Eu tive a imensa honra em entrar para sua família ao me casar com Vânia, sua filha, com muita alegria me recebeu: “Bem vindo meu genro, nossa família é simples, porém muito feliz”. Continuei um ramo da família contribuindo com três filhos e três netos. Nesses quase 50 anos de convivência aprendi a admirar meu sogro, pela sua integridade, sua honestidade e valentia. Um homem sem medo. Nem tudo foram flores, algumas fatalidades e problemas como é a vida real, entretanto, a família enfrentou as adversidades com força e sabedoria.
Certa vez Dr. Danilo, como Promotor de Justiça, iria acusar um jovem rico por assassinato de uma mulher. Na véspera do júri, à noite, ele recebeu uma visita da família do assassino explicando que ele era um bom menino, foi um acaso da vida que aconteceu a tragédia. Até aí tudo bem, todos têm esse direito em pedir. Acontece que, na saída de casa o comerciante milionário entregou um envelope pardo cheio nas mãos de uma das filhas do Dr. Danilo. Ao perceber, meu sogro arrancou o envelope da filha, abriu, estava cheio de dinheiro, um valor enorme. Na mesma hora, com raiva, sentindo-se ofendido, Dr. Danilo gritou para o ricaço: “Canalha, canalha apanhe esse envelope e saía daqui imediatamente, o que está pensando? Vá embora antes que eu chame a polícia e lhe prenda por suborno. Canalha!” Rapidamente o homem pegou o envelope e escafedeu-se na noite. No dia seguinte houve o júri. Dr. Danilo teve uma atuação empolgante. O assassino pegou 22 anos de cadeia.
Conto esta história como exemplo, contra essa onda espalhada no Brasil, afirmando que nós brasileiros somos ladrões por natureza e roubos vêm desde o descobrimento. Na verdade essa onda é para justificar a corrupção de políticos que tomaram conta do poder, acabando com nossa riqueza. Nós, a maioria dos brasileiros comuns, somos trabalhadores e honestos. Banalizar a roubalheira é um crime, não aceito, como meu sogro não aceitava.
Finalizando quero dividir meu espaço com uma mensagem enviada por meu filho, Henrique, direto da Indonésia que não pode assistir o sepultamento de seu avô.
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Carlos Henrique Cavalcanti Lima -“Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”
Hoje depois de um longo tempo internado meu avô Danilo de Freitas Cavalcanti faleceu, eu como neto mais velho tive o privilégio de conhecê-lo durante 47 anos, vi e vivi suas alegrias e suas tristezas, o duro golpe de ter um filho assassinado, a alegria de uma família numerosa e amorosa, com as qualidades e defeitos que todas as famílias têm. Hoje ele partiu, ele descansou, abandonou o corpo sofrido, marcado pelo tempo e pelo destino, nos deixou. Meu avô falava muito sobre isso, afinal chegou aos 98 anos de idade, falava que iria encontrar o amor da vida dele minha doce avó Vanda e o meu tio Marcos.
Sinto não estar presente fisicamente neste momento de dor junto a minha mãe, meu pai, minhas irmãs, meus tios e tias, junto a minha família, a dor solitária é mais dolorida, ainda bem que antes de viajar fui vê-lo no hospital, fazer uma oração, visita rápida, nesta nossa vida tão corrida, mas pelo menos dei meu beijo de despedida. Vá em paz meu avô, sua missão está cumprida, seu descanso é merecido, nos vamos ficar aqui nos espelhando no homem de bem que você foi, veja só que família linda você e a vovó criaram!
A vida continua, em breve o sol vai nascer aqui na Indonésia, já temos novos Danilos, Vanda e Marcos na família e assim é a vida com chegadas e partidas. Não temos que entender os desígnios do Senhor apenas aceitá-los humildemente. A tristeza faz parte da vida, um outro dia virá e com ele outras alegrias, junto com a linda lembrança daqueles que já foram…
Henrique Cavalcanti Lima (Neto)