o fato aconteceu, arrebentando de rir o cinturão dos mais expansivos e fundindo a cuca dos conquistadores menos precavidos.
Os dados complementares do fato ficam por conta da imaginação sempre nota mil dos leitores do JBF, o jornal mais escrotamente independente deste hemisfério sul.
No dia do seu aniversário, o dito executivo saiu para os escritórios da empresa com o diabo no couro. Acordou-se, tomou uma ducha, sacudiu fora o bagaço intestinal, barbeou-se no capricho, sorveu devagar um alentado copo de leite e ninguém da sua casa o cumprimentou pelos sessenta e tantos anos de nascimento, naquela data. Nem a mulher, sempre enfezadinha e toda ai-ai-ai com seus intermináveis achaques menopáusicos, lembrou-se do niver do coitado. E nenhum abraço de ôi dos filhos, três, sempre ispertamente carinhosos em véspera de receber mesada. Nem da menina, a única, saliente toda, já fazendo Relações Públicas perto no Náutico Capibaribe. Até a empregada, vinte anos de casa, oriunda da fazenda dos pais, pau pra toda obra, vez por outra ainda prestigiada, esqueceu o natalício do pobrezinho.
No trajeto, mandando todo mundo pra puta que pariu, como faz o Capita presidente, imaginou-se o último dos moicanos, rejeitado todo, pior que o Dr. Jarinho, aquele safado que assassinou o filho da sua madame, no Rio de Janeiro, dias atrás. E com mais de mil manobrou o carro no estacionamento pré-determinado, para ele reservado tão logo assumiu a direção maior da empresa.
Destravada a porta do gabinete de trabalho, um “Parabéns, Dr!” de sopetão, gentileza pura, brotou dos lábios carnudos da danadona da secretária. E logo acompanhado de uma proposta mais demolidora que um teibei do Maguila, antes do seu afolosamento total diante daquele americano fortão: “Com um dia tão lindo como esse, poderíamos almoçar juntos, lá em casa, onde, já me antecipando, preparei uma galinha cabidela do jeito que o senhor aprecia”. E pra fundir a cuca do chefe: “Não se preocupe, dispensei a mensalista, para que o senhor possa ficar lá sem qualquer perturbação”.
O resto, o leitor já pode ser reconstitída. Meio-dia e meia, residência da boazuda, casal já na segunda dose escocesa, a frase atração fatal: “Dr. Fulano, acho que vou até lá dentro colocar algo mais confortável. Volto já. Fique à vontade”. A ordem foi cumprida mais que escoteiramente, num décimo de minuto, até às meias, a vela mestra tornada como nunca entusiasticamente desfraldada, a tremular mais que bandeira hasteada em dia de feriado oficial.
E eis que, de repente, não mais que de repente, a secretária retorna, nas mãos um bolo repleto de velinhas acessas, cantando um entusiasmado parabéns pra você, com a mulher e todos os filhos dele, para quem estava ali carecendo de todo apoio…
Da minha parte, já passei até um zapzap de solidariedade para a coitadinha da secretária demitida.