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Juliana Almeida precisa negociar muito com a filha Pietra para que ela experimente alguns alimentos
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Trabalhar a educação alimentar dos filhos pode ser um grande desafio para os pais. Isso porque introduzir comidas saudáveis não parece tão agradável aos pequenos quanto comer doce ou se deliciar com um hambúrguer. Mas os perigos de não cuidar da alimentação deles pode custar caro, ainda na infância. A escolha por comidas mais palatáveis, práticas e nem sempre nutricionais pode prejudicar a formação de hábitos alimentares e favorecer o aparecimento de doenças, como a pressão alta e o diabetes.
Sem contar com a obesidade infantil, que é um dos principais problemas da alimentação inadequada. Dados do Ministério da Saúde mostram que 12,9% das crianças brasileiras de 5 a 9 anos são obesas. Mas esse é apenas um recorte de um problema global: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 41 milhões de pessoas com idade menor que 5 anos estejam acima do peso.
Alterações no peso podem ser apenas um dos problemas apresentados pelas crianças, que estão propensas, ainda, a desenvolver mudanças significativas no sono e no desenvolvimento cognitivo, motor e de estatura devido à baixa ingestão de nutrientes, vitaminas e minerais. “Uma alimentação inadequada pode trazer até mesmo problemas emocionais”, alerta Nathália Sarkis, pediatra do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria.
A nutricionista Camila Pedrosa explica que uma das maiores dificuldades encontradas pelos pais é a grande quantidade de produtos industrializados voltados ao público infantil. “Cada vez mais, temos produtos com personagens, com cores chamativas, propagandas específicas. Isso, aliado à falta de tempo dos pais de preparar o alimento dos filhos, aumenta o consumo de produtos processados”, explica.
Por ter apresentando refluxo até os 2 anos de idade, Gustavo Marques, filho da professora Emille Andrade Marques, não passou pela etapa de introdução alimentar. “Ele só mamava no peito e comia aquelas papinhas prontas”, relembra Emille. Fato que pode ter contribuído para a dificuldade que tem para comer, principalmente alimentos mais saudáveis.
A pediatra Nathália Sarkis aponta que a introdução de alimentos saudáveis e balanceados deve ser feita a partir do momento em que a criança inicia o primeiro contato com comidas sólidas, na idade de 4 a 6 meses de vida. “É uma fase de aceitação muito maior, o que aumenta a gama de alimentos pelos quais a criança se interessa.”
Em nome da praticidade, Emille cede a alimentos industrializados na hora de preparar a lancheira da escola. A grande aversão por frutas e verduras também é outro fator que dificulta a montagem. “Se eu mandar fruta para a escola, ela volta inteira, e ele sempre arruma uma desculpa para não comê-la.”
Como Gustavo está acima do peso, a mãe tem procurado ser mais rigorosa e regrar a alimentação dele nos momentos em que está em casa, além de ter cortado refrigerantes e frituras das refeições da família. “O prato dele é arroz, feijão e carne, mas é muito difícil adicionar uma salada ou uma verdura. Para ele comer, eu tenho que esconder, cortar pequeninho, essas coisas”, comenta. Além disso, o garoto frequenta aulas de futebol e natação para reverter o sobrepeso.
Negociação
A resistência a novos sabores também pode ser um obstáculo na hora de introduzir alimentos saudáveis na rotina das crianças. “Às vezes, os pais não acostumaram a criança a provar desde pequena, criando essa rejeição. E a tendência é de que eles também acabem não forçando a criança a experimentar”, pontua a nutricionista Camila Pedrosa.
Essa é a maior dificuldade encontrada por Juliana Almeida na dieta da filha Pietra, 9 anos. Apesar de não se alimentar mal, a pequena dá trabalho na hora de comer alimentos que nunca experimentou. “Se tiver uma cor ou um formato que não está acostumada, ela recusa na hora.”
A mãe conta que o segredo nessas horas é a paciência e a negociação com Pietra. “Semana passada, fiz sopa e ela não quis de jeito nenhum, e eu pedi para ela apenas provar. Depois de umas duas horas, Pietra, finalmente, comeu. E gostou tanto que repetiu.”
Nathália explica que persuadir a criança a provar é uma boa estratégia para driblar a aversão. “Uma criança que se alimenta de forma equivocada, ou que tende a não comer determinados alimentos, precisa de negociação, ou seja, diminuir o consumo de uns e incentivar o consumo de outros.”
Outra estratégia que pode ser adotada é a do planejamento alimentar da família. “Sistematizar a dispensa e a geladeira da casa é o primeiro grande passo. Os pais podem decidir, durante o fim de semana, o que vão oferecer nas refeições dos pequenos e deixar esses alimentos pré-prontos.”
Além disso, os responsáveis precisam estar atentos às próprias refeições a fim de estimular os filhos a procurarem por pratos mais nutritivos. “A criança tem que ver os pais comendo. Quando ela percebe que a família se alimenta de forma correta, vai ter um interesse maior por esse tipo de comida”, indica a pediatra.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Para a criançada comer melhor
Invente novas combinações
- Apesar da falta de tempo dos pais, é importante que haja uma atenção no prato das crianças, com o objetivo de variar a comida e criar combinações. Para isso, vale adicionar legumes à carne ou ao arroz e investir em sucos naturais para que a criança experimente frutas e verduras de formas diferentes.
Alimentos atraentes
- Fazer desenhos no prato é uma maneira de estimular a alimentação da garotada. As crianças comem com os olhos e, em uma fase em que a imaginação está muito ativa, apostar na criatividade para dar novas formas a frutas e legumes pode ser a saída.
Estimule a participação
- Quanto mais envolvidas no processo, mais as crianças se sentem estimuladas. Para isso, tanto no processo de compra quanto no preparo dos alimentos, conte com a ajuda das crianças e faça com que eles se sintam importantes e úteis.