Era uma vez em Maceió, uma jovem, bela, recatada e do lar, marido de tradicional família do açúcar alagoano. Cristina, aluna do Colégio Santíssimo Sacramento, aprendeu costurar, cozinhar, ser rainha da casa. Pai evangélico, a filha saía à rua, às festas, só acompanhada dos irmãos, assim, sua virgindade permaneceu invicta até o casamento. Sua beleza e sensualidade exuberantes chamavam atenção . Numa festa de Carnaval conheceu Antônio Alfredo, mancebo de família rica, estudante de Direito em Coimbra, bonito, másculo, o xodó das mulheres, passava férias na cidade.
Antônio Alfredo encantou-se com Cristina, a bela, iniciaram namoro de portão de casa, horário e vigilância rígidos. Dentro de dois anos casaram-se, apesar da resistência dos pais do noivo, não era bem querer a entrada de uma filha do pastor na família. Antônio, advogado das empresas familiares, se impôs, casou-se, com direito à Lua de Mel na Europa.
Três anos se passaram, o casal bonito chamava atenção. Antônio não queria filho, Cristina frustrada. O ritmo de amor na cama diminuiu, às vezes mais de três meses sem um carinho. Em conversa com a prima Sofia, Cristina ouviu com atenção o relato das peripécias sexuais da prima na cama com o marido. Cristina, ingênua, encantou-se com os detalhes contados, ascendeu uma fogueira em suas entranhas, quase adormecidas.
Certa noite, depois do banho, vestiu minúscula lingerie preta, divina. Antônio ao deitar disse apenas cansado, deitou-se, virou-se para o lado. Ela não admitiu ter se preparado e o marido, sequer notou. Abraçou -o, atacou com volúpia, mãos e bocas entornaram o corpo másculo. Antônio levantou-se, olhou para esposa, repreendeu, “quem faz isso é prostituta, quem lhe ensinou? Você quer ser rapariga? “. Foi dormir em outro quarto.
Cristina chorou, seus instintos desejavam aqueles carinhos ensinados pela prima. Ela se perguntava, era uma tarada? Custou a dormir. Antônio jamais voltou a falar sobre o acontecimento daquela noite.
O casal gostava de passar fim de semana no bucólico sítio da família em Bica da Pedra, beirando a lagoa Mundaú. Certo domingo Cristina teve que retornar à Maceió mais cedo, o motorista foi levá-la. Perto da noite ele pegaria Antônio. Deixou o marido cheio do uísque deitado na rede. Vinte minutos de viagem sentiu a falta da bolsa, naquela época não havia telefone no sítio, resolveu voltar. Ao entrar na casa não havia vestígio do marido, apanhou a bolsa em cima da mesa, de repente ouviu barulho em seu quarto. Ao abrir a porta, um choque inesperado, a cena mais horripilante permaneceu na memória para o resto da vida: O belo Antônio, nu, abraçado ao filho do morador. Cristina soltou um grito de horror, correu, entrou no carro, chorando até chegar em sua casa.
Era noite quando Cristina parou de chorar, tomou um banho, olhou-se no espelho, achou-se bonita. Colocou um belo vestido, pegou um taxi em direção ao Zinga Bar em Riacho Doce, avistou alguns conhecidos, sentou-se à mesa com amigas, a partir dessa noite, escandalizou a província saindo com homens solteiros e casados. Cristina e Antônio tornaram-se comentários em todas as esquinas, bares e lares da cidade.
Certo dia, sem avisar, Cristina viajou ao Rio de Janeiro. Amou a balada carioca dos anos 60/70. Bonita, fez sucesso entre artistas, políticos, desocupados. Arranjou um emprego para se sustentar, expediente a partir do meio dia numa repartição pública. Ela caiu nas noitadas cariocas. A nova vida tornou-a uma boêmia. Fez sucesso, os homens faziam fila esperando sua vez. Até que certo dia um senador se apaixonou, deu-lhe apartamento, joias, um emprego no Senado, letra O, em troca da exclusividade. Os anos passaram, teve dois filhos com o Senador. Hoje, mora em Copacabana, nenhum vizinho sabe a origem, o segredo daquela bela setentona, “viúva” e rica. Da janela de seu apartamento, Cristina olha o mar azul, relembrando sua juventude, bela, recata e do lar. Quando dá saudades vai rever o sítio da Bica da Pedra na lagoa Mundaú.