O Distrito Federal tem sido o berço de projetos sociais e ecológicos que buscam formas alternativas para cuidar das comunidades usuárias do sistema público de saúde. Pacientes têm a possibilidade de participar dos cuidados no plantio e cultivo de ervas medicinais diretamente nos hortos e se beneficiarem dessa produção. A distribuição ocorre tanto das plantas produzidas pelo próprio paciente, como o insumo é enviado para farmácias, a fim de serem manipulados e distribuídos como fitoterápicos.
Nilda Sena, 66 anos, é uma das participantes do Projeto Terraterapia, na Unidade Básica de Saúde 1 de Águas Claras. "Frequento desde 2021, quando fui ao clínico geral, por questões de saúde, e ele me direcionou à nutricionista, que me convidou para cuidar da horta", contou. Desde então, ela tem feito parte ativamente dos cuidados com as plantas medicinais. "Plantamos e colhemos para uso próprio. As ervas me ajudam bastante, principalmente a carqueja, que me auxilia com o problema que tenho de retenção de líquido na região das pernas. Além da espinheira santa, que tem efeito diurético e antidepressivo, que eu preparo em forma de chás e consumo."
Jesuana Lemos, 45, nutricionista e uma das coordenadoras do projeto, explica que o ato do cuidado com a terra faz parte de um dos objetivos principais da Terraterapia. "O nosso intuito aqui na horta é deixar um espaço interativo em que o paciente tem autonomia para tomar decisões. A horta é deles e a decisão é tomada sempre em conjunto, inclusive o nome Terraterapia foi decidido assim."
Para a comunidade
Nos hortos medicinais agroflorestais biodinâmicos ocorre o cultivo e produção de plantas medicinais que se tornam fitoterápicos e são distribuídas para a população, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), pelo Distrito Federal. "Tudo começou em 2017/2018 quando o Lago Norte teve uma situação de epidemia de dengue muito grave e, junto à comunidade, nós buscamos estratégias para fazer um projeto que pudesse, a longo prazo, enfrentar a transmissão da doença e de outras zoonoses", afirmou o médico Marcos Trajano, 43, um dos idealizadores do projeto.
Marcos Trajano explica que o horto nasce da iniciativa de integrar o cuidado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) para além dos procedimentos de saúde oferecidos pelo sistema (consultas, tratamentos e cirurgias), e de poder fazer isso de forma ecológica. A comunidade participa ativamente do cultivo e plantio dos insumos que são destinados à Farmácia Viva, para que sejam remanejados e distribuídos de forma segura. "É um encontro da ciência com o nosso compromisso de atuar contra os problemas causados pela emergência climática. Há o cuidado com a flora e com a fauna no desenvolvimento dos insumos que podem se transformar em medicamentos para a população", diz Trajano.
Uso consciente
Renata Esotico, fisioterapeuta integral e terapeuta floral, especializada em fitoterapia, explica que o uso das ervas medicinais e fitoterápicos ocorrem de formas variadas, incluindo com pílulas ou chás preparados em casa, e os benefícios são variados. "Por serem naturais, têm um melhor benefício orgânico, gerando o efeito que nós precisamos sem afetar o organismo com o resquício de toxicidade da medicação alopática." Entre as possibilidades de ação das ervas no organismo, a terapeuta cita as propriedades anti-inflamatórias, antibióticas, calmantes e, em contrapartida, estimulantes.
"Pela visão da medicina tradicional chinesa, há ervas tranquilizantes como a cidreira e camomila que podem auxiliar no tratamento de questões psicológicas, acalmando em situações de frustração e rotinas estressantes. Além de auxiliar no bom funcionamento do fígado." No entanto, há contraindicações em relação ao uso das plantas, e, segundo a terapeuta, a superdosagem das ervas pode ter um efeito prejudicial ao organismo. "Os riscos vão desde uma intoxicação e sobrecarga do organismo até agitação e insônia, comuns no uso excessivo de ervas estimulantes, como a ginseng e raízes como cúrcuma e gengibre."
*Estagiária sob a supervisão de Suzano Almeida
Fitoterápicos
Atualmente, o horto trabalha com mais de 120 espécies de plantas diferentes, dentre elas, nove plantas que dão origem a 13 fitoterápicos diferentes, produzidos pelas Farmácia Viva do Riacho Fundo 1 e de Planaltina. Entre eles:
Gel de babosa (Aloe Vera)
Gel de erva-baleeira (Cordia Verbenacea)
Gel de confrei (Symphytum officinale)
Gel de alecrim-pimenta (Lippia sidoides)
Tintura de alecrim-pimenta (Lippia sidoides)
Xarope de guaco (Mikania laevigata)
Tintura de guaco (Mikania laevigata)
Chá medicinal de colônia (Alpinia zerumbet)
Tintura de boldo nacional (Plectranthus barbatus)
Tintura de funcho (Foeniculum vulgare)
Chá medicinal de guaco (Mikania laevigata)