CRISTINA AMARAL, A RUMBEIRA DO CIRCO
Raimundo Floriano
Detalhe da capa do DVD
Chegou o período junino, e eu me valho do ensejo para comentar, com grande atraso, mas com satisfação, o DVD Cristina Amaral - A Vida É Um Circo, lançado em setembro de 2010, na Passa Disco, cujo dono, nosso amigo Fábio Cabral, me enviou de presente um exemplar.
De cara, o espetáculo me levou a minha juventude, no Circo Cometa do Norte, em Teresina (PI), onde o escada Socó – este que vos fala –, e o palhaço Jatobá, de quem eu era ajudante, faziam suas patuscadas, gaiatices e presepadas, com piadas, cançonetas, paródias, charadas e gestos picantes em torno da esfuziante Rumbeira. Para quem não sabe, Rumbeira, em qualquer circo de antigamente, era aquela gostosona que, com requebros eróticos, maliciosos e enfeitiçantes, dançava ao ritmo de baiões, sambas, mambos, maxixes e até rumbas.
Como prefácio deste seu trabalho, Cristina Amaral assim se expressa:
“Respeitável Público! ‘Eu queria mesmo era ser artista’. Assim dizia o Mestre Luiz Gonzaga que, na infância, tive o prazer de vê-lo cantar em um circo na minha cidade: Sertânia/Pernambuco. O Circo me trouxe esse sonho: trazer sorrisos, o palhaço; representar, o teatro; cantar, o show; ser ‘rumbeira’, a dançarina; fazer malabarismo, a vida. O meu desejo era estar nos grandes picadeiros. Hoje, divido o picadeiro do meu circo com todos vocês. A vida é um circo e todos nós somos palhaços. (a) Cristina Amaral.”
Ao colocarem o disco em seus equipamentos e acionarem a tecla play, vocês se depararão com um majestoso e riquíssimo picadeiro, repleto de músicos, dançarinos, vocalistas e imenso elenco de coadjuvantes a secundarem a artista principal, a atração maior do espetáculo, nada menos que Cristina Amaral, a Rumbeira que, com inexcedível talento, graça, beleza e simpatia, empenha toda sua arte para extasiar o respeitabilíssimo público.
Cristina faz um competente passeio em torno dos ritmos que tanto curtimos: toada, xote, coco, embolada, baião, xaxado, rojão, rumba, e, para furar o chão do picadeiro, um quentíssimo arrasta-pé.
Os compositores dessas joias musicais estão dentre o que de melhor existe hoje no cenário nordestino: Petrúcio Amorim, Walmar, Bráulio de Castro, Flávio Leandro, Maciel Melo, Assisão, Nogueira, Pinto do Acordeom, Rogério Rangel, Marrom Brasileiro, Zeca Pinheiro, Xico Bizerra, Toinho Alves, Luiz Fidélis, Wilson Freire, César Amaral, Anchieta Dali, Carlos Fernando, Geraldo Azevedo, Nando Cordel, Dominguinhos, Djavan, Accioly Neto, João Silva e, reverenciando a Velha Guarda Forrozeira, os saudosos Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Cristina soube muito bem dosar seu espetáculo, convidando estrelas consagradas da constelação nordestina: Maciel Melo, Petrúcio Amorim, César Amaral, Geraldo Azevedo, Cezinha e uma trupe de moças e rapazes a enfeitaram e enriqueceram o picadeiro com suas vozes e coreografias. O clima é linear, no píncaro, no cume, do início ao fim. Mas há participações especiais que não me saem da lembrança.
Uma foi a de Elba Ramalho, minha Patrona na Academia Passa Disco da Música Nordestina. Cristina é um clone de Elba. E isso ela faz questão de demonstrar. Conheci-a quando de minha posse na Academia, e quase me confundi: o vestidinho brejeiro, bastos cabelos em penteado esvoaçante, as botinhas cano longo, tudo nela era Elba Ramalho, que a chamou ao palco, para consigo interagir no grande show daquela noite. Agora, neste DVD, Cristina é quem chama Elba ao picadeiro para cantarem Espumas ao Vento e O Chineleiro, demonstrando que é uma seguidora e também continuadora da Escola Elbiana. É tesão em dose dupla!
Outra foi a de Santana “O Cantador”, em Flor do Mamulengo. Santana pareceu-me estar na profissão errada. Devia ter enveredado pelo mundo circense, tal é a versatilidade com que se comporta no palco, fazendo um mamulengo perfeito. Não me canso de teclar replay, para rever a cena.
Em Mamãe, Quero Ser Rumbeira, Cristina se apresenta caracterizada da própria, exibindo uma lapa de par de coxas que a gente de antemão já imaginava e estava doida para conferir. Nesse quadro, relembrei meus tempos, no Circo Cometa do Norte, quando eu, escada Socó, e o Palhaço Jatobá, ao vermos a Rumbeira se desmontar no remelexo rebolativo, triscávamos – apenas triscávamos – em suas cadeiras, viravamo-nos para o galinheiro – arquibancada – e lambíamos os dedos. Quase que o circo vinha abaixo, de tanto aplauso e gritaria da patuleia!
Cristina Amaral é minha amiga no Fecebook. Naquela noite de minha posse, adquiri na Passa Disco seus CDs então disponíveis: Anjo Azul, Dois Rubis, Eu Sou o Forró e Pérola Nordestina.
Numa pequena amostra desse maravilhoso DVD, disponibilizo-lhes, de Petrúcio Amorim e Bráulio de Castro, o áudio do rojão Eu Sou o Forró.
E, também, este youtube, onde ela interpreta Mamãe, Eu Quero Ser Rumbeira, rojão de Wilson Freire e César Amaral: