Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sexta, 23 de novembro de 2018

CUBANOS DEIXAM BRASIL ÀS PRESSAS, DIVIDIDOS ENTRE A VONTADE DE FICAR E A SAUDADE DA FAMÍLIA

 

Cubanos deixam Brasil às pressas divididos pela vontade de ficar e a saudade da família

Profissionais relatam ter recebido mensagens curtas da entidade que gerencia o programa
 
 
A medica cubana Kenia Flores se prepara para deixar o Brasil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
A medica cubana Kenia Flores se prepara para deixar o Brasil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
 
 
 

TERESINA DE GOIÁS — A vida damédica Kenia Flores Perez, de 35 anos, ganhou outro ritmo a partir do meio desta semana – um ritmo indesejado por ela. No fim da tarde de quarta-feira, Kenia terminou de empacotar suas coisas. À noite, participou de uma festa de despedida, regada a música sertaneja. Acordou cedo na quinta e recebeu a visita de moradores da pacata Teresina de Goiás, de 4 mil moradores. O policial apareceu, a vizinha apareceu, a dona da casa ficou o tempo inteiro ao lado. Num clima quase fúnebre, deu um longo abraço no secretário de Saúde da cidade. Às 10h, rumou para Brasília, a 280 quilômetros do município. Foi direto para um hotel, e passou as últimas horas no Brasil esperando o voo que a levaria para Cuba , nesta sexta.

As decisões sobre o destino dos médicos cubanos foram comunicadas em e-mails curtos, disparados diretamente aos profissionais, sem passar pelos secretários de saúde. Os contatos foram feitos pelos cubanos que estão à frente da área responsável na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) no Brasil, entidade que gerencia os contratos do Mais Médicos, e pelo próprio governo cubano.

Kenia foi pega de surpresa. Seu contrato venceria somente no fim de 2019. Por e-mail, foi avisada da necessidade de voltar a Cuba. Primeiro, informaram a ela que era preciso estar num hotel em Brasília após as 14 horas de quinta. Depois, a informação repassada foi para ela chegar ao hotel antes do meio-dia. E assim foi feito.

 

A outra médica cubana que fazia atendimentos em Teresina, Mabel Hernandez Gonzalez, deixou a cidade antes de Kenia. Foi uma saída ainda mais apressada, sem chances de despedida dos pacientes e da comunidade local. As médicas são adoradas pelas pessoas – não há um único relato contrário à atuação profissional das duas. Mabel foi a Brasília para o voo a Cuba antes mesmo de Kenia.

O improviso e a pressa no retorno surpreenderam o secretário de Saúde do município, Josene Pereira Lopes. Ele planejava uma festa de despedida para as duas. Conseguiu fazer a festa apenas para uma delas. A música sertaneja não abafou a frustração e a tristeza das pessoas que foram à despedida.

Kenia não disfarçava a frustração em ter de antecipar o encerramento de um contrato previsto para durar até o fim do ano que vem. A médica já estava adaptada ao Brasil, à pequena comunidade onde vivia e trabalhava. Parcelou o pagamento da compra de diversos móveis, que ficaram para trás. Empacotou o que foi possível, seguiu para Brasília sem saber se conseguiria despachar todos os seus pertences.

A medica cubana Kenia Flores Perez se despede de moradores de Teresina de Goias Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
A medica cubana Kenia Flores Perez se despede de moradores de Teresina de Goias
Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

 A experiência no Brasil é a segunda dela no plano internacional. Antes, trabalhou como médica em Maracaibo, na Venezuela, entre 2008 e 2011. Voltou para Cuba e, desde novembro de 2016, atendia pacientes de uma das regiões mais pobres e isoladas do Centro-Oeste brasileiro, onde raramente um médico se dispõe a morar na cidade. Encontrou um Brasil diferente do que ela via nas novelas brasileiras transmitidas em Cuba.

 

– Aqui existe demasiada desigualdade social. É muito diferente do que eu via nas telenovelas brasileiras. Eu tinha outra noção. Deveria existir o básico em saúde e educação. Mas na zona rural, onde está uma comunidade quilombola, quase todos são analfabetos, por exemplo – diz Kenia.

Segundo a médica, o primeiro ano no Brasil - de busca por aceitação dos moradores da cidade - foi o mais difícil. O segundo ano foi de adaptação completa. Por isso o sentimento de frustração, diante da decisão repentina comunicada por e-mail.

Kenia voltará para sua cidade, Las Tunas, e reencontrará a filha de sete anos, que ficou com os pais. Ela planejava uma visita da filha e dos pais ao Brasil, plano que não foi possível em razão do alto preço das passagens aéreas.

A médica, apesar da contrariedade com o retorno apressado, não critica o modelo adotado para os cubanos no Mais Médicos. Por outro lado, ela critica a posição de Bolsonaro em relação aos profissionais de Cuba que vieram ao Brasil. O presidente eleito já disse mais de uma vez que os médicos cubanos oferecem atendimento inferior ao oferecido por brasileiros, e lançou dúvidas até mesmo sobre serem médicos de fato.

 

– Ele nos depreciou, mas é a população que vai sentir os efeitos, principalmente da Amazônia, indígenas, quilombolas, que nunca tiveram atendimento médico. Nós não viemos ao Brasil enganados. Assinamos um contrato – afirma Kenia.

O fato de ficarem apenas com uma parte do dinheiro repassado a Cuba pelo Mais Médicos também é minimizado pela médica:

– O governo não pega o dinheiro para eles, mas usa em equipamentos, em saúde, em educação.

Kenia descarta pedir asilo no Brasil e não vê possibilidades de um visto de residência, uma vez que não há facilitadores como ter se casado com um brasileiro. Ela voltará a trabalhar na mesma unidade básica de saúde onde atuava em Las Tunas antes de se mudar para o Brasil. Receberá 1.550 pesos cubanos, ou cerca de 60 dólares. No Brasil, recebia R$ 3 mil (788 dólares) dos R$ 11,8 mil destinados a cada profissional do Mais Médicos.

– Pode parecer pouco, mas em Cuba todos trabalham. Na minha casa, por exemplo: meu pai é professor, minha cunhada é médica, meu irmão trabalha numa estatal de exploração de níquel.

Depois das despedidas que foram possíveis, um carro levou Kenia e uma colega médica que atuava em Cavalcante, cidade vizinha, para Brasília. Os consultórios dela e da outra médica cubana de Teresina de Goiás estão fechados.


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