Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Marcos Mairton - Contos, Crônicas e Cordéis terça, 22 de outubro de 2024

CUBANOS (CRÔNICA DO COLUNISTA MARCOS MAIRTON)

CUBANOS

Marcos Mairto 

Em janeiro de 2023, eu e Natália caminhávamos pelo calçadão de Copacabana, quando resolvemos tomar água de coco em um dos muitos quiosques que há ali. Fomos atendidos por uma jovem que falava espanhol, o que também é comum na praia mais famosa do Brasil (quiçá do mundo).

Acostumado a encontrar argentinos trabalhando ali, estranhei o sotaque da moça e resolvi perguntar em qual país ela havia nascido:

– Cuba – respondeu prontamente a jovem.

Desde que passei a estudar espanhol, alguns anos antes, eu ainda não havia falado com alguém nascido em Cuba. Fiquei curioso. Depois de conversarmos um pouco sobre o Rio de Janeiro, tentei ampliar o tema da conversa e falei do meu interesse pela música cubana. Disse que gostava de ver vídeos de grupos musicais cubanos no YouTube. Arrematei falando da minha admiração pelas canções de Pablo Milanés e Silvio Rodriguez.

– Dois filhos da puta escrotos! – foi a resposta dela, com a voz ríspida e a fisionomia irritada.

Fiquei surpreso com a reação da moça. Não esperava aquela atitude diante da citação dos dois grandes artistas da ilha. O fato é que, após um final brusco da conversa, acabamos de beber nossa água de côco e fomos embora.

Mais de um ano depois, em viagem a Miami, eu e Natália pegamos um Uber do aeroporto para o hotel, em Miami Beach. O motorista era um cubano chamado Andrés.

Chegamos pelo aeroporto de Fort Lauderdale, que fica mais distante da cidade que o aeroporto de Miami propriamente dito. O percurso até o hotel durou quase um hora, tempo suficiente para uma boa conversa com o simpático Andrés.

Ao perceber sermos brasileiros, logo comentou que o pai, médico, havia participado do programa Mais Médicos, à época do governo Dilma. Criticou o programa, dizendo que o regime cubano ficava com quase todo o dinheiro pago pelo governo brasileiro, mas admitiu que, ainda assim, o pai ganhava melhor no Brasil que em Cuba.

Dessa vez fui mais cauteloso ao perguntar sobre artistas cubanos. Seguro de que já poderia entrar no assunto, comentei o episódio ocorrido em Copacabana e perguntei o que ele achava que tinha havido:

– Há muito ressentimento por pessoas que colaboraram para o comunismo em Cuba – foi a resposta. – O senhor realmente está falando de dois grandes artistas, mas foram apoiadores do comunismo desde o começo. Não dá pra perdoar essas pessoas. Deve ter sido por isso que a moça ficou chateada com o senhor.

A partir daí, eu e Natália praticamente não falamos mais, nos limitando a ouvir o que Andrés nos contava sobre sua vida. Disse que havia chegado a Miami aos treze anos de idade, em um barco lotado de pessoas que tentavam escapar da ditadura cubana (a palavra que ele usou foi essa: ditadura). Que seu avô vivia muito bem na ilha, antes do comunismo (a palavra que ele usou foi essa: comunismo), mas perdeu tudo na revolução, inclusive a vida, assassinado. Que, apesar de o pai ser médico, a família levava uma vida miserável, sem condições sequer de se alimentar adequadamente. Quando teve a oportunidade de fugir para Miami, não pensou duas vezes (o verbo que ele usou foi esse: fugir). Em Miami, estava casado, tinha duas filhas e vivia com certo conforto.

Para mim, estava mais que explicada a reação da jovem cubana, em Copacabana, um ano antes. Ela provavelmente teria uma história parecida. Talvez ainda tivesse parentes em Cuba, enfrentando sabe-se lá que tipo de dificuldades. Nunca saberemos.

No curto período que permanecemos em Miami, eu e Natália conhecemos ainda dois ou três cubanos, e ouvimos outras histórias de gente que se aventurou no mar para buscar um recomeço de vida, cheio de esperança, nos Estados Unidos. E estavam satisfeitos com a mudança.

Agora, continuo gostando das canções de Pablo Milanês e Silvio Rodriguez, mas, quando as ouço, lembro das histórias desses cubanos que tive oportunidade de conhecer. Admito que isso me dá um pouco de tristeza.

Encerro com a declaração de amor do próprio Pablo Milanês por Cuba, em show realizado em 2019. O artista viria a falecer em 22 de novembro de 2022, na cidade de Madri, Espanha.

 


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