Ainda hoje, quando o vento começa a lufar anunciando que vem chuva, tenho a sensação que o mundo está comunicando o seu fim. Morro de medo dos exageros da natureza. Astrofobia é o seu nome científico, hoje tratada com terapia cognitivo-comportamental. No tempo de minha vó Mariquinha isso não existia e a pobrezinha se pelava de medo quando começava esse tirenête no céu do Araripe. Cobria tudo que era espelho com os lençóis da casa. Só não digo que o medo da pobrezinha ia além do trimilique em respeito a ela, que hoje mora pertinho de Nosso Senhor, nas alturas celestiais. Meu avô, poeta tamanho ‘imenso’ e professor de latim e português dos futuros padres do seminário do Crato, ria da situação e tentava explicar: – Calma, Mariquinha, essa zoada são apenas as nuvens brincando de empurra-empurra entre elas. Não adiantava. Eu também não sou muito chegado a essa história de relampejo e trovoada. Acho que tem algo de hereditário nisso. Não chego a ‘molhar a fralda’ mas me agarro com Padim Ciço e tudo que é santo protetor ao primeiro pingo que cai. Aí lembro da oração que ela rezava ante a primeira ameaça de um chuvisco, uma neblina, pingos poucos que fossem: abria a janela e falava 3 vezes: “Santa Bárba, São Girome, tabaqueiro véi Zé Gome “. Às vezes dava certo e voltava tudo à calmaria. Outras vezes, Bárba, Gerome e esse tal de Zé Gome, que nem sei de quem se trata, deviam estar ocupados com outras tarefas, talvez até menos nobres, e o trovão zoava no ar matando o povo de medo. Chuva é bom, mas sem a companhia de trovões e relâmpagos seria melhor.
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